Um bom professor tem um papel fundamental na vida do seu aluno. A decisão sobre como devem ser formados os novos profissionais impacta no projeto educacional de qualquer nação. Com as mudanças constantes nas formas de aprender e ensinar, os cursos de licenciatura devem preparar os futuros professores para dialogarem com a nova realidade da sala de aula, atuando como mediadores e designers de aprendizagem.
Para estimular o debate sobre a preparação dos novos profissionais, o Porvir aproveita a celebração do Dia dos Professores (15) para lançar a série de reportagens Formação de Professores, que apresenta o cenário atual, desafios e caminhos para a formação inicial no país.
De acordo os dados do Censo da Educação Superior 2013 (último levantamento divulgado), existem 7.900 cursos de licenciatura na área de educação espalhados por todo país. Neste ano, mais de 200 mil alunos foram licenciados (56% pela modalidade presencial e 44% pelo ensino à distância). Porém, especialistas na área apontam que muitos cursos ainda estão bastante distantes da realidade da sala de aula.
Em 2010, ingressaram 392.185 alunos em cursos de licenciatura na área de educação. Após quatro anos, o número de concluintes chegou a 201.011. No ano de 2013, das 990.559 vagas que foram oferecidas, apenas 468.747 foram preenchidas (152.397 em instituições públicas e 316.350 em privadas). Segundo Valeska Maria Fortes de Oliveira, pesquisadora da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e coordenadora do grupo de trabalho de formação de professores da ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), a atração de profissionais para o ingresso na carreira docente é um dos primeiros entraves para a formação inicial no país.
A formação é um dos itens que, de acordo com a pesquisadora, integra a chamada condição docente, constituída por carreira, salário e condições de trabalho. “A forma com que se trata o professor é um dos primeiros problemas que hoje enfrentamos para atrair alguém para dar aula no Brasil”, diz Oliveira, ao analisar a necessidade de valorização da carreira.
O PNE (Plano Nacional de Educação) dedica quatro de suas 20 metas aos professores: prevê formação inicial, formação continuada, valorização do profissional e plano de carreira. Para que se tenha uma dimensão do trabalho que o país tem pela frente, entre os 2,2 milhões de docentes que atuam na educação básica do país, 24% não possuem a formação adequada, conforme dados do Censo Escolar 2014. “Se nós não cuidarmos dos professores da educação básica, estamos fadados a continuar tendo dados educacionais de baixo nível”, afirma a pesquisadora Bernardete Gatti, vice-presidente da Fundação Carlos Chagas.
O cenário contrasta com a meta número 15 do PNE, que prevê que todos os professores da educação básica tenham formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área em que atuam. Para Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a formação inicial no país ainda é muito frágil. “Ela é insuficiente em relação às demandas das próprias leis brasileiras”, afirma. Cara explica que para se aproximar das metas é preciso começar a tratar o plano como prioridade.
Dentro das medidas adotadas no primeiro ano de vigência do PNE, em julho de 2015, foram divulgadas as novas diretrizes para a formação de professores, elaboradas pelo CNE (Conselho Nacional de Educação). O documento aumenta o tempo mínimo de formação para os cursos de licenciatura, que passam de 2.800 para 3.200 horas. Além disso, os cursos deverão contar com mais atividades práticas, aproximando os futuros professores do cotidiano da escola.
Aproximação entre teoria e prática
As novas diretrizes tentam lidar com um dos principais gargalos da formação de professores no país: a articulação entre teoria e prática. Segundo Paula Weiszflog, coordenadora geral de pós-graduação e extensão do Instituto Singularidades, de São Paulo, muitos profissionais saem da universidade com o domínio do conteúdo, mas com pouca base didática. “Ele [professor] chega na sala de aula totalmente despreparado porque não sabe como passar aquele conteúdo que viu”.
Para Miguel Thompson, diretor da mesma instituição, a experiência de alunos na universidade ainda está muito concentrada no lado acadêmico. “Elaborar um paper se tornou mais importante do que fazer um plano de aula. Essa questão tem que ser debatida”, ressalta, ao mencionar que algumas licenciaturas estão formando biólogos, físicos e matemáticos, mas não professores de biologia, física e matemática.
Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, avalia que a situação requer medidas que vão além de ajustes. “Nosso grande problema é fazer uma espécie de revolução na formação de professores”. Segundo a pesquisadora, as licenciaturas não estão estruturadas para formar um professor. “Elas não formam bem nem no conhecimento específico e nem nas didáticas e práticas de ensino necessárias para uma atuação nas escolas. “
Além das questões envolvendo o ambiente universitário, a falta de diálogo com a realidade da escola é outro fator apontado como fonte de dificuldades para os professores recém-formados que ingressam nas redes de ensino. Jorge Carvalho, secretário de Educação do Estado de Sergipe e coordenador do eixo prioritário Planos de Carreiras no Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), diz que durante esse processo habilidades necessárias para a prática docente acabam ficando de lado. “As universidades, de modo geral, estão oferecendo licenciaturas que muito se assemelham a um bacharelado. Elas estão muito preocupadas em formar pesquisadores.” Segundo ele, a sociedade deve fazer um pacto sobre o tipo de professor que se quer formar.
Anna Helena Altenfelder, superintendente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), defende que a formação inicial deve preparar um professor para ser capaz de ler a realidade do seu aluno, ter empatia com a comunidade e, além de dominar os conteúdos, saber como ensinar. No entanto, ela pondera: “Não adianta reformular os currículos dos cursos de pedagogia ou licenciaturas, se a própria postura e concepção dos professores formadores dentro das universidades não mudar.”
Novas metodologias, uso de tecnologia e avaliação
Assim como se fala sobre o uso de novas metodologias na educação básica, as instituições formadoras devem transformar a sua forma de ensinar. “Há uma pedagogia dentro da universidade que precisa ser refeita e aberta. Há formadores fechados, achando que ainda cabe ensinar dentro do modelo que aprenderam”, destaca a pesquisadora Valeska Maria Fortes de Oliveira, da ANPEd, ao mencionar que, para criar referências para o futuro professor, é importante usar a homologia dos processos, ou seja, aplicar na sua formação as mesmas práticas pedagógicas que deverão utilizar com seus alunos.
“O mundo avança rapidamente, e as crianças já nascem com acesso à tecnologia. Essa criança certamente vai exigir uma participação muito maior na sala de aula”, diz Rodolfo Joaquim Pinto da Luz, secretário municipal de Educação de Florianópolis (SC) e membro da diretoria nacional da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação). De acordo com ele, é preciso preparar os futuros professores para atuarem em um novo contexto, onde possam ser mediadores, saibam promover a inclusão de todos os alunos e estejam constantemente atualizados de acordo com uma didática alinhada ao século 21, incluindo até noções de neurociência para compreender como seus alunos aprendem.
Dentro do desafio de preparar os novos professores, a formação também deve incorporar a tecnologia e as novas linguagens. “O professor tem que estar preparado para utilizar, no seu dia a dia, todos os equipamentos que podem oferecer uma aprendizagem diferenciada para os alunos”, defende o dirigente. Mas, diante de todas essas competências e habilidades desejáveis, como saber se os professores formados estão aptos para lidar com a realidade da sala de aula?
Avaliar os professores que estão sendo formados também é um desafio para o país. De acordo com os especialistas na área, a grande questão é criar métricas que não sejam punitivas, mas consigam dar conta de avaliar os novos profissionais e oferecer suporte para o desenvolvimento da sua prática. “A responsabilidade de formar jovens é grande. A nação tem que assumir isso”, destaca Miguel Thompson, do Instituto Singularidades.
O que explica a falta de professores nas escolas brasileiras?
O problema da falta de professores, em especial nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio é tema recorrente na mídia e na pauta dos gestores públicos que planejam e executam as políticas educacionais. Afinal, para qualquer rede de ensino que olhemos, logo constatamos a ausência de professores habilitados. A questão que fica é: faltam professores formados (licenciados) em número suficiente, ou aqueles habilitados buscam outras atividades remuneradas em função da pequena atratividade da profissão?
Não faltam licenciados formados no Brasil para atender a demanda de professores. Para isso estimamos a demanda de professores nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, considerando a carga horária legal, as matrículas e a média de alunos por turma. Do ponto de vista da oferta, consideramos o total de licenciados que concluíram seus cursos de 1990 a 2010. Considerando que o tempo de aposentadoria para uma professora é de 25 anos e de um professor, 30 anos, consideramos que a estimativa de um intervalo de 20 anos, mostra o potencial disponível. Os dados são apresentados na tabela.
Os dados da tabela indicam apenas três áreas em que, aparentemente, há falta de potenciais professores: língua estrangeira, ciências, física. Diz-se aparentemente, pois no caso de línguas estrangeiras, cuja formação exigida é Licenciatura em Letras, área em que há um grande excedente de licenciados, o problema pode decorrer mais da forma como os dados estão sendo contabilizados, até porque o mais comum é o licenciado em Letras sair com habilitação em português e uma língua estrangeira.
No caso de Ciências, objetivamente não há falta, pois os licenciados em biologia (área com grande excedente de licenciados), assim como aqueles licenciados em química e em física podem lecionar esta disciplina. Historicamente, inclusive, a licenciatura em ciências era considerada uma licenciatura de qualidade inferior, o que pode estar mudando atualmente. Também historicamente, os licenciados em biologia, pelo seu maior número, representam a maioria dos professores de ciências. Resta então ainda o gargalo da física, que já melhorou, mas ainda está longe da quantidade ideal de concluintes.
Ora, o que os dados indicados apontam é que, longe do que se imagina, não há no Brasil, um problema generalizado de falta de professores formados aptos a lecionar em suas áreas de formação. O problema persiste apenas em Física. Contudo, quando olhamos a oferta de vagas em licenciatura, constatamos que só a rede pública teria condições de atender a demanda de professores, se todas as vagas fossem preenchidas e se todos os ingressantes concluíssem seu curso.
Então, mais do que estimular a criação de novas licenciaturas, em especial na rede privada de ensino ou pela via da EAD, o que cabe ao governo fazer é estimular o preenchimento de todas as vagas da rede pública, o que pode ser feito através de bolsas de estudo com valores atraentes (associadas ao compromisso de futuro exercício do magistério) e zelar para que boa parte dos ingressantes conclua seu curso com sucesso. Agora, nada disso adiantará se não houver uma melhoria na remuneração dos professores.
O que o Brasil deve fazer para que todos os dias sejam o Dia do Professor?
Após andar 30 quilômetros debaixo de um sol escaldante – pois falta transporte público -, o professor chega em sua escola, pronto para inspirar seus jovens estudantes com seu conhecimento e vontade de ensinar. A sala de aula carece de estrutura básica e seu salário mal dá para encher a barriga, mas ele não se deixa desanimar: ele faz o que faz por amor, não por dinheiro.
Todo ano, no dia 15 de outubro, chovem histórias mais ou menos como essa nos meios de comunicação, na internet e nas redes sociais. De fato, a história da educação no Brasil é marcada por exemplos de superação, carinho e esforço de educadores que amam seu ofício e escolhem a dura batalha do ensino público como destino, apesar das agruras e da desvalorização crônica da profissão.
Mas será que não é possível pensar em um país que garanta condições necessárias para que exemplos como esse sejam antes uma exceção do que uma regra?
Com isso em mente, as equipes de reportagem do Portal Aprendiz, do Centro de Referências em Educação Integral e do Promenino elencaram quinze passos que nossa nação tem que dar para se aproximar da propagandeada e escanteada Pátria Educadora. Quinze lições de casa que um país tem que cumprir para garantir que todo dia seja dia do professor e para que toda cidade seja uma escola.
Garantia de direitos fundamentais para seus estudantes, formação continuada, condições para inovar, participação da família e o direito à reivindicar tudo isso foram alguns dos pontos abordados. Confira a opinião dos entrevistados:
1. Valorização docente
“É preciso consagrar a Lei do Piso em território nacional, em um esforço de universalizá-la e promover avanços em relação ao seu valor, de forma que a carreira do professor se torne atrativa. Além disso, é preciso estabelecer uma Base Nacional de Carreira, com critérios que determinem o avanço do docente em sua atividade. Isso é fundamental para que o piso não vire teto, ou seja, as remunerações se regulem por esse valor.”
Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
2. Formação inicial e continuada
“Na formação inicial, o desafio é que as universidades coloquem a educação básica no centro da formação. De modo geral, há pouco investimento no sentido de transformar a educação básica em objeto de estudo, pesquisa e trabalho da educação superior. O ponto principal é: não tem como formar bom professor sem transformar a educação básica no cerne da formação inicial. A formação continuada, ainda que apresente boas experiências, também dissemina cursinhos rápidos. A proposta legítima da formação continuada coloca a sala de aula no centro da discussão e diz de ir à escola, observá-la, entender seu entorno. Ou seja, não é um curso, é um processo de reflexão permanente sobre a prática. Sem isso, não há avanços.”
3. Rede de garantia de direitos fortalecida
“Preciso partir da premissa de que a escola precisa encarnar beleza, educação, ensino, compromisso e autonomia. Assim, ela pode ser, no seu cotidiano, um projeto de cidade, estado e nação. Nessa ação, aprende a construir integralidades e reconhece que as novas gerações perfazem redes de direitos, representações diretas das comunidades: professores, conselheiros tutelares, gestores, pessoas do apoio, família, grupos de comunicação. A cada um e cada uma, seus direitos e valores. Ao encarar a educação na história republicana do Brasil, não há como não desejar e querer que exijamos saber fazer melhor. Professar é preciso.”
Luiz Roberto Alves, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE)
4. Acesso à cultura
“Em muitas formações de professores das quais participei, como professora e como formadora, as palestras e debates eram intercalados com apresentações artísticas e culturais e isso era extremamente rico. Somos sujeitos culturais e por isso é fundamental entendermos que educação é cultura: é por meio dela que construímos nossa identidade. Então, é essencial que nosso país seja capaz de garantir na formação de professores e em seu exercício profissional continuado, oportunidades de acesso e usufruto de diferentes manifestações culturais, populares e eruditas e de conhecer as culturas dos territórios e realidades das quais faz parte. Claro que isso vale para toda a população, mas o professor é um agente formador e multiplicador e se torna um segmento social prioritário em políticas que garantam acesso à livros, meia-entrada ou entrada franca em museus, exposições e apresentações artísticas. É importante também não esquecer que, além de consumidor, o professor é sujeito fazedor de cultura, e isso pode e deve ser valorizado na sua formação. Enfim, é preciso construir políticas que coloquem a formação cultural no centro da formação docente.”
Madalena Godoy, professora de Física e pesquisadora e formadora em Educação Integral no Centro de Referências em Educação Integral.
5. Condições para criar e inovar na sala de aula
“É fundamental olharmos para o professor não como um reprodutor de práticas e de ferramentas pré-estabelecidas, mas como um co-autor que, ao compreender as necessidades dos seus alunos, propõe estratégias que fazem sentido. E, para que ele desenvolva essa capacidade, algumas condições são essenciais: tempo – não apenas para planejar, mas para executar. Se ele tiver muito conteúdo para despejar sobre os alunos, isso não será possível. A segunda são referências, pois mesmo as pessoas mais geniais não criam do nada. Ele precisa de subsídios formativos para ampliar seu repertório e dar um passo além. Condições básicas de infraestrutura, como bons equipamentos, materiais de qualidade, acesso à internet, ambiente flexível, são importantes também. Outro ponto são colaboradores. Além de ser muito mais interessante, criar junto permite que os desafios que ele vive na escola gerem processos de solução envolvendo coordenadores, gestores, pais, ONGs… Este espaço aberto é favorável à inovação. Por fim, o respaldo de políticas públicas para que a inovação seja encorajada na rede de ensino. Isso dá outra nobreza a profissão. É preciso pressupor que o professor é capaz de muito mais do que hoje ele é levado a fazer.”
6. Tempo de planejamento e importância da coordenação pedagógica
“Para falar de coordenação pedagógica é preciso pensar antes que a escola é uma organização e, portanto, um coletivo. E nada substitui isso. Nessa perspectiva, o coordenador é articulador e formador. Ele colabora tanto com a integração como na análise e reflexão da prática do professor. Entra aí, também, a questão de pensar o tempo de planejamento. Se você pensar bem, ninguém se forma sozinho. Nem o aluno, nem o professor. E quem colabora para a formação deste sujeito? Aquele que revisa e revê com ele as suas práticas. Diz respeito a este ciclo eterno de formação e aprendizagem, próprio da condição humana.”
Cybele Amado, presidente do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep)
7. Gestão democrática: professor pode e deve participar da gestão da escola
“Sou entusiasta da gestão democrática porque a participação da comunidade é fundamental para o bom andamento das unidades escolares e fundamental para a qualidade da educação. A participação fortalece e envolve toda os agentes da escola no processo pedagógico e professor tem um papel fundamental nisso. Precisamos fortalecer a gestão democrática, mas ela precisa vir com mecanismos de acompanhamento porque não estamos aprendemos a andar agora e é preciso ajudar a orientar os caminho da escolas.”
Rowenna Brito, coordenadora de Educação Integral da Secretaria de Educação da Bahia
8. Saúde do professor / mediação de conflitos
“A questão dos conflitos, violência e indisciplina em sala de aula é uma das causas de stress e afastamento dos professores quanto à carreira. Não temos nenhum tipo de politica pública dentro dessa área que forme o professor para lidar com esses problemas de convivência. É preciso que o docente se sinta mais apto e seguro para lidar com esse tipo de situação. Iniciativas nessa área são isoladas, e não institucionais e, por isso, têm pouca duração. A tendência da educação não é discutir a violência em si, mas sim buscar o bem estar da escola que, no Brasil, atua muito como “bombeiro”. Quando as soluções passam a ser coletivas e preventivas, professores se sentem mais amparados e seguros. Quanto melhor o clima escolar, mais o professor permanece, se sente bem e se envolve com os alunos.”
9. Condições para que o território seja usado pelo docente como insumo educativo
“A atual geração não tem bons resultados no modelo tradicional de aula. Cada vez mais exige-se que os professores sejam capazes de garantir protagonismo e engajamento dos alunos. O território é uma possibilidade objetiva de mediação desse processo, na medida em que o professor pode, com seus alunos, discutir a história que vem dali, quem circula, o que acontece, que saberes têm ali. O território é cada vez mais um objeto dessa estratégia de mediação do professor para que ele construa o conhecimento junto ao estudante e, de quebra, consegue envolver a família, a comunidade, os saberes locais, trazendo para dentro do processo educativo todo o repertório daquelas crianças. O entorno imediato das escolas é um espaço vivo que pode ser apropriado no planejamento das estratégias cotidianas. Isso faz parte de um novo processo de aprendizagem, mais colaborativo, participativo e horizontal.”
Maria Antonia Goulart, coordenadora do MAIS (Movimento de Ação e Inovação Social)
10. Liberdade da cátedra dentro da sala de aula
“A Constituição Federal de 1988 (art. 206) definiu, sabiamente, como princípios do ensino brasileiro, dentre outros: (…) “a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”, bem como “o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”. E por que esta definição é importante? Porque ela traduz o dever e a responsabilidade da professora ministrar suas aulas a partir de suas convicções pedagógicas e da sua visão de mundo. E estas convicções se expressam a todo o momento: a indicação da leitura de um livro ou artigo, a apreciação de uma obra de arte, a discussão dos valores democráticos desenvolvidos nas suas aulas, o respeito aos direitos humanos que o cotidiano escolar expressa e exige.”
Lisete Arelaro, professora da Faculdade de Educação da USP e presidente da Fineduca
11. Formação tecnológica
“A maioria dos professores brasileiros já é a favor do uso de tecnologia na educação, mas aponta que é preciso ter formação para a sua aplicação em sala de aula. O uso das tecnologias como ferramentas de ensino aproxima a escola da realidade digital já vivida pelo aluno, despertando seu interesse e ampliando suas possibilidades de expressão. Facilita também a organização de tempo do professor em sala de aula, possibilitando sua atuação como orientador na formação dos alunos e a entrega de conteúdos personalizados. Para que as crianças e jovens brasileiros tenham oportunidade de usufruir de todas as possibilidades que o mundo de hoje oferece, a ?in?ternet é fundamental. Em diferentes países já existem políticas para levar conexão de alta velocidade para escolas, alunos e professores?,? e o acesso à rede já se tornou parte integrante do direito à Educação.”
Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann que, em parceria com o Instituto Inspirare, a Rede Nossas Cidades e o Instituto de Tecnologia & Sociedade (ITS), realiza a Internet na Escola
12. Famílias: políticas que garantam que as famílias se corresponsabilizem e participem
“Em uma comparação com o dia de outro profissional, como o jogador de futebol, que precisa fazer o gol, o professor precisa de mais ações de aprendizagem, em todos os sentidos. Isso inclui a participação das famílias, que vai desde o dar as mãos para a criança até a escola, se interessar pelas tarefas, apoiar a organização do material, até o resgate da sua própria aprendizagem neste ritual. É o aprender para a vida. E de que forma a comunidade pode fortalecer isso? Criando espaços públicos de participação, como a biblioteca, para contribuir com esse acompanhamento da aprendizagem. Podemos falar sobre outros espaços, mas a leitura chama todo mundo. Ler com as crianças, para as crianças, é algo que volta para a escola. Aí o movimento se cumpre.”
Marília Novaes, coordenadora pedagógica e formadora da Comunidade Educativa – Cedac
13. Avaliação docente
“Vários planos de carreira têm colocada a questão da progressão funcional do professor mediante mérito. Algumas redes de ensino acabam avaliando o docente a partir de resultados obtidos nas avaliações de larga escala, ou seja, estipulam benefícios de acordo com o rendimento de seus alunos. Esse caminho, além de equivocado é perverso. Vários estudos e pesquisas comprovam que há outras variantes que interferem no desempenho dos alunos e é muito difícil isolar uma delas. Precisamos compreender que em relação a avaliação e também ao processo pedagógico como um todo, o professor precisa de domínio e autonomia, mas não aquela autocentrada em que a avaliação dele sobre o desempenho basta. Acredito numa avaliação mediada pelo coletivo da escola, até porque ela não é peça descolada de um jogo e deve vir articulada ao projeto pedagógico da instituição, em que se questione: onde quero chegar com esses alunos? O que eu desejo para essa comunidade? Acho que a democratização dos processos de aprendizagem passa por aí também, de rever os processos de avaliação e, portanto, de acompanhamento dos alunos, visando uma educação de qualidade.”
Solange Feitoza Reis, integrante do Núcleo de Educação Integral do Cenpec
14. Priorização da agenda do professorado nas políticas públicas
“É fundamental, quando se fala numa Pátria Educadora, em democracia, em construção coletiva, que os professores sejam protagonistas das políticas educacionais. São eles que estão próximos do aluno, conhecendo suas demandas e particularidades. Os docentes são seres políticos e devem ser considerados como tal. Para isso, temos que propor uma escuta efetiva, afinal, ele conhece o chão da sala muito mais que um político ou um intelectual e sabe o quanto é necessária a valorização de sua posição e o aprimoramento da sua formação, para estar cada dia mais de acordo com a realidade das escolas, dos estudantes e dos territórios.”
Neuza Macedo, assessora de Relações Institucionais do Gabinete da Secretaria de Educação de Minas Gerais
15. Direito a reivindicar seus direitos
“A repressão que vimos contra os professores paranaenses no Centro Civíco, em 29 de abril deste ano, mostra exatamente o lugar que a educação pública ocupa na mente dos nossos governantes. A educação é um direito público fundamental, objeto de propaganda estatal mas no primeiro sinal de crise, suas verbas são cortadas e ai de quem ousar falar qualquer coisa contra. Os professores têm o dever de se manifestar para evitar que as conquistas sejam perdidas e tentar avançar na valorização docente e na qualidade dos professores, seja na esfera municipal, estadual ou federal. E os governos têm o dever de nos respeitar.”
Hermes Silva Leão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), entidade que esteve à frente da greve de 44 dias dos professores paranaenses neste ano. A mobilização, que recebeu apoio de 90% da população do estado, ganhou destaque nacional pela forte repressão sofrida em 29 de abril, quando 213 professores ficaram feridos ao protestarem por seus direitos.
Fonte: Portal Porvir
http://www.todospelaeducacao.org.br
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