quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Plataforma ajuda a trabalhar literatura em sala

Os planos de aula trazem uma abordagem interdisciplinar e podem ser usados por professores de diferentes áreas


Pixabay


Aliar o prazer da leitura à formação de leitores e ao aprendizado interdisciplinar. É com esse propósito que nasce o novo especial multimídia da Plataforma do Letramento, o Literatura na Escola.


Relacionando conteúdos de Literatura e Língua Portuguesa a diversos outros campos do conhecimento, a ferramenta traz planos de aula baseados em 30 livros como O bicho alfabeto, de Paulo Leminski, e Sagarana, de Guimarães Rosa.

Desta maneira, coloca em diálogo a tradição literária brasileira com outras linguagens e formas de expressão como teatro, cinema, ilustração, sarau, cordel e animação e envolve professores de diferentes disciplinas, proporcionando a adaptação dos conteúdos à realidade dos estudantes.

Um dos temas de aula, por exemplo, é o “Região amazônica: Literatura, História, Geografia e Biologia”, pautado na obra Dois irmãos (2000), de Milton Hatoum, e que estimula a produção de fanfictions. Além dos temas de aula, a plataforma reúne testes, jogos, uma midiateca e projetos de leitura desenvolvidos por educadores de várias regiões do país.

As atividades se baseiam no Mapa da literatura brasileira, outro especial elaborado pelo site que mostra autores e obras representativos da nossa cultura a partir de sua distribuição geográfica.
 
FONTE: http://www.cartaeducacao.com.br

Educação: Estagnados no fundo do poço

O bom resultado no Pisa de Vietnã e Estônia, países mais pobres e vulneráveis que o Brasil, mostra que não há justificativa para estarmos na lanterna em Educação


Os novos resultados do Pisa, divulgados na terça-feira (6) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostraram que, mais uma vez, o Brasil saiu mal na foto. O país está literalmente estagnado e, o que é ainda mais grave, num patamar muito baixo em termos de aprendizagem escolar. Ficamos bem atrás da média global, estacionados na rabeira de um ranking que inclui 70 países. Em ciências, área que em 2015 recebeu a maior atenção da OCDE, estamos entre os dez piores colocados, na 63ª posição. Marcamos 401 pontos, enquanto a média dos países desenvolvidos e emergentes foi de 493 pontos. São mais de 90 pontos de diferença, o que equivale a aproximadamente três anos letivos. É uma situação grave e que piora ainda mais se, em vez de considerarmos a média global, compararmos o Brasil aos países que estão no topo da educação mundial.
PROVA DE QUE NÃO HÁ DESCULPAS
Escola em Hanói, capital do Vietnã. O país, que há 40 anos era agrário e analfabeto, está entre os primeiros colocados em ciências (Foto: Nguyen Huy Kham/Reuters)

Em leitura e em matemática, que são as outras duas áreas avaliadas pelo Pisa, o quadro também é desalentador: seguimos no grupo dos lanternas, com a 59ª e 66ª colocações, respectivamente. Somente 40% dos estudantes brasileiros atingiram pelo menos o nível 2 da escala, considerado o básico da proficiência. Esse é o patamar de conhecimento minimamente necessário para que o aluno tenha uma participação plena na vida social, econômica e cívica das sociedades modernas em um mundo globalizado. Entre os países da OCDE, esse percentual equivale ao dobro e chega a quase 80%. Todo esse cenário mostra o fundo do poço a que chegamos, algo que as próprias avaliações brasileiras já vinham, ano a ano, indicando.

É absolutamente frustrante ver que continuamos patinando a cada nova edição de avaliação. Nem sequer temos boas perspectivas para, num futuro próximo, dar o salto de qualidade de que o Brasil tanto necessita. O país não pode se acomodar a esta situação grave e já velha conhecida, ou continuaremos colocando em risco o futuro de nossos jovens. Não existe país sustentável, tanto do ponto de vista social, como econômico, sem ter jovens bem preparados, capazes de responder às novas demandas do século XXI, com uma formação alinhada com as necessidades dos novos tempos de mudanças exponenciais, que sejam criativos, empreendedores e conscientes de seus papéis como cidadãos e profissionais.

Não podemos, simplesmente, assistir ao Brasil se distanciar a cada ano de países que lideram a educação mundial, como Cingapura e Japão. Por que não nos espelhamos nos saltos tão significativos que Estônia e Vietnã alcançaram, apesar de suas histórias tão difíceis? O Vietnã, é importante lembrar, viveu quase toda a metade do século XX envolvido em conflitos e guerras. Isso fez com que o país fosse, até 40 anos atrás, uma nação pobre, agrária e analfabeta. Mas, no Pisa 2015, galgou à 8ª posição em ciências, à frente de países como Reino Unido e Coreia do Sul, porque elegeu a educação como projeto de nação. Também não precisamos ir tão longe para nos inspirar. Basta olharmos para nossos vizinhos latino-americanos, como a Colômbia, o México e o Uruguai, que alcançaram em 2015 resultados maiores que o do Brasil, mesmo apresentando um investimento médio por aluno menor que o nosso.

Enquanto a educação não for tratada como a prioridade máxima do Brasil em todas as instâncias, como projeto de governo, nação e sociedade, será difícil assistirmos a uma real mudança, na velocidade de que necessitamos. O fato de o Ministério da Educação (MEC) lançar mão de uma medida provisória para fazer a necessária reforma do ensino médio é o retrato de que esta mudança não teria a prioridade que deveria no Congresso Nacional, que há cinco anos discute um projeto de lei para essa etapa da educação básica – a chamada escola do jovem. E, enquanto isso, só vemos crescer o número de jovens de 15 a 17 anos que estão sem estudar e sem exercer nenhuma atividade remunerada – um exército de 1 milhão de jovens, que representa um a cada dez adolescentes nessa faixa etária.

O que fazer para sair dessa situação? A forma mais eficaz de mudar o curso assombroso que percorremos hoje é o investimento no professor. Basta ver o que ocorre nos países que lideram o ranking do Pisa. Em nações como Cingapura, Coreia do Sul, Finlândia, Canadá e Japão, ser professor é sinônimo de prestígio social. Aqui, no Brasil, deveríamos começar pela atratividade, tornando a carreira do magistério objeto do desejo de nossa juventude. Hoje, em nosso país, apenas 2% dos estudantes que saem do ensino médio escolhem esse caminho.

Não é só a questão dos baixos salários que explica a baixa atratividade, como muitos costumam pensar, pois a diferença inicial diante de outras profissões do mercado é apenas 11% menor. O problema acontece no percurso da profissão, quando essa diferença salta para 43%. Portanto, a criação de um plano de carreira atrelado à formação continuada do professor e a seu desempenho docente deveria ser a maior de nossas prioridades. Não me canso de repetir que sem bons professores não há futuro. Precisamos atrair os melhores alunos para a carreira do magistério e aprender a formar bem nossos professores para o chão de escola.

Outro ponto fundamental é que o país estabeleça os direitos de aprendizagem para seus alunos, ao menos para cada uma das etapas da educação básica. É preciso explicitar o que cada aluno deve saber ao final de cada ano letivo. A Base Nacional Comum Curricular, cuja terceira versão ainda deverá ser encaminhada pelo MEC ao Conselho Nacional de Educação, é uma esperança nesse sentido. O cuidado que devemos ter com a Base é assegurar que ela traga como direito de aprendizagem as demandas que os alunos têm no século XXI, que valorize o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e de colaboração tanto quanto o conhecimento teórico. Está nas mãos de nossos governantes não deixar que questões políticas e partidárias se coloquem à frente dos interesses da nação. O Brasil precisa dar o que é de direito a suas crianças e jovens, segundo sua própria Constituição: uma educação de qualidade e com equidade.
 
FONTE: http://epoca.globo.com/educacao/noticia/2016/12/estagnados-no-fundo-do-poco.html

Educação - Pisa: o diagnóstico de um apagão

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes mostra que 70% dos brasileiros não dominam o básico em matemática. Nossa educação está entre as oito piores do mundo

FLÁVIA YURI OSHIMA 
FONTE: http://epoca.globo.com
LIÇÃO DE INEFICÁCIA
Sala de aula no Brasil. Metade dos alunos não sabe interpretar textos (Foto: LEO DRUMOND/NITRO)
 
Treze milhões de adultos analfabetos, 33 milhões de adultos analfabetos funcionais – que reconhecem números e letras, mas não as interpretam – e 2,8 milhões de crianças entre 4 e 17 anos fora da escola. São tantos os dados alarmantes na educação brasileira que o país parece ter se acostumado ao espanto. Desperdício de potenciais, geração perdida e uma série de outros diagnósticos que deveriam ser encarados com seriedade tornaram-se, por tanta repetição, chavões da área. E, como ocorre com todos os chavões, deixaram de ser encarados com perplexidade.

Na última terça-feira, dia 6, a divulgação do ranking educacional Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) pode ter rompido esse estado de torpor. Pela primeira vez na história desse levantamento, o Brasil regrediu. Nossa nota em matemática recuou a níveis similares ao do ano 2006, período em que investíamos quase um terço do que aplicamos hoje na educação. Em ciências e leitura, as outras duas áreas avaliadas pelo Pisa, ficamos estagnados nos mesmos resultados de 2012, distantes cerca de 90 pontos da nota média do levantamento. “É a prova do fracasso retumbante e inaceitável de nossa Educação”, disse o ministro da Educação, Mendonça Filho, a ÉPOCA.

O Pisa é uma avaliação trienal feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) entre dezenas de países de todo o mundo. Nesta edição, foram 70 nações. Desde 2000, quando seu primeiro estudo veio a público, o ranking consolidou-se como o mais importante termômetro dos níveis educacionais de seus países. O Pisa avalia o conhecimento de crianças entre 15 e 16 anos sobre matemática, leitura e ciências. No ano passado, 23.141 estudantes brasileiros de 841 escolas (públicas e particulares) encararam dois dias de provas em todos os estados do país para a formulação do diagnóstico revelado agora.

A avaliação divide os resultados em seis níveis de proficiência. Cada um desses níveis indica as habilidades alcançadas pela criança. Mais de 80% dos estudantes brasileiros chegam, no máximo, ao nível dois dessa escala em ciências e matemática. Isso significa que dominam apenas a lógica básica dessas áreas. Em matemática, esse desempenho pífio tem um agravante. Mais de 70% dos alunos brasileiros não dominam os rudimentos da lógica. Em leitura, o Pisa indica que metade dos alunos brasileiros de 15 e 16 anos não interpreta o que lê. Na comparação com estudantes da mesma idade de outros países, os brasileiros têm um desempenho equivalente ao de alunos com dois ou três anos a menos de estudos.

A partir da observação do tipo de questão que os estudantes mais acertaram e mais erraram, um padrão emerge das três avaliações. Os brasileiros demonstraram dificuldade em interpretar dados e em explicar como aplicar os conhecimentos teóricos a situações práticas em questões dissertativas. O maior número de acertos ficou com as questões relativas a conteúdos teóricos de múltipla escolha. Na prática, isso significa que a maior lacuna no aprendizado dos brasileiros está na capacidade de análise e de estabelecer relações tanto entre fatos do cotidiano e teoria quanto em enxergar como as diferentes áreas do conhecimento se relacionam.

O Brasil está entre os cinco países que investem a maior parcela do PIB no mundo em educação. Em 2014 (último dado atualizado) foram 6% do PIB para a área, R$ 135 bilhões. Esse montante costuma impressionar. Porém, o investimento que faz diferença na qualidade da educação é o valor aplicado por aluno. Nesse quesito, o Brasil investe apenas 43% do valor gasto, em média, pelos países da OCDE. Os Estados Unidos gastam quatro vezes mais do que o Brasil por estudante do ensino médio. A Rússia, o dobro. Essa disparidade sempre serviu como escudo para justificar a má posição do Brasil no ranking do Pisa. Neste ano, perdemos o direito de usar essa desculpa. Albânia, Líbano, Colômbia e México, nações com investimento por aluno menor do que o brasileiro, nos ultrapassaram. “O modelo está esgotado. Não avançaremos mais sem preparar nossos professores”, diz Claudia Costin, professora da Universidade Harvard e ex-secretária de Educação do Rio de Janeiro.
 
Esses números terão um impacto negativo direto nos adultos que essas crianças virarão. Traduzir notas de testes educacionais em dados econômicos é uma maneira eficiente de mostrar qual pode ser essa consequência. Uma pesquisa recente, feita em parceria entre a OCDE e a Fundação ElDiálogo, projeta que o ritmo de crescimento do PIB do Brasil se acelerará 16% ao ano a partir de 2030 se cada jovem de 15 anos atingir a pontuação média da OCDE (420 pontos) na escala do Pisa. Por outro lado, se, no mesmo período, tivermos todos os alunos de 15 anos no ensino médio com o baixo desempenho de hoje, esse ritmo de crescimento se acelerará 3,5% ao ano. O estudo foi concluído antes da divulgação dos últimos resultados do Pisa. Até então, no ritmo de crescimento de 3 a 5 pontos a cada avaliação trienal, o Brasil levaria 27 anos para alcançar a média da OCDE em matemática. Com a regressão de 12 pontos, revelada agora, essa estimativa aumentou para 33 anos. “Não há possibilidade de desenvolvimento econômico sustentável sem o aumento da qualidade da educação”, diz Ariel Fiszbein, diretor da ElDiálogo e um dos responsáveis pelo estudo.

Outro estudo que atesta a falta de qualidade da educação brasileira foi encabeçado pelo economista Ricardo Paes de Barros, da Cátedra do Instituto Ayrton Senna no Insper, escola de negócios de São Paulo. A análise mostra que cada ano a mais de escolaridade no Chile, entre 1980 e 2010, proporcionou um ganho extra de US$ 3 mil por trabalhador. No Brasil, esse aumento foi de apenas US$ 200. Os brasileiros têm capacidade produtiva bem inferior à de chilenos com o mesmo número de anos de escola. A qualidade da educação desses países é a raiz dessa diferença.

Os dados são claros. Não há pacote de ajuste fiscal ou teto de gastos capaz de colocar o Brasil nos eixos do desenvolvimento sem uma educação de qualidade.
Pisa (Foto: epoca)

Prêmio reconhece melhores bibliotecas do Brasil: ‘Precisam atrair a comunidade’

Diretor do Instituto Pró-Livro destaca importância da modernização destes espaços. Destaques estão no Acre, em São Paulo e no Rio de Janeiro.


Biblioteca de São Paulo - Parque da Juventude foi um dos destaques do prêmio. (Foto: Equipe SP Leituras)






Na próxima quinta-feira (15), a primeira edição do Prêmio IPL – Retratos da Leitura premiará, entre outras categorias, as três bibliotecas de maior destaque do Brasil: Biblioteca Pública Estadual do Acre, Biblioteca de São Paulo – Parque da Juventude e Biblioteca Parque Estadual Rio de Janeiro.


Segundo o presidente do Instituto Pró-Livro, Marcos da Veiga Pereira, estes espaços são atrações para a comunidade. “A ideia de que bibliotecas são só o lugar para livros precisa ser revolucionada. Elas devem ser um parque de cultura, onde há videoteca, contadores de história e evidentemente, as obras”, diz. Funcionários que conheçam o acervo e saibam sugerir leituras para o público também ajudam a despertar o interesse pelo local.


Marcos afirma que, quando estes locais se tornam espaços de lazer, atraem a comunidade e ajudam a estimular o hábito da leitura. Os moradores do entorno da biblioteca passam a frequentá-la e, consequentemente, a interagir entre si. “Eles exercitam a cidadania e o respeito, lidam uns com os outros, conhecem novas pessoas”, afirma. “Ser apresentado ao mundo dos livros traz um benefício monstruoso. É um privilégio poder ter o prazer de ler, ter o livro como companheiro. A gente precisa ser capaz de ter imaginação”, complementa.


O diretor do IPL cita os resultados do ranking mundial de educação - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, em inglês), divulgado neste mês. O Brasil teve queda na pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática. “A gente vê como o país está atrasado em termos de educação. É preciso incentivar o envolvimento das comunidades nas bibliotecas”, diz.


Público infantil




Para atrair as crianças às bibliotecas, Marcos afirma que é preciso pensar além da ideia de que são espaços fechados e escuros. É necessário que existam áreas de silêncio, mas não há necessidade de se restringir a elas. “Precisa ser tudo colorido e aberto, moderno. O livro permite a poesia, o teatro, pode haver a encenação de uma história. Quanto mais espaços e atividades, maior a chance de cativar esse público”, diz.


Tecnologias


Na discussão sobre livros digitais e impressos, o diretor do IPL afirma não ser purista. Para ele, não são opções excludentes. “O livro, para mim, é um conteúdo, não uma forma. Vai ter gente que vai preferir o papel, por achar mais acalentador, sentir o cheiro da tinta impressa. E há quem goste mais do digital”, diz.


De acordo com Marcos, a biblioteca pode se abrir às tecnologias e ter computadores e tablets. O desafio do livro digital, neste aspecto, é a burocracia no processo de empréstimo. “O e-book se propaga mais facilmente. Não sei como faríamos em relação aos direitos do autor da obra”, explica.


Outras categorias


Abaixo, confira os vencedores nas demais categorias do prêmio:


Cadeia Produtiva:


• Instituto Ecofuturo (mantenedora: Suzano Papel e Celulose) – Projeto Bibliotecas Comunitárias - Ler é Preciso.


• Skoob – (Portal de compartilhamento sobre livros e leituras pelos leitores)


• Companhia das Letras (Editora Schwarcz) – Projeto Clube de Leitura – em presídios


Categoria ONGs:


• Fundação Itaú Social - Programa Itaú Criança - Campanha “Leia para uma criança”


• Associação Vaga Lume – Expedição Vaga Lume


• ACEC – Associação Cultural Estudos Contemporâneos - Flupp - A Festa Literária das Periferias.


Categoria Mídia:


• Revista Emília


• Fundação Volkswagen - Plataforma do Letramento (coordenação técnica CENPEC)


• GloboNews Literatura 
Por Luiza Tenente, G1 
FONTE: http://g1.globo.com

Política Nacional de Leitura e Escrita

Comissão de Educação aprova a Política Nacional de Leitura e Escrita
O relatório foi lido pelo senador Dário Berger (PMDB-SC)
Marcos Oliveira/Agência Senado

 Proposições legislativas

PLS 212/2016

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) aprovou, nesta quarta-feira (14), o projeto de lei (PLS 212/2016) que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita. Segundo o texto, da senadora Fátima Bezerra (PT-RN), a política deve funcionar como uma estratégia permanente para promover o livro, a leitura, a escrita, a literatura e as bibliotecas de acesso público no Brasil.

O relatório, favorável à matéria, preparado pelo senador Paulo Paim (PT-RS), foi lido por Dário Berger (PMDB-SC). Agora o projeto seguirá a Plenário, para decisão final. De acordo com Fátima Bezerra, o objetivo principal da Política Nacional de Leitura e Escrita será democratizar o acesso ao livro e aos diversos suportes da leitura por meio de bibliotecas de acesso público, dentre outros espaços de incentivo à leitura, de forma a ampliar os acervos físicos e digitais e as condições de acessibilidade.

“Este projeto configura as bases institucionais para superarmos o caráter descontinuado e pulverizado com que as iniciativas de estímulo à leitura têm sido historicamente implementadas em nosso país”, argumentou a autora na justificação da proposta.
Diretrizes

A política terá como diretrizes a universalização do direito ao acesso ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas; o fortalecimento do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e articulação com as demais políticas de estímulo à leitura, ao conhecimento, às tecnologias e ao desenvolvimento educacional, cultural e social do país, especialmente com a Política Nacional do Livro.

O projeto estabelece que o Poder Executivo deverá elaborar o Plano Nacional de Leitura e Escrita. O parecer favorável do relator altera a periodicidade da elaboração desse plano, que passar a ser decenal, não mais de quatro em quatro anos. O relatório também alterou a data de entrega desse plano, que será até os seis primeiros meses do mandato presidencial, ao invés de ser até o fim do primeiro ano do mandato de acordo com o projeto original.
"Viva leitura"

A proposta estabelece ainda a criação do Prêmio Viva Leitura, que será concedido no âmbito da Política Nacional de Leitura e Escrita com o objetivo de estimular, fomentar e reconhecer as melhores experiências que promovam o livro, a leitura, a escrita, a literatura e as bibliotecas.

Fonte: http://www12.senado.leg.br
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
 

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Faltam livros nas escolas brasileiras

Mais um desafio para a educação  (Foto: Época )

Ideias

 
A lei determina que cada escola do país tenha uma biblioteca. Apenas 37% delas cumprem essa exigência. São Paulo tem hoje menos bibliotecas do que tinha há quatro anos

 
EDUCAÇÃO EM DÉBITO
Sidineia lê para seu filho Octavio, de 7 anos. Por falta de bibliotecas na rede pública, ela se juntou a outros jovens da região onde mora em São Paulo para fundar uma biblioteca comunitária (Foto: Flávio Florido/ÉPOCA)


O romance O menino do pijama listrado, de John Boyne, despertou a paixão de Sidineia Chagas, de 25 anos, pela leitura, quando ela cursava, em 2007, o 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Professora Renata Menezes dos Santos. Sidineia mora em Parelheiros, região do extremo sul de São Paulo que lidera rankings de violência e de baixo desenvolvimento humano.

O encontro entre Sidineia e a história de Boyne ocorreu quando cada aluno de sua classe recebeu uma caixa com quatro livros. O mesmo encanto com os títulos não aconteceu com boa parte de seus colegas. “Quando a aula acabou, muita gente rasgou os livros”, diz ela. Sidineia viu páginas virar dobraduras ou munição para guerra de bolinhas de papel.

A atitude dos jovens foi um reflexo do descaso com que a própria escola tratava a leitura. Sidineia afirma que as obras foram apresentadas aos alunos sem o respaldo de qualquer atividade pedagógica que destacasse a relevância delas. Além disso, a biblioteca do colégio nunca atraiu frequentadores. Quase sempre fechado, o espaço funcionava mais como um depósito de livros do que como um ambiente de incentivo ao hábito de ler. O mesmo ocorria nas demais escolas da região de Parelheiros.

>> Ler para crianças desde cedo estimula habilidades linguísticas e emocionais, diz estudo

Essa realidade precária inspirou Sidineia e outros 30 jovens a criar um espaço de leitura que pudessem frequentar à vontade. Nos fundos do Cemitério do Colônia, uma pequena casa antes abandonada abriga a Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, fundada em 2009, em parceria com uma ONG, o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac). “O objetivo foi criar um lugar que, além de emprestar livros, fosse um ponto de encontro para a comunidade”, diz Sidineia. Com a ajuda de instituições públicas e privadas, hoje a biblioteca conta com um acervo de 4 mil exemplares.
 
LIVROS PARA TODOS
A Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, de Parelheiros. O espaço foi criado por jovens da região que sentiam falta de um espaço para ler e se reunir (Foto: Flávio Florido/ÉPOCA)

Iniciativas como a de Parelheiros surgem para tapar buracos deixados pelas políticas educacionais do estado. Uma lei sancionada em 2010 determina que, até 2020, todas as escolas do Brasil tenham uma biblioteca. Os números, porém, mostram que a obrigatoriedade não será cumprida dentro do prazo – se é que ela será cumprida algum dia. O Censo Escolar de 2015 mostra que somente 37% das escolas públicas e privadas de educação básica (entre a educação infantil e o fim do ensino médio) têm biblioteca. Para que a meta seja alcançada, 84 bibliotecas teriam de ser abertas diariamente, a partir desta semana e pelos próximos 1.389 dias.

Esses números mostram apenas um dos aspectos de como o incentivo à leitura é negligenciado na educação brasileira. As poucas bibliotecas existentes na rede pública costumam funcionar de forma muito deficiente. Entre 11 escolas escolhidas aleatoriamente na cidade de São Paulo, apenas duas bibliotecas funcionam em período integral e três ficam abertas eventualmente. Em seis escolas, alunos não têm livre acesso ao espaço onde ficam os livros. “A sala fica fechada. Os estudantes só podem entrar quando acompanhados por um professor”, afirma o funcionário de uma das escolas, que não quis ser identificado. O motivo mais comum ao acesso restrito é a falta de um supervisor no local.

Isso não ocorreria se a lei fosse respeitada. As bibliotecas escolares devem contar com a presença de um bibliotecário preparado para organizar, abastecer e gerenciar o acervo. Na contramão do que diz a lei, a rede estadual de ensino de São Paulo passou a substituir, em 2009, a instalação de bibliotecas por salas de leitura. Diferentemente das bibliotecas, essas salas são espaços informais, com acervo diminuto, sem preocupação com iluminação ou organização apropriada para atividades relacionadas ao estudo e à leitura. Outra diferença fundamental da sala de leitura é que ela dispensa a presença de um profissional preparado para receber os alunos. “Um dos papéis do bibliotecário é sugerir ações pedagógicas que tornem a biblioteca um espaço convidativo para os alunos”, diz Maria Aparecida Lamas, educadora especializada em formação de leitores.

Em 2012, 13% das escolas estaduais paulistas tinham bibliotecas. Salas de leitura estavam presentes em 75,4% delas. Em 2015, o número de escolas com bibliotecas caiu para 7,4%, enquanto o de salas de leitura aumentou para 78%. Nesse mesmo período, não houve expansão da rede de bibliotecas entre as escolas municipais.

Educadores ouvidos por ÉPOCA afirmam que São Paulo freou a implantação de bibliotecas para economizar dinheiro, tese endossada pelo sindicato dos bibliotecários. “O governo usa a máscara da sala de leitura para extinguir o cargo de bibliotecário em suas escolas”, diz Vera Stefanov, presidente do Sindicato dos Bibliotecários de São Paulo. Questionado, o governo paulista só mencionou a expansão de salas de leitura. São Paulo é o quarto estado com o pior índice de bibliotecas escolares, seguido por Acre (19,3%), Pará (18%) e Maranhão (15%). (Confira o gráfico abaixo.)

A lei que torna obrigatória a existência de bibliotecas baseia-se em evidências pedagógicas e científicas sobre os benefícios da leitura para o cérebro da criança e seu desenvolvimento – como estudante e como cidadão. Um estudo da Universidade York, do Canadá, constatou que crianças expostas a livros têm mais facilidade em lidar com opiniões e sentimentos alheios. Quando mediada por familiares, aponta pesquisa da Faculdade de Medicina de Nova York, a leitura contribui para estreitar vínculos afetivos e estimular o diálogo. Entre seus benefícios, destacam-se também a expansão do vocabulário e o desenvolvimento da memória. A exposição constante à literatura é a forma mais eficiente para combater o analfabetismo funcional, do qual 27% da população brasileira padece. “A dificuldade em interpretar o que leem ocorre basicamente porque as pessoas ainda não automatizaram a decodificação das palavras. Isso ocorre somente com o hábito da leitura”, disse a ÉPOCA Stanislas Dehaene, neurocientista francês que pesquisa distorções cognitivas no aprendizado.

>> Stanislas Dehaene : "A neurociência deve ir para a sala de aula"

Bibliotecas são espaços férteis para atividades que estimulam a leitura, a narração de histórias e a criatividade. Sidineia e seus colegas da biblioteca já se acostumaram a tirar as histórias das prateleiras e transformá-las numa infinidade de atividades que envolvem toda a comunidade. Poemas de Drummond embalam melodias de baião. Versos de Manoel de Barros inspiram encenações teatrais. Textos de Simone de Beauvoir iniciam discussões sobre violência contra a mulher. “A vizinhança se envolve em discussões sobre política e direitos humanos”, diz Sidineia. Em cinco anos, o Pílulas de Leitura, projeto dessa biblioteca, alcançou 12 mil crianças de Parelheiros. Em um país com 13 milhões de analfabetos, iniciativas como essas são a melhor resposta da população para um exemplo de descaso do poder público com a educação brasileira.
 
 
BEATRIZ MORRONE E FLÁVIA YURI OSHIMA 
 
FONTE: http://epoca.globo.com/ideias

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O que os professores brasileiros pensam da educação?

Segunda edição da pesquisa Conselho de Classe traz opiniões sobre a profissão e o contexto educacional do país

Falta de acompanhamento psicológico para os alunos, defasagem de aprendizado, fortalecimento da profissão e formação continuada são algumas das maiores preocupações dos professores brasileiros. Isso é o que demonstra segunda edição da pesquisa Conselho de Classe, realizada pela Fundação Lemann com o apoio do Instituto Paulo Montenegro.

Com o objetivo de dar voz aos educadores brasileiros e identificar a percepção deles sobre os principais desafios do cotidiano escolar, a pesquisa ouviu professores de escolas públicas de todo o país. Por meio de um estudo quantitativo e qualitativo, profissionais que atuam no ensino fundamental e médio foram questionados sobre diversos assuntos, como as maiores urgências educacionais, quem mais oferece apoio para suas dificuldades cotidianas, quais ações deveriam ser priorizadas para melhorar a educação e a participação em atividades de formação continuada.
Quais são as maiores urgências para os professores brasileiros?
Para os professores ouvidos pela pesquisa, a falta de acompanhamento psicológico para os alunos que precisam é a maior urgência a ser enfrentada no cotidiano escolar. O resultado apareceu como prioridade em todas as regiões do país, incluindo também outras preocupações, como a indisciplina das turmas, a defasagem de aprendizado, a aprovação de alunos que não estão preparados para o próximo ciclo e a necessidade de envolvimento da escola em problemas sociais e familiares dos alunos.

Como apoio para enfrentar esses desafios, os professores dizem contar com o diretor (73%), o coordenador pedagógico (68%) e outros colegas da escola (48%). Eles ainda expressam o desejo de ter a colaboração de outros profissionais para enfrentar as demandas da sala de aula, apontando que a secretaria de educação deveria oferecer psicólogo (50%), psicopedagogo (28%), assistente social (8%), mediador de conflitos (7%) e fonoaudiólogo (4%). “Somente com aprendizagem, nós já temos muitos problemas e demandas dentro da sala de aula”, afirmou uma professora do ensino fundamental 2 citada na pesquisa.
Quem dá apoio ao professor para enfrentar os desafios da sala de aula?

Ao constatar que as urgências são similares para educadores de diferentes etapas de ensino e regiões do país, o levantamento também identificou que os professores desejam contar com um apoio maior desses profissionais especializados. No entanto, os desafios da sala de aula ainda passam por outras demandas, como a garantia do aprendizado de todos os alunos. Entre os entrevistados, 51% dos professores dizem que a defasagem de aprendizagem dos alunos em relação à série que estão é uma das maiores dificuldades enfrentadas para colocar o currículo em prática na sala de aula.

De acordo com a pesquisa, na percepção dos educadores, os desafios da defasagem devem ser levados em conta pela rede ao implementar um currículo. “Na mesma classe tem alunos avançados e alunos abaixo do básico. Então, como preparar uma aula? Como lidar com isso em sala de aula?”, ilustra a pesquisa, ao citar a fala de uma professora ouvida durante o estudo qualitativo.

Ao serem questionados sobre as ações que deveriam ser priorizadas para melhorar a educação, um em cada quatro professores apontou o investimento na carreira, incluindo aumento do piso salarial (14%) e melhora no plano de carreira (10%). A prioridade apontada por eles, no entanto, foi o investimento em programas de formação continuada (17%). Sete em cada dez professores dizem ter participado de formações no último ano, mas o estudo aponta que, segundo eles, as formações não dão conta de resolver completamente as necessidades da escola.
Quais são as maiores dificuldades para colocar em prática o currículo?
 por Redação 29 de julho de 2016 

http://porvir.org/os-professores-brasileiros-pensam-da-educacao/

FORMAÇÃO DOCENTE

Veja cinco pontos para qualificar a formação docente, segundo António Nóvoa

Você encontra similaridade entre a atuação de um professor e um médico? Acha que a formação desses profissionais pode, em alguma medida, dialogar? O reitor da Universidade de Lisboa, doutor em educação pela Universidade de Genebra, António Nóvoa partiu da análise da proposta formativa da Harvard Medical School para trazer reflexões sobre a carreira docente no Brasil.
 
Em encontro realizado no Instituto Singularidades, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, em São Paulo, na última quinta-feira (28/07), o especialista foi taxativo ao dizer que “formar um professor é formar um profissional da educação, assim como formar um médico”, fazendo menção à necessidade da atuação docente ser vista como uma profissão e, portanto, receber toda a importância de qualidade, recursos e investimentos.

Pesquisador reforçou a necessidade da carreira docente ser vista como profissão. Créditos: Instituto Península

Estudo de caso e reflexões

Nos últimos meses, Nóvoa se dedicou a estudar o programa de formação da universidade norte-americana e resgatou alguns pontos que, segundo ele, tornam o processo formativo mais significativo. Como primeiro ponto, o pesquisador apontou a cerimônia simbólica que marca a entrada dos recém formados na universidade. Estudantes, professores e médicos já atuantes entregam o jaleco aos egressos, “o que significa que toda a comunidade se responsabiliza pela formação dos futuros médicos”, ressaltou.

Outra questão, é o fato da universidade defender uma experiência individualizada como estratégia de formação, entendendo que cada sujeito tem um percurso próprio de aprendizagem a ser seguido. A condução formativa ainda se dá de maneira entrelaçada, se afastando de uma proposta estratificada de currículo. “Ele [o currículo] se apresenta integrado e integrador, aproximando a teoria e a prática em todos os momentos”, reconheceu.

Nóvoa também falou das matérias que acabam sendo desenvolvidas a partir de instrumentos, como explicou. “O tempo na universidade é utilizado para o estudo de casos e problemas, e não para as disciplinas, contribuindo para que haja uma visão integrada das questões que cercam a Medicina”. Isso se ancora em um ambiente colaborativo, em que se reconhecem um esforço de socialização, além de dinâmicas de inter-cooperação.

Por fim, o pesquisador citou o compromisso com a pesquisa e a ação, como forma de valorizar e sistematizar o conhecimento que é construído dentro da profissão, a partir de seus problemas reais. E também a ligação com o exterior, propondo diálogo permanente com a comunidade.

Dos médicos aos professores


Nóvoa defende que as propostas formativas valorizem os percursos individuais. Créditos: Instituto Península

Para Nóvoa, a agenda da formação docente incorre em um erro central. Ele coloca que muito se diz sobre o que os professores têm que ter ou fazer, de maneira geral, e pouco ou nada se diz sobre como cada professor pode se encontrar individualmente na profissão.

“Como que eu me formo como profissional, encontrando a minha própria maneira de ser professor, em conjunto com outros profissionais, pesquisando e agindo no campo institucional da escola, sem nunca exercer o exercício público da minha profissão?”, provocou.

A partir disso, o especialista elenca cinco pontos que, a seu ver, podem qualificar as práticas formativas iniciais e continuadas e consequentemente o percurso desses profissionais.

1. Disposição pessoal
Nóvoa defende que as formações docentes garantam espaços e tempos para um trabalho de autoconhecimento, de autorreflexão, de maneira que os professores partam de suas histórias pessoais, de vida, de sua subjetividade para então formatar a sua identidade profissional.

2. Composição pedagógica
Também entende a importância de que haja processos de composição pedagógica, que permitam aos professores fazerem diferentes elaborações e encontrarem seus próprios modos docentes, com autonomia e conhecimento profissional.

3. Interposição profissional
O trabalho, a seu ver, deve partir da socialização e da colaboração entre os pares, esforço que, em sua análise, deve estar presente desde o primeiro dia da formação. Nóvoa ainda defende que os percursos se deem em comunidades práticas de aprendizagem.

4. Proposição institucional
Reforça a necessidade dos docentes conquistarem seu espaço na escola, firmando a sua posição profissional e participando do projeto educativo da instituição, a partir de uma postura ativa, criadora e transformadora.

5. Exposição pública
Por fim, reconhece a importância de que os professores atuem em outros espaços além da escola, como na comunidade, e também nos espaços públicos da educação. “Hoje vejo fragilidade na presença dos professores nos espaços das políticas públicas educacionais, e é imprescindível que esse lugar seja ocupado”, finalizou.
 
 
Por Ana Luiza Basílio  
 
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