quarta-feira, 8 de junho de 2016

O que querem os professores do Brasil? Nós fomos ouvi-los

Para profissionais, não basta melhorar a formação, é necessário dar boas condições de trabalho

Foto: Maria Dolores Zetkin
Turma de 7º ano, com 35 crianças entre 11 e 12 anos

O desafio é posto e amplamente conhecido: escolas deterioradas, falta de material, baixos salários, insegurança, famílias ausentes e salas superlotadas. Na linha de frente do sistema educacional, professores da rede pública básica de ensino enfrentam diariamente os problemas que, num círculo vicioso, dificultam que exerçam suas atividades adequadamente, perpetuando um cenário de desgaste dos profissionais.

Inúmeros levantamentos e pesquisas feitas por instituições educacionais, além de notícias e artigos de jornais, alertam para o tema. A solução, porém, parece distante quando o problema vai tão longe quanto a própria formação do profissional que está em sala de aula.

Um relatório publicado em maio pelo Todos pela Educação (TPE) - movimento de líderes empresariais e diversos setores da sociedade brasileira em prol do ensino - destrinchou a questão. De cara, a pesquisa chama atenção para como o debate sobre o tema tem mudado seu foco de "diplomas e certificados obtidos ao longo da carreira" para as “competências e habilidades que os professores devem ter para lecionar”. A mudança é fundamental.

Porém nas universidades, em cursos de pedagogia e licenciaturas, ainda resiste um modelo concentrado na área de pesquisa, importante para se pensar a educação, mas que não prepara os profissionais para a realidade das escolas públicas, "seja em termos de metodologias de ensino, seja em termos vocacionais", diz o texto.
Alguns números

80% - Dos alunos de pedagogia estudam em faculdades particulares

75% - Dos professores da rede pública de ensino básico têm formação superior e ou continuada

52,1% - Porcentagem dos salários de profissionais do ensino em relação às demais ocupações do setor público
Pesquisas não escutam professores#

O trabalho do TPE, que consistiu num levantamento de pesquisas nacionais e internacionais sobre o tema, também chamou atenção para o fato de que, no Brasil, faltam estudos sobre formação de professores, ou pelo menos estudos que mostrem empiricamente como as teorias pedagógicas podem melhorar a formação e a atuação dos docentes.

Faltam, também, pesquisas que ouçam os professores para saber como eles mesmos analisam sua formação e ofício. O Nexo ouviu alguns profissionais da rede pública de ensino do país para saber o que eles veem como os principais problemas enfrentados pela classe.

Além do fosso entre ensino nas universidades e realidade das escolas, muitos chamaram atenção para a desvalorização da profissão, que atrai cada vez menos estudantes devido aos baixos salários e péssimas condições de trabalho.

Para a professora de história da rede estadual de São Paulo, Maria Dolores Zetkin, a formação do docente passa pelas condições de ensino nas escolas.

“A forma mais eficaz de atacar o ensino público é dizer que a formação do professor não é boa. Você ataca o indivíduo, ataca a escola, diz que o professor que não está preparado, a escola não está bem gerida e coloca a culpa naquele que é vítima de uma politica educacional inadequada”, diz.

O professor de geografia Maurício Costa de Carvalho concorda que, por melhor que seja a formação teórica, ela não é adequada às limitações concretas do cotidiano nas escolas.

Os problemas apontados pelo relatório

O livro “Formação de Professores no Brasil: Diagnóstico, agenda de políticas e estratégias para a mudança”, coordenado pelo professor Fernando Luiz Abrucio (FGV/SP), faz uma revisão bibliográfica das pesquisas já feitas sobre formação de professores.

Como resultado, o levantamento identificou sete pontos que seriam os principais gargalos da questão no Brasil.

Integração do tripé formativo (universidades-centros formadores/redes de ensino/escolas)

O Todos Pela Educação considera que essas três estruturas institucionais são a sustentação do processo de formação docente. No entanto, elas não dialogam entre si. Como consequência, por exemplo, cursos de pedagogia se afastam cada vez mais das escolas.

Perfil do aluno que poderá ser futuramente professor

Estudantes de pedagogia, em sua maioria, frequentaram a educação básica em escolas públicas de forma que, segundo a pesquisa, o próprio professor tem lacunas em sua formação.

Currículo da Educação Básica

A falta de clareza dos currículos acadêmicos é mais um agravante. Soma-se a isso a questão do conteudismo: excessivo número de assuntos abordados, que distancia as escolas do Brasil da tendência internacional de se analisar habilidades e competências.

Currículo e estrutura profissional-pedagógica dos cursos de pedagogia e licenciaturas

Mais uma vez, a distância entre teoria e prática, em particular nos cursos de pedagogia e licenciatura. Faltam nas universidades aprendizado sobre metodologias de ensino, além das competências e habilidades necessárias para exercer bem o trabalho docente. “As disciplinas didáticas e metodológicas não só são pouco valorizadas como ainda não estão integradas ao restante do curso”, diz o texto.
“Quando recebeu a tarefa de formar todos os professores, a universidade considerou mais nobre formar um pesquisador sem prestar atenção às diferentes competências exigidas para a formação do professor. Isso não quer dizer que o professor não tenha que fazer pesquisa, mas ser um pesquisador profissional e ser um professor profissional são coisas distintas”

Depoimento dado à pesquisa

Educação a Distância

A pesquisa reconhece a importância da Educação a Distância (EAD) para ampliar a formação em regiões de pouco ou nenhum acesso à educação superior, porém faz críticas na forma como ela foi implantada. Entre os problemas destacados, estão a expansão desigual dos cursos, com concentração nas regiões mais desenvolvidas; a descontextualização do curso em relação à realidade local, com pouca inovação e diferenciação; o baixo número de concluintes; a necessidade de melhor tratamento e capacitação dos tutores e desenvolvimento de práticas que não fiquem restritas a estágios cumpridos apenas formalmente.

Profissionalização da prática docente, da formação inicial à continuada

A ideia é que o docente seja profissionalizado antes de assumir o cargo, com exercícios como estágios, mentorias e residências. Atualmente, o estágio é tido apenas como uma atividade burocrática, para cumprir créditos, e não como política de formação. Há que se levar em consideração, ainda, que muitos estudantes trabalham enquanto estudam para ser professor, e portanto não conseguem se dedicar à prática.

Atratividade e motivação da carreira docente

A questão da valorização do professor. O relatório cita pesquisas internacionais para mostrar o impacto positivo do aumento de salários. Diz, também, que a questão da atratividade vai além da remuneração: envolve medidas como regimes de dedicação integral nas escolas - nos quais o professor tem mais tempo para desenvolver atividades - bom clima escolar e segurança, perspectiva de avanço na carreira e bons programas de formação continuada.
 
Beatriz Montesanti

5 Jun 2016 (atualizado 06/Jun 11h54) 
 
FONTE: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/06/05/O-que-querem-os-professores-do-Brasil-N%C3%B3s-fomos-ouvi-los 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Fernando Abrucio fala sobre formação do professor 

Publicado em 2 de jun de 2016
No "Na Ordem do Dia" de hoje, o professor responsável pela publicação "Formação de Professores no Brasil" fala sobre como é possível superar os problemas enfrentados pelos docentes.

 

quarta-feira, 1 de junho de 2016

REDE ESTADUAL

Trabalhadores em educação vão paralisar as atividades a partir do dia 2 de junho 
 


O SINTE está convocando os/as trabalhadores em educação do Estado para participar da paralisação contra o atraso no pagamento dos salários dos servidores do RN.

A manifestação está marcada para o dia 2 de junho, às 9h, em frente ao Walfredo Gurgel, em Natal. O ato está sendo convocado pelo Fórum Estadual dos Servidores, entidade da qual o SINTE participa.

O coordenador geral do SINTE/RN, professor José Teixeira, avisa que os trabalhadores em educação do Estado vão permanecer com as atividades paralisadas até que o governo pague os salários.

A adesão à paralisação do dia 2 e a continuidade dela foi a principal deliberação da última assembleia da categoria, realizada em 12 de maio.
 
FONTE: http://sintern.org.br/blog