terça-feira, 20 de outubro de 2015

Desafios e caminhos para a formação de professores no Brasil

Especialistas apontam que cursos de licenciatura ainda estão distantes da realidade em sala de aula

Um bom professor tem um papel fundamental na vida do seu aluno. A decisão sobre como devem ser formados os novos profissionais impacta no projeto educacional de qualquer nação. Com as mudanças constantes nas formas de aprender e ensinar, os cursos de licenciatura devem preparar os futuros professores para dialogarem com a nova realidade da sala de aula, atuando como mediadores e designers de aprendizagem.

Para estimular o debate sobre a preparação dos novos profissionais, o Porvir aproveita a celebração do Dia dos Professores (15) para lançar a série de reportagens Formação de Professores, que apresenta o cenário atual, desafios e caminhos para a formação inicial no país.

De acordo os dados do Censo da Educação Superior 2013 (último levantamento divulgado), existem 7.900 cursos de licenciatura na área de educação espalhados por todo país. Neste ano, mais de 200 mil alunos foram licenciados (56% pela modalidade presencial e 44% pelo ensino à distância). Porém, especialistas na área apontam que muitos cursos ainda estão bastante distantes da realidade da sala de aula.

Em 2010, ingressaram 392.185 alunos em cursos de licenciatura na área de educação. Após quatro anos, o número de concluintes chegou a 201.011. No ano de 2013, das 990.559 vagas que foram oferecidas, apenas 468.747 foram preenchidas (152.397 em instituições públicas e 316.350 em privadas). Segundo Valeska Maria Fortes de Oliveira, pesquisadora da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e coordenadora do grupo de trabalho de formação de professores da ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), a atração de profissionais para o ingresso na carreira docente é um dos primeiros entraves para a formação inicial no país.

A formação é um dos itens que, de acordo com a pesquisadora, integra a chamada condição docente, constituída por carreira, salário e condições de trabalho. “A forma com que se trata o professor é um dos primeiros problemas que hoje enfrentamos para atrair alguém para dar aula no Brasil”, diz Oliveira, ao analisar a necessidade de valorização da carreira.

O PNE (Plano Nacional de Educação) dedica quatro de suas 20 metas aos professores: prevê formação inicial, formação continuada, valorização do profissional e plano de carreira. Para que se tenha uma dimensão do trabalho que o país tem pela frente, entre os 2,2 milhões de docentes que atuam na educação básica do país, 24% não possuem a formação adequada, conforme dados do Censo Escolar 2014. “Se nós não cuidarmos dos professores da educação básica, estamos fadados a continuar tendo dados educacionais de baixo nível”, afirma a pesquisadora Bernardete Gatti, vice-presidente da Fundação Carlos Chagas.

O cenário contrasta com a meta número 15 do PNE, que prevê que todos os professores da educação básica tenham formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área em que atuam. Para Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a formação inicial no país ainda é muito frágil. “Ela é insuficiente em relação às demandas das próprias leis brasileiras”, afirma. Cara explica que para se aproximar das metas é preciso começar a tratar o plano como prioridade.

Dentro das medidas adotadas no primeiro ano de vigência do PNE, em julho de 2015, foram divulgadas as novas diretrizes para a formação de professores, elaboradas pelo CNE (Conselho Nacional de Educação). O documento aumenta o tempo mínimo de formação para os cursos de licenciatura, que passam de 2.800 para 3.200 horas. Além disso, os cursos deverão contar com mais atividades práticas, aproximando os futuros professores do cotidiano da escola.

Aproximação entre teoria e prática

As novas diretrizes tentam lidar com um dos principais gargalos da formação de professores no país: a articulação entre teoria e prática. Segundo Paula Weiszflog, coordenadora geral de pós-graduação e extensão do Instituto Singularidades, de São Paulo, muitos profissionais saem da universidade com o domínio do conteúdo, mas com pouca base didática. “Ele [professor] chega na sala de aula totalmente despreparado porque não sabe como passar aquele conteúdo que viu”.

Para Miguel Thompson, diretor da mesma instituição, a experiência de alunos na universidade ainda está muito concentrada no lado acadêmico. “Elaborar um paper se tornou mais importante do que fazer um plano de aula. Essa questão tem que ser debatida”, ressalta, ao mencionar que algumas licenciaturas estão formando biólogos, físicos e matemáticos, mas não professores de biologia, física e matemática.

Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, avalia que a situação requer medidas que vão além de ajustes. “Nosso grande problema é fazer uma espécie de revolução na formação de professores”. Segundo a pesquisadora, as licenciaturas não estão estruturadas para formar um professor. “Elas não formam bem nem no conhecimento específico e nem nas didáticas e práticas de ensino necessárias para uma atuação nas escolas. “

Além das questões envolvendo o ambiente universitário, a falta de diálogo com a realidade da escola é outro fator apontado como fonte de dificuldades para os professores recém-formados que ingressam nas redes de ensino. Jorge Carvalho, secretário de Educação do Estado de Sergipe e coordenador do eixo prioritário Planos de Carreiras no Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), diz que durante esse processo habilidades necessárias para a prática docente acabam ficando de lado. “As universidades, de modo geral, estão oferecendo licenciaturas que muito se assemelham a um bacharelado. Elas estão muito preocupadas em formar pesquisadores.” Segundo ele, a sociedade deve fazer um pacto sobre o tipo de professor que se quer formar.

Anna Helena Altenfelder, superintendente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), defende que a formação inicial deve preparar um professor para ser capaz de ler a realidade do seu aluno, ter empatia com a comunidade e, além de dominar os conteúdos, saber como ensinar. No entanto, ela pondera: “Não adianta reformular os currículos dos cursos de pedagogia ou licenciaturas, se a própria postura e concepção dos professores formadores dentro das universidades não mudar.”

Novas metodologias, uso de tecnologia e avaliação

Assim como se fala sobre o uso de novas metodologias na educação básica, as instituições formadoras devem transformar a sua forma de ensinar. “Há uma pedagogia dentro da universidade que precisa ser refeita e aberta. Há formadores fechados, achando que ainda cabe ensinar dentro do modelo que aprenderam”, destaca a pesquisadora Valeska Maria Fortes de Oliveira, da ANPEd, ao mencionar que, para criar referências para o futuro professor, é importante usar a homologia dos processos, ou seja, aplicar na sua formação as mesmas práticas pedagógicas que deverão utilizar com seus alunos.

“O mundo avança rapidamente, e as crianças já nascem com acesso à tecnologia. Essa criança certamente vai exigir uma participação muito maior na sala de aula”, diz Rodolfo Joaquim Pinto da Luz, secretário municipal de Educação de Florianópolis (SC) e membro da diretoria nacional da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação). De acordo com ele, é preciso preparar os futuros professores para atuarem em um novo contexto, onde possam ser mediadores, saibam promover a inclusão de todos os alunos e estejam constantemente atualizados de acordo com uma didática alinhada ao século 21, incluindo até noções de neurociência para compreender como seus alunos aprendem.

Dentro do desafio de preparar os novos professores, a formação também deve incorporar a tecnologia e as novas linguagens. “O professor tem que estar preparado para utilizar, no seu dia a dia, todos os equipamentos que podem oferecer uma aprendizagem diferenciada para os alunos”, defende o dirigente. Mas, diante de todas essas competências e habilidades desejáveis, como saber se os professores formados estão aptos para lidar com a realidade da sala de aula?

Avaliar os professores que estão sendo formados também é um desafio para o país. De acordo com os especialistas na área, a grande questão é criar métricas que não sejam punitivas, mas consigam dar conta de avaliar os novos profissionais e oferecer suporte para o desenvolvimento da sua prática. “A responsabilidade de formar jovens é grande. A nação tem que assumir isso”, destaca Miguel Thompson, do Instituto Singularidades.

O que explica a falta de professores nas escolas brasileiras?

O problema da falta de professores, em especial nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio é tema recorrente na mídia e na pauta dos gestores públicos que planejam e executam as políticas educacionais. Afinal, para qualquer rede de ensino que olhemos, logo constatamos a ausência de professores habilitados. A questão que fica é: faltam professores formados (licenciados) em número suficiente, ou aqueles habilitados buscam outras atividades remuneradas em função da pequena atratividade da profissão?

Não faltam licenciados formados no Brasil para atender a demanda de professores. Para isso estimamos a demanda de professores nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, considerando a carga horária legal, as matrículas e a média de alunos por turma. Do ponto de vista da oferta, consideramos o total de licenciados que concluíram seus cursos de 1990 a 2010. Considerando que o tempo de aposentadoria para uma professora é de 25 anos e de um professor, 30 anos, consideramos que a estimativa de um intervalo de 20 anos, mostra o potencial disponível. Os dados são apresentados na tabela.

Os dados da tabela indicam apenas três áreas em que, aparentemente, há falta de potenciais professores: língua estrangeira, ciências, física. Diz-se aparentemente, pois no caso de línguas estrangeiras, cuja formação exigida é Licenciatura em Letras, área em que há um grande excedente de licenciados, o problema pode decorrer mais da forma como os dados estão sendo contabilizados, até porque o mais comum é o licenciado em Letras sair com habilitação em português e uma língua estrangeira.

No caso de Ciências, objetivamente não há falta, pois os licenciados em biologia (área com grande excedente de licenciados), assim como aqueles licenciados em química e em física podem lecionar esta disciplina. Historicamente, inclusive, a licenciatura em ciências era considerada uma licenciatura de qualidade inferior, o que pode estar mudando atualmente. Também historicamente, os licenciados em biologia, pelo seu maior número, representam a maioria dos professores de ciências. Resta então ainda o gargalo da física, que já melhorou, mas ainda está longe da quantidade ideal de concluintes.

Ora, o que os dados indicados apontam é que, longe do que se imagina, não há no Brasil, um problema generalizado de falta de professores formados aptos a lecionar em suas áreas de formação. O problema persiste apenas em Física. Contudo, quando olhamos a oferta de vagas em licenciatura, constatamos que só a rede pública teria condições de atender a demanda de professores, se todas as vagas fossem preenchidas e se todos os ingressantes concluíssem seu curso.

Então, mais do que estimular a criação de novas licenciaturas, em especial na rede privada de ensino ou pela via da EAD, o que cabe ao governo fazer é estimular o preenchimento de todas as vagas da rede pública, o que pode ser feito através de bolsas de estudo com valores atraentes (associadas ao compromisso de futuro exercício do magistério) e zelar para que boa parte dos ingressantes conclua seu curso com sucesso. Agora, nada disso adiantará se não houver uma melhoria na remuneração dos professores.

O que o Brasil deve fazer para que todos os dias sejam o Dia do Professor?

Após andar 30 quilômetros debaixo de um sol escaldante – pois falta transporte público -, o professor chega em sua escola, pronto para inspirar seus jovens estudantes com seu conhecimento e vontade de ensinar. A sala de aula carece de estrutura básica e seu salário mal dá para encher a barriga, mas ele não se deixa desanimar: ele faz o que faz por amor, não por dinheiro.

Todo ano, no dia 15 de outubro, chovem histórias mais ou menos como essa nos meios de comunicação, na internet e nas redes sociais. De fato, a história da educação no Brasil é marcada por exemplos de superação, carinho e esforço de educadores que amam seu ofício e escolhem a dura batalha do ensino público como destino, apesar das agruras e da desvalorização crônica da profissão.

Mas será que não é possível pensar em um país que garanta condições necessárias para que exemplos como esse sejam antes uma exceção do que uma regra?

Com isso em mente, as equipes de reportagem do Portal Aprendiz, do Centro de Referências em Educação Integral e do Promenino elencaram quinze passos que nossa nação tem que dar para se aproximar da propagandeada e escanteada Pátria Educadora. Quinze lições de casa que um país tem que cumprir para garantir que todo dia seja dia do professor e para que toda cidade seja uma escola.

Garantia de direitos fundamentais para seus estudantes, formação continuada, condições para inovar, participação da família e o direito à reivindicar tudo isso foram alguns dos pontos abordados. Confira a opinião dos entrevistados:

1. Valorização docente

“É preciso consagrar a Lei do Piso em território nacional, em um esforço de universalizá-la e promover avanços em relação ao seu valor, de forma que a carreira do professor se torne atrativa. Além disso, é preciso estabelecer uma Base Nacional de Carreira, com critérios que determinem o avanço do docente em sua atividade. Isso é fundamental para que o piso não vire teto, ou seja, as remunerações se regulem por esse valor.”

Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação

2. Formação inicial e continuada

“Na formação inicial, o desafio é que as universidades coloquem a educação básica no centro da formação. De modo geral, há pouco investimento no sentido de transformar a educação básica em objeto de estudo, pesquisa e trabalho da educação superior. O ponto principal é: não tem como formar bom professor sem transformar a educação básica no cerne da formação inicial. A formação continuada, ainda que apresente boas experiências, também dissemina cursinhos rápidos. A proposta legítima da formação continuada coloca a sala de aula no centro da discussão e diz de ir à escola, observá-la, entender seu entorno. Ou seja, não é um curso, é um processo de reflexão permanente sobre a prática. Sem isso, não há avanços.”

3. Rede de garantia de direitos fortalecida

“Preciso partir da premissa de que a escola precisa encarnar beleza, educação, ensino, compromisso e autonomia. Assim, ela pode ser, no seu cotidiano, um projeto de cidade, estado e nação. Nessa ação, aprende a construir integralidades e reconhece que as novas gerações perfazem redes de direitos, representações diretas das comunidades: professores, conselheiros tutelares, gestores, pessoas do apoio, família, grupos de comunicação. A cada um e cada uma, seus direitos e valores. Ao encarar a educação na história republicana do Brasil, não há como não desejar e querer que exijamos saber fazer melhor. Professar é preciso.”

Luiz Roberto Alves, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE)

4. Acesso à cultura

“Em muitas formações de professores das quais participei, como professora e como formadora, as palestras e debates eram intercalados com apresentações artísticas e culturais e isso era extremamente rico. Somos sujeitos culturais e por isso é fundamental entendermos que educação é cultura: é por meio dela que construímos nossa identidade. Então, é essencial que nosso país seja capaz de garantir na formação de professores e em seu exercício profissional continuado, oportunidades de acesso e usufruto de diferentes manifestações culturais, populares e eruditas e de conhecer as culturas dos territórios e realidades das quais faz parte. Claro que isso vale para toda a população, mas o professor é um agente formador e multiplicador e se torna um segmento social prioritário em políticas que garantam acesso à livros, meia-entrada ou entrada franca em museus, exposições e apresentações artísticas. É importante também não esquecer que, além de consumidor, o professor é sujeito fazedor de cultura, e isso pode e deve ser valorizado na sua formação. Enfim, é preciso construir políticas que coloquem a formação cultural no centro da formação docente.”

Madalena Godoy, professora de Física e pesquisadora e formadora em Educação Integral no Centro de Referências em Educação Integral.

5. Condições para criar e inovar na sala de aula

“É fundamental olharmos para o professor não como um reprodutor de práticas e de ferramentas pré-estabelecidas, mas como um co-autor que, ao compreender as necessidades dos seus alunos, propõe estratégias que fazem sentido. E, para que ele desenvolva essa capacidade, algumas condições são essenciais: tempo – não apenas para planejar, mas para executar. Se ele tiver muito conteúdo para despejar sobre os alunos, isso não será possível. A segunda são referências, pois mesmo as pessoas mais geniais não criam do nada. Ele precisa de subsídios formativos para ampliar seu repertório e dar um passo além. Condições básicas de infraestrutura, como bons equipamentos, materiais de qualidade, acesso à internet, ambiente flexível, são importantes também. Outro ponto são colaboradores. Além de ser muito mais interessante, criar junto permite que os desafios que ele vive na escola gerem processos de solução envolvendo coordenadores, gestores, pais, ONGs… Este espaço aberto é favorável à inovação. Por fim, o respaldo de políticas públicas para que a inovação seja encorajada na rede de ensino. Isso dá outra nobreza a profissão. É preciso pressupor que o professor é capaz de muito mais do que hoje ele é levado a fazer.”

6. Tempo de planejamento e importância da coordenação pedagógica

“Para falar de coordenação pedagógica é preciso pensar antes que a escola é uma organização e, portanto, um coletivo. E nada substitui isso. Nessa perspectiva, o coordenador é articulador e formador. Ele colabora tanto com a integração como na análise e reflexão da prática do professor. Entra aí, também, a questão de pensar o tempo de planejamento. Se você pensar bem, ninguém se forma sozinho. Nem o aluno, nem o professor. E quem colabora para a formação deste sujeito? Aquele que revisa e revê com ele as suas práticas. Diz respeito a este ciclo eterno de formação e aprendizagem, próprio da condição humana.”

Cybele Amado, presidente do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep)

7. Gestão democrática: professor pode e deve participar da gestão da escola

“Sou entusiasta da gestão democrática porque a participação da comunidade é fundamental para o bom andamento das unidades escolares e fundamental para a qualidade da educação. A participação fortalece e envolve toda os agentes da escola no processo pedagógico e professor tem um papel fundamental nisso. Precisamos fortalecer a gestão democrática, mas ela precisa vir com mecanismos de acompanhamento porque não estamos aprendemos a andar agora e é preciso ajudar a orientar os caminho da escolas.”

Rowenna Brito, coordenadora de Educação Integral da Secretaria de Educação da Bahia

8. Saúde do professor / mediação de conflitos

“A questão dos conflitos, violência e indisciplina em sala de aula é uma das causas de stress e afastamento dos professores quanto à carreira. Não temos nenhum tipo de politica pública dentro dessa área que forme o professor para lidar com esses problemas de convivência. É preciso que o docente se sinta mais apto e seguro para lidar com esse tipo de situação. Iniciativas nessa área são isoladas, e não institucionais e, por isso, têm pouca duração. A tendência da educação não é discutir a violência em si, mas sim buscar o bem estar da escola que, no Brasil, atua muito como “bombeiro”. Quando as soluções passam a ser coletivas e preventivas, professores se sentem mais amparados e seguros. Quanto melhor o clima escolar, mais o professor permanece, se sente bem e se envolve com os alunos.”

9. Condições para que o território seja usado pelo docente como insumo educativo

“A atual geração não tem bons resultados no modelo tradicional de aula. Cada vez mais exige-se que os professores sejam capazes de garantir protagonismo e engajamento dos alunos. O território é uma possibilidade objetiva de mediação desse processo, na medida em que o professor pode, com seus alunos, discutir a história que vem dali, quem circula, o que acontece, que saberes têm ali. O território é cada vez mais um objeto dessa estratégia de mediação do professor para que ele construa o conhecimento junto ao estudante e, de quebra, consegue envolver a família, a comunidade, os saberes locais, trazendo para dentro do processo educativo todo o repertório daquelas crianças. O entorno imediato das escolas é um espaço vivo que pode ser apropriado no planejamento das estratégias cotidianas. Isso faz parte de um novo processo de aprendizagem, mais colaborativo, participativo e horizontal.”

Maria Antonia Goulart, coordenadora do MAIS (Movimento de Ação e Inovação Social)

10. Liberdade da cátedra dentro da sala de aula

“A Constituição Federal de 1988 (art. 206) definiu, sabiamente, como princípios do ensino brasileiro, dentre outros: (…) “a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”, bem como “o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”. E por que esta definição é importante? Porque ela traduz o dever e a responsabilidade da professora ministrar suas aulas a partir de suas convicções pedagógicas e da sua visão de mundo. E estas convicções se expressam a todo o momento: a indicação da leitura de um livro ou artigo, a apreciação de uma obra de arte, a discussão dos valores democráticos desenvolvidos nas suas aulas, o respeito aos direitos humanos que o cotidiano escolar expressa e exige.”

Lisete Arelaro, professora da Faculdade de Educação da USP e presidente da Fineduca

11. Formação tecnológica

“A maioria dos professores brasileiros já é a favor do uso de tecnologia na educação, mas aponta que é preciso ter formação para a sua aplicação em sala de aula. O uso das tecnologias como ferramentas de ensino aproxima a escola da realidade digital já vivida pelo aluno, despertando seu interesse e ampliando suas possibilidades de expressão. Facilita também a organização de tempo do professor em sala de aula, possibilitando sua atuação como orientador na formação dos alunos e a entrega de conteúdos personalizados. Para que as crianças e jovens brasileiros tenham oportunidade de usufruir de todas as possibilidades que o mundo de hoje oferece, a ?in?ternet é fundamental. Em diferentes países já existem políticas para levar conexão de alta velocidade para escolas, alunos e professores?,? e o acesso à rede já se tornou parte integrante do direito à Educação.”

Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann que, em parceria com o Instituto Inspirare, a Rede Nossas Cidades e o Instituto de Tecnologia & Sociedade (ITS), realiza a Internet na Escola

12. Famílias: políticas que garantam que as famílias se corresponsabilizem e participem

“Em uma comparação com o dia de outro profissional, como o jogador de futebol, que precisa fazer o gol, o professor precisa de mais ações de aprendizagem, em todos os sentidos. Isso inclui a participação das famílias, que vai desde o dar as mãos para a criança até a escola, se interessar pelas tarefas, apoiar a organização do material, até o resgate da sua própria aprendizagem neste ritual. É o aprender para a vida. E de que forma a comunidade pode fortalecer isso? Criando espaços públicos de participação, como a biblioteca, para contribuir com esse acompanhamento da aprendizagem. Podemos falar sobre outros espaços, mas a leitura chama todo mundo. Ler com as crianças, para as crianças, é algo que volta para a escola. Aí o movimento se cumpre.”

Marília Novaes, coordenadora pedagógica e formadora da Comunidade Educativa – Cedac

13. Avaliação docente

“Vários planos de carreira têm colocada a questão da progressão funcional do professor mediante mérito. Algumas redes de ensino acabam avaliando o docente a partir de resultados obtidos nas avaliações de larga escala, ou seja, estipulam benefícios de acordo com o rendimento de seus alunos. Esse caminho, além de equivocado é perverso. Vários estudos e pesquisas comprovam que há outras variantes que interferem no desempenho dos alunos e é muito difícil isolar uma delas. Precisamos compreender que em relação a avaliação e também ao processo pedagógico como um todo, o professor precisa de domínio e autonomia, mas não aquela autocentrada em que a avaliação dele sobre o desempenho basta. Acredito numa avaliação mediada pelo coletivo da escola, até porque ela não é peça descolada de um jogo e deve vir articulada ao projeto pedagógico da instituição, em que se questione: onde quero chegar com esses alunos? O que eu desejo para essa comunidade? Acho que a democratização dos processos de aprendizagem passa por aí também, de rever os processos de avaliação e, portanto, de acompanhamento dos alunos, visando uma educação de qualidade.”

Solange Feitoza Reis, integrante do Núcleo de Educação Integral do Cenpec

14. Priorização da agenda do professorado nas políticas públicas

“É fundamental, quando se fala numa Pátria Educadora, em democracia, em construção coletiva, que os professores sejam protagonistas das políticas educacionais. São eles que estão próximos do aluno, conhecendo suas demandas e particularidades. Os docentes são seres políticos e devem ser considerados como tal. Para isso, temos que propor uma escuta efetiva, afinal, ele conhece o chão da sala muito mais que um político ou um intelectual e sabe o quanto é necessária a valorização de sua posição e o aprimoramento da sua formação, para estar cada dia mais de acordo com a realidade das escolas, dos estudantes e dos territórios.”

Neuza Macedo, assessora de Relações Institucionais do Gabinete da Secretaria de Educação de Minas Gerais

15. Direito a reivindicar seus direitos

“A repressão que vimos contra os professores paranaenses no Centro Civíco, em 29 de abril deste ano, mostra exatamente o lugar que a educação pública ocupa na mente dos nossos governantes. A educação é um direito público fundamental, objeto de propaganda estatal mas no primeiro sinal de crise, suas verbas são cortadas e ai de quem ousar falar qualquer coisa contra. Os professores têm o dever de se manifestar para evitar que as conquistas sejam perdidas e tentar avançar na valorização docente e na qualidade dos professores, seja na esfera municipal, estadual ou federal. E os governos têm o dever de nos respeitar.”

Hermes Silva Leão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), entidade que esteve à frente da greve de 44 dias dos professores paranaenses neste ano. A mobilização, que recebeu apoio de 90% da população do estado, ganhou destaque nacional pela forte repressão sofrida em 29 de abril, quando 213 professores ficaram feridos ao protestarem por seus direitos.


Fonte: Portal Porvir
http://www.todospelaeducacao.org.br
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Livro didático digital ainda não chegou aos estudantes

Estudo Aprendizagem Móvel no Brasil aponta que, para implementar o uso das tecnologias no ensino, é preciso desenvolver questões institucionais

Apesar de estarmos vivendo num mundo cada vez mais digital, onde as crianças e adolescentes dominam as novidades tecnológicas com muita rapidez, os avanços no campo pedagógico ainda são pequenos no Brasil. A maioria das editoras de livros didáticos já oferece o conteúdo em formato digital e os recursos pedagógicos são muitos, mas a adoção deles pelas escolas ainda está lenta.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), Antonio Luiz Rios da Silva, não há estatísticas sobre o mercado de livro didático digital, mas ele garante que praticamente todas as editoras do país já têm iniciativas nesse sentido. “Não são todas as coleções que têm, mas boa parte delas já conta com a possibilidade do aluno e da escola trabalharem com livro digital, que na realidade é uma reprodução do livro impresso, com algum enriquecimento, como vídeos, infográficos, jogos, links”.

O livro digital pode ser acessado de diversas formas: em dispositivos móveis (tablets e smartphones) e pelo computador ou lousa eletrônica. Além do formato PDF, que é uma cópia estática digital do livro impresso, há opções LED (Livro Educacional Digital), que são versões enriquecidas com recursos interativos; iBook, que incorpora vídeos, áudios e ampliação de imagens, específica para iPads, da Apple; aplicativos, mais usados para literatura infantojuvenil, que acompanham animações, narração, interatividade e música; e o formato ePub, que se adapta a qualquer tamanho de tela.

De acordo com Rios, o país está no começo da transição e que as escolas têm adotado o modelo híbrido, em que o aluno compra o livro impresso e ganha o acesso ao conteúdo digital. Segundo ele, poucos colégios abandonaram o papel. “Se tiver no Brasil inteiro cinco escolas que fizeram isso é muito. Nas conversas com diretores de colégio, a gente percebe que esse processo tem que ser gradual, não só com relação ao aluno, que se adapta mais rapidamente, mas principalmente por conta do professor”.

O estudo Aprendizagem Móvel no Brasil, publicado em agosto pelo Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Colúmbia, aponta que o uso de tecnologia guiada em sala de aula pode melhorar o rendimento acadêmico dos estudantes, superando ações como a formação de professores em geral e a redução do tamanho da classe.

Mas, segundo uma das autoras do estudo, Fernanda Rosa, as políticas implementadas atualmente na área pública não têm alcançado esse objetivo. “Para avançarmos em nossa capacidade de levantar o impacto das tecnologias na aprendizagem no Brasil, o primeiro passo é ter as ferramentas digitais disponíveis, com condições de uso e conectividade, e com professores capazes de utilizá-las - realidade ainda restrita a poucas escolas”.

Para Fernanda, não se alcança esse estágio sem o envolvimento das secretarias de Educação com um planejamento de médio e longo prazo com ações simultâneas nos três pilares: infraestrutura, conteúdo digital e formação de professores.

Tradição e inovação

A pesquisa de Fernanda Rosa mostra que existem boas experiências em todas as regiões do país. Uma delas é o Colégio Pedro II, uma das mais tradicionais instituições públicas de ensino básico do Brasil, fundado em 1837, que distribuiu este ano tablets para os alunos do primeiro ano do ensino médio. O material, comprado com verba destinada por emenda parlamentar, foi fornecido pelo Ministério da Educação.

De acordo com a chefe da Seção de Projetos Educacionais do Pedro II, Mônica Pinto, todos os departamentos do colégio e professores de todas as disciplinas estão envolvidos com a novidade. “A gente tem projetos em todas as áreas que você possa imaginar, inclusive projetos integrando várias disciplinas, e cada departamento vem usando um conjunto de objetos e de softwares enorme. Muitas vezes, inclusive, desenvolvendo projetos especiais com alunos com dificuldade de aprendizagem, para o ensino regular, para alunos de inclusão e até mesmo para alunos de altas habilidades”, disse.

Ela explica que o uso dos tablets não tem foco nos livros. Foi criado um blog de suporte aos professores com todos os objetos educacionais digitais disponíveis e os docentes estão passando por capacitação para usar a tecnologia. “Tem uma listagem de todos os objetos de aprendizagem, aplicativos, livros digitais que são recomendados e as diretrizes da Unesco para aprendizagem móvel.”

Segundo Mônica, o Departamento de Ciências da Computação fez uma série de pesquisas e agora está começando a planejar uma série de oficinas que está sendo oferecida aos professores em todos os campis do colégio, para estimular ainda mais trabalho.

No ano passado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou no Brasil as Diretrizes de Políticas para a Aprendizagem Móvel. Entre os benefícios, a Unesco cita a ampliação do alcance, individualização e continuidade da aprendizagem, além da otimização do tempo em sala de aula e retorno do resultado imediato. Como recomendações, estão a melhoria da conexão à internet, o acesso igualitário aos dispositivos e a capacitação de professores e estudantes.

Para que o projeto no Pedro II tenha continuidade, de acordo com Mônica, é necessário que o colégio tenha recursos para adquirir equipamentos, além da efetivação da infraestrutura de internet que ainda não está completa no país. “É essa questão do acesso de banda larga para todas as escolas, a gente só vai conseguir fazer essa migração quando conseguir resolver questões estruturais. Por ser um colégio federal, a gente está na mesma situação das outras escolas públicas brasileiras”.

Compras do governo

Apesar de o governo federal ter anunciado no fim de 2013 que, em 2015, os alunos da rede pública do país teriam acesso a livros didáticos digitais, o material até agora não foi disponibilizado. Segundo o presidente da Abrelivros, Antonio Luiz Rios da Silva, no edital de 2014 foi colocado a compra dos objetos digitais e, para este ano, estava prevista a oferta do LED pelas editoras, mas o governo não concretizou a compra. “Nós estamos numa discussão com eles para que a compra seja feita. Mas agora, com a restrição orçamentária, a coisa ficou mais complicada. As editoras produziram os livros, mas até agora não tivemos a disponibilização para as escolas porque o governo não comprou”.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), foi procurado pela Agência Brasil, mas não se pronunciou. Segundo o Gerente de Tecnologia Educacional e Novos Projetos Grupo SM Brasil, André Monteiro, a editora forneceu, dentro do PNLD 2014, os chamados Objetos Educacionais Digitais.

“São DVDs com objetos digitais, como áudios, vídeos, jogos e animações com orientações de uso para os professores e para os alunos. Temos produtos aprovados no formato de livro digital com objetos educacionais digitais anexados ao livro para o PNLD 2015, mas até o presente momento sem aquisição e distribuição definida pelo MEC/FNDE”.

Tanto Monteiro quanto Rios afirmam que apenas alguns países estão investindo na transição para o material didático digital, como Coreia do Sul, Finlândia e Estados Unidos. E o Brasil está bem longe disso. “Temos muito o que avançar na infraestrutura das escolas, na formação dos professores e principalmente na universalização do ensino de qualidade. O mais importante é que devemos enxergar o uso da tecnologia como uma ferramenta para impulsionar a criatividade, a inovação e a mudança no ambiente da sala de aula, principalmente na relação entre o professor e seus alunos”, disse Monteiro.

Para Fernanda Rosa, o Brasil tem um alto índice de distribuição de tecnologias digitais nas escolas. Segundo ela, 84% das unidades públicas urbanas são equipadas com laboratórios de informática e mais de 400 mil tablets entregues a professores do ensino médio. Porém, de acordo com a pesquisadora, existe uma deficiência na infraestrutura que dificulta o uso com foco na aprendizagem.

“Uma pesquisa recente do Banco Mundial mostra que apenas 2% do tempo do professor brasileiro em sala de aula é utilizado com tecnologias. Outros países latino-americanos apresentam índices similares ou um pouco acima. E essa realidade dificilmente será alterada se não se pensar em políticas voltadas à aprendizagem, que se utilize dos benefícios da mobilidade que as tecnologias atuais disponibilizam”, disse.

Custo X peso

Estudantes aguardam com ansiedade o momento de trocar os livros pelo tablet. A estudante Luisa Lucas Antunes, de 14 anos, disse que no colégio particular onde estuda, na zona sul do Rio de Janeiro, ainda não adotou o livro digital, mas utiliza um aplicativo para fazer simulados. “Eu acho legal porque, pelo menos, tem um aplicativo que interage com os alunos, para preparar as provas de concurso e essas coisas. É um simulado, mas você também pode jogar, com perguntas de vários colégios”.

Para Luisa, além das possibilidades educacionais que a tecnologia oferece, o livro digital é uma oportunidade para se livrar do peso da mochila. “Eu nunca me interessei em ler livro digital, prefiro o de papel. Mas, para a escola, seria uma nova forma de ler, seria legal. O peso da mochila estraga as costas de todo mundo. Eu acho que todas as escolas já deveriam ter livro digital, em vez de continuar com as apostilas e cadernos”.

A digitalização pode significar uma redução do peso nas mochilas, mas pode aumentar o peso no orçamento dos pais, já que a produção de um livro didático é demorado e tem um custo alto, que aumenta quando se trata de autorizações para meio digital. Segundo o presidente da Abrelivros, o uso do livro digital na aprendizagem é um processo sem volta, mas ainda existem questões a resolver.

“Tem a redução do custo de impressão e do custo logístico de distribuição, mas, por outro lado. tem todo o incremento do custo de você transformar aquele arquivo, que era um PDF para impressão, para ele virar um livro digital, não é um custo desprezível”.

Autora de livros infantis e juvenis, Anna Cláudia Ramos não acredita que o livro digital de literatura vá substituir o impresso, já que são plataformas diferentes que atendem a públicos diversos. Porém, para o livro didático, ela, que também é professora, é mais enfática quanto às vantagens da tecnologia.

“Talvez, no futuro, os didáticos se tornem digitais. Já está se tornando, você clica no livro e já te joga para o país que você está estudando, imagina que máximo. Mas você pode conviver com as coisas todas. Tudo vai poder conviver junto e misturado. Eu acho que a grande questão é a gente não perder esse desejo de fazer livro ser uma coisa gostosa, não fazer algo para ser dever de casa, essa é a diferença”.

O estudo Aprendizagem Móvel no Brasil aponta que, para implementar o uso das tecnologias no ensino, é preciso desenvolver questões institucionais, como fortalecer o monitoramento das ações e avaliação nas secretarias de Educação, formação continuada e compartilhamento das ferramentas e experiências, além do desenvolvimento de parâmetros legais nacionais para subsidiar os avanços.
 
Fonte: Agência Brasil  
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Internet de fácil acesso para crianças faz mal ou bem? Pedagogos discutem

Segundo Pollyana Mustaro, a interação de aparelhos digitais na escola é possível e pode ser administrada respeitando o ritmo de aprendizado dos alunos

A discussão que envolve formas de inserir a tecnologia digital na educação de crianças tem sido uma preocupação frequente entre pedagogos e pais. Afinal, é bom ou ruim aproximar tão cedo a internet das crianças? E os riscos para a aprendizagem e também na exposição de informações para estranhos? O assunto foi tema da série especial "BrinquedoTec", da EPTV, afiliada da TV Globo, que mostra exemplos de situações enfrentadas por professores e pais. [Veja as entrevistas e reportagens nos vídeos ao longo do texto]

Limite x desenvolvimento
A questão do desenvolvimento das crianças, se a internet pode atrapalhar ou ajudar, precisa respeitar a idade e o momento de cada menino ou menina, segundo a pedagoga Alessandra Arce Hai.

"O limite da tecnologia é dado pelo próprio desenvolvimento da criança. Quanto menor a criança, mais inserida no mundo real ela deve estar. E mais distante do mundo tecnológico. Em que sentido? A criança pequena aprende muito mais interagindo, ponto a mão na massa mesmo, brincando, observando o mundo", defende a pedagoga. [Confira a entrevista completa dela no vídeo acima]

Para Alessandra, os aparelhos digitais não precisam ser evitados, mas saber dosar o tempo é fundamental.

"Tenho que dosar muito bem o tempo que ela vai ficar com esse material na mão. E também preciso, antes de ofertar para a criança, ver o que é esse material. Eu preciso brincar com esse material, ver se ele está adequado ou não, pensar se é legal ou não apresentar isso pro meu filho. Então, os pais precisam participar ativamente. Não basta só baixar o programinha porque está na moda e dar na mão do filho", esclarece.

Interação na escola
A interação de aparelhos digitais na escola é possível e pode ser administrada respeitando o ritmo de aprendizado dos alunos, segundo a pedagoga Pollyana Mustaro.

"A tecnologia faz com que a gente tenha a oportunidade de personalizar o processo de educação, bem como que cada criança não precise estar exatamente num nível muito semelhante, dado que ninguém é igual", diz. [Assista à entrevista dela completa no vídeo abaixo]

No entanto, segundo Pollyana, é preciso ter uma supervisão do uso da tecnologia, para que não sejam usadas como "babás eletrônicas", assim como acontece com a televisão. Além disso, é essencial ter cuidado para não dar aos filhos acesso a aplicativos para crianças maiores querendo deixar os filhos mais "inteligentes".

"Os pais imaginam que o aplicativo é para uma determinada faixa etária e eles querem que seu filho use antes pra ele ficar mais inteligente. Só que isso pode causar estresse na criança. A faixa etária muitas vezes é delimitada por uma questão cognitiva, do que aquela criança é capaz de fazer num determinado momento. Se nós forçamos, a criança vai ter estresse, baixa estima, vai achar que não é capaz de fazer determinadas coisas", alerta a pedagoga.

Mudança na metodologia de ensino
Para a diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido, é fundamental que os professores sejam preparados para conhecer os recursos disponíveis e fazer o melhor uso das tecnologias e equipamentos nas salas de aula.

"Por que a gente vai fugir do que é bom? A ideia é abraçar a tecnologia não como se fosse a salvação, não como se fosse o único recurso, mas como um poderoso instrumento tanto para fortalecer a atuação do professor (...), quanto para engajar mais o aluno", afirma. [Assista à entrevista dela no vídeo abaixo]

Anna acredita que os recursos digitais ainda estão sendo explorados e estudados para que uma forma ideal de implementação nas escolas seja definida.

"Não adianta simplesmente a gente substituir a lousa pela lousa digital, ou o livro pelo livro digital, e continuar oferecendo as mesmas metodologias de ensino para os alunos que não estão sendo atraentes, que não estão de fato fazendo com que eles aprendam", pontua a diretora.

Conheça a experiência de pais
Histórias de crianças e pais que passaram por experiências com os filhos e o uso da internet em casa e nas escolas podem ser conferidas nas reportagens da série especial. É só clicar nos vídeos abaixo.

Fonte: G1 
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Professores se sentem excluídos dos debates sobre a Educação brasileira

Segundo a pesquisa Conselho de Classe, 96% dos docentes disseram que nunca ou apenas algumas vezes se sentiram ouvidos pelo MEC

Ver os alunos aprendendo de verdade é o que mais motiva os professores do ensino básico brasileiro a continuarem na carreira do magistério, mas não serem ouvidos pelos gestores é um dos pontos mais os preocupam.

Esses foram alguns dos resultados da pesquisa Conselho de Classe, realizada pelo IBOPE Inteligência a pedido da Fundação Lemann, com o apoio do Instituto Paulo Montenegro, e que contou com a participação de 1 mil professores do ensino fundamental da rede pública.

O objetivo da pesquisa foi dar voz aos professores. A pesquisa mostrou a visão deles sobre a educação do país.

Mais de 60% dos professores entrevistados fizeram a graduação em alguma universidade particular. Apesar disso, a maioria deles estudou o ensino básico (ensino fundamental e médio) em escola pública. Além disso, poucos têm ou tinham pais com ensino superior completo.

A maioria dos entrevistados também disse que pretende continuar na mesma escola em que atua nos próximos cinco anos. Dos participantes, 9% disse que pretende permanecer como professor, mas em outra escola, e 5% que gostaria de assumir cargos de direção e administração escolar.

Os pesquisadores conversaram com alunos de escolas onde realizaram o estudo e descobriram uma coisa que todas elas tinham em comum: professores inspiradores que impactaram suas vidas. Assista abaixo ao vídeo dessa conversa com os alunos.

O que mais motiva o professor
A entrevista ainda procurou saber o que, nas condições por que passam hoje, motiva os professores a continuarem na carreira do magistério. Saber que está contribuindo para o aprendizado dos alunos foi a principal resposta dos entrevistados (72%). A maioria, por exemplo, disser ser totalmente a favor de que os currículos de todas as escolas do Brasil tenham uma base comum, e que saber o que é esperado do aluno a cada ano facilitaria seu trabalho.

A remuneração foi citada como motivador por 20% dos entrevistados. Vale ressaltar que o estudo quis identificar o que o motiva a continuar como professor e não o que é mais importante para o profissional. Além disso, mais de 70% dos professores afirmaram sentir que existe um descompasso financeiro frente a outros profissionais de nível superior, tanto do setor público quanto privado.

Como os professores se sentem
Mais da metade dos entrevistados disse que nem sempre tem voz no debate educacional. A sensação de ser ouvido vai piorando quanto mais distante o professor se sente de um órgão ou gestor, como o Ministério da Educação: 96% dos professores disseram que nunca ou apenas algumas vezes se sentiram ouvidos pelo MEC.

O estudo mostrou que, para os professores, caso a opinião deles fosse mais ouvida pelos gestores educacionais, questões como condições de trabalho e desempenho escolar dos alunos poderiam ser mais impactadas. Além disso, para eles, o tema mais importante para se discutir é o acompanhamento psicológico e a indisciplina dos alunos.

Temas preocupantes para os professores
A pesquisa identificou quatro grandes temas que mais preocupam os docentes. O primeiro é a questão da formação efetiva dos alunos. Para eles, essa luta é importante, pois assim é possível enfrentar a defasagem de aprendizado, por exemplo. A maioria também disse não ter certeza se o que ensina para os alunos é suficiente para que se desenvolvam pessoal e profissionalmente.

O segundo tema diz respeito à heterogeneidade das turmas. Dentro deste tema, um dos desafios é a falta de condições adequadas para a inclusão de alunos com deficiência. Já o terceiro tema trata sobre a relação com as família. Os professores disseram se sentir sobrecarregados com tarefas que deveriam ser assumidas pelos pais, por exemplo.

O último tema preocupante para os professores é a aplicabilidade das políticas educacionais. A maioria se sente excluído do processo de implementação de políticas públicas para a educação.
 
Fonte: Jornal Tribuna da Bahia (BA)  
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Redes sociais para estudar e aprender

Plataformas disponíveis na internet pode facilitar a vida de alunos e professores

Tem cara de Facebook, tem botão “curtir”, tem amigos. Mas não é Facebook. Plataformas gratuitas na internet integram estudantes e professores que têm como objetivo o estudo. A reportagem listou algumas destas redes sociais educacionais. E tem para todos os gostos. O ambiente virtual pode integrar uma turma presencial, servir como biblioteca acadêmica ou até como rede para encontrar desconhecidos que estudam o mesmo tema.Criada em 2012, a rede Passei Direto é um exemplo. Com base nas informações sobre cursos e universidades, o site sugere amigos por ordem de proximidade. Primeiro aparece quem estuda na mesma instituição de ensino. Depois, alunos de outras instituições, mas com interesses parecidos. A página principal é a “linha do tempo”, onde é possível ler os comentários e as perguntas feitas pelos colegas, bem como conferir arquivos e vídeos sugeridos. Um sistema de “hashtags” ajuda a encontrar mais informações sobre o mesmo assunto.

Além de fazer amigos, é possível integrar disciplinas on-line. Elas não precisam estar vinculadas a nenhuma instituição. É possível entrar na turma “Cálculo um”, por exemplo, com alunos de turmas de Cálculo de todo o país. Um dos fundadores da plataforma, o engenheiro de computação André Simões defende que o diferencial é não haver “distrações”. A ideia é segmentar. “Tem a rede social, que é o Facebook, a rede corporativa, que é o LinkedIN, e nós queremos ser vistos como a rede acadêmica”. Hoje o principal público da rede são estudantes de Direito e da área de Exatas.

Com formato similar – de amigos e linha do tempo -- o Academia.edu se especializou em compilar artigos acadêmicos. O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adriano Codato utiliza o site para publicar seus trabalhos, na área de Ciências Sociais. Ele especula que talvez este seja “o futuro dos periódicos científicos”, a autopublicação. Principalmente porque as “gigantes” do mercado editorial científico cobram assinaturas altíssimas, em que um único artigo pode custar US$ 45. Por outro lado, há uma grande desvantagem: “os periódicos não serem mais arbitrados por outros especialistas antes da publicação, mas depois”.

A vantagem da rede é ter um público mais homogêneo. Após publicar um artigo, o pesquisador pode abrir uma sessão de discussão sobre o seu texto, por 20 dias. Outros pesquisadores podem aderir, para ler ou comentar o debate. A desvantagem é ter um número relativamente reduzido de usuários. Por isso Codato acredita que diferentes redes podem dialogar entre si. Menos propício a debates acadêmicos, o Facebook pode ser uma ótima ferramenta de divulgação, justamente por conter um número maior de usuários.

Ferramenta permite debate com alunos
Há 15 anos na área de Educação à Distância (EaD), Maysa de Oliveira Brum Bueno presta consultoria na área de educação e tecnologia. Ela encontrou no Edmodo uma ferramenta ideal para criar um ambiente virtual de debate com seus alunos de graduação e em seus cursos de formação continuada.

A “cara de rede social” do site aproxima os alunos, que são ariscos às plataformas “via de mão única”, em que só os professores publicam conteúdo. Os grupos são fechados, só quem tem o código de entrada pode acessá-los. O que traz algumas vantagens, como a presença de alunos menores de 13 anos, que não podem criar perfis em outras redes sociais. No Edmodo é possível criar um perfil parental, em que pais e mães podem acompanhar o rendimento do aluno.

“A tendência hoje não é o ensino presencial nem a distância, é o híbrido”, que vê na rede social uma forma de complementar o que é trabalhado em sala de aula, sem uma coisa substituir a outra. O segredo, diz ela, é que não há um sistema perfeito. As redes sociais são uma opção, mas se a turma prefere grupo de email ou WhatsApp não tem problema.

O importante é usar a tecnologia para facilitar a vida. O que não significa que não dá trabalho. Montar um cronograma de postagens, revisão on-line, quizz sobre o conteúdo trabalhado em sala, tudo isso leva tempo. Da mesma forma que preparar uma aula de qualidade dá trabalho. O ambiente é virtual, mas o trabalho é real. (N.P)
 
 
Fonte: Gazeta do Povo (PR)  
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Projeto que fixa novo piso salarial de professor pode ser votado hoje

Para ajudar a financiar valor, texto determina que 5% da arrecadação das loterias seja destinada a custear a complementação de salário dos docentes

O projeto que aumenta o piso salarial dos Professores da rede pública para R$ 2.743,65 está entre as propostas que a Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) deve votar hoje. Para ajudar a financiar o novo piso, o PLS 114/2015 também determina que 5% da arrecadação das loterias seja destinada a custear a complementação de salário dos Professores. Hoje, o vencimento inicial dos profissionais do magistério público da Educação básica, com formação de nível médio modalidade normal, com jornada de 40 horas semanais, é de R$ 1.917,78.

O projeto de Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) recebeu voto favorável da relatora, Ângela Portela (PTRR), e ainda deve passar pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), em decisão terminativa. Se aprovado, irá diretamente para a Câmara. A CE pode analisar o PLS 138/2012, que institui o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos. O objetivo é aferir se existe equivalência na formação dos profissionais formados no exterior e no Brasil. A CE inaugurará três novos retratos na galeria de ex- -presidentes da comissão: de Roberto Requião (PMDB-PR), presidente entre 2011 e 2013, e dos ex-senadores Cyro Miranda (2013-2015) e Fátima Cleide (2009-2011).
 
Fonte: Jornal da Câmara (DF)
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Proteção à voz dos professores pode virar lei

Projeto quer definir ações de prevenção e recuperação vocal aos profissionais de educação

Lecionar para salas de aula que chegam a ter 50 alunos pode trazer problemas à voz dos educadores. Além de transmitir o conteúdo, a rotina de um professor inclui tentar falar mais alto que as conversas durante a aula e chamar a atenção dos dispersos. Para prevenir e tratar a voz dos profissionais de educação, foi aprovado na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados o projeto de lei (PL 2776/11) que cria a Política Nacional de Saúde Vocal.

O projeto tem como alvo os professores da educação básica ao ensino superior tanto da rede pública quanto da particular. Caso a lei seja aprovada, estes profissionais farão exames vocais e fonoaudiológicos e, caso apresentem problemas, terão acesso a programas de recuperação. No eixo da formação, o projeto também prevê que os cursos de licenciatura tenham disciplinas sobre saúde vocal, além de promover de oficinas sobre o tema.

Para ser aprovado pela Câmara, o texto ainda deve passar pelas comissões de Seguridade Social e Família, Constituição e Justiça e de Cidadania.
 
 
Fonte: Revista Educação 
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