quarta-feira, 18 de outubro de 2017

É preciso redefinir o sentido da palavra Biblioteca

Luís Antonio Torelli fala sobre a importância da universalização das bibliotecas


A lei de universalização das bibliotecas, nº 12.244, de 2010 prevê que os sistemas de ensino do país deverão desenvolver esforços progressivos para a universalização das bibliotecas escolares, num prazo máximo de 10 anos. Isso significa que todas as instituições de ensino do país, públicas e privadas, deverão ter uma biblioteca, até 2020; cabendo ao sistema de ensino determinar a ampliação desse acervo, assim como divulgar orientações para a organização e funcionamento do espaço.

A primeira preocupação que surge ao olhar para esse texto, é observar o nosso momento atual em relação às bibliotecas do país. Essa lei é muito bem-vinda. Mas infelizmente, ela sozinha não basta, até porque não está prevista nenhuma penalidade ao município que não se adequar. Bibliotecas importantes estão fechando e outras permanecem à míngua sem condições de renovarem seu acervo. Além disso, um dos programas do Governo Federal que era responsável pela renovação do acervo escolar, o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), foi revogado nos últimos meses. Há um argumento de que as bibliotecas estão abastecidas. Mas é só fazer uma breve pesquisa para perceber que em vários cantos do Brasil há algumas bibliotecas em situações precárias. Acervo não renovado, número insuficiente de funcionários, péssimas condições no espaço e equipamentos, além de faltar vida: livros parados no lugar, silêncio e poeira não fazem uma biblioteca sobreviver.

Esses casos de abandono acontecem em todo país e nos trazem profunda desolação. Em alguns locais, as bibliotecas se transformaram em meros depósitos para guardar os livros. É claro que a preservação das obras literárias é uma das funções primordiais de uma instituição como essa. Mas ela não deveria existir somente para isso. É urgente redefinir o sentido da palavra Biblioteca, e tudo o que ela envolve.

A biblioteca é fundamental para formação de leitores, ela também serve como espaço para dar vida às criações das obras literárias. Ela é a extensão desse mundo imaginário que reconhecemos em letras. Ela pode ter muitas outras seções vivas, de discussão, salas de leitura, contação de histórias. E um dos pontos fundamentais: o acervo precisa ser atual, repleto de lançamentos, além de servir como suporte a trabalhos de pesquisas. E isso desde já, para todas as faixas etárias. Segundo dados do anuário Brasileiro da Educação Básica, do Todos pela Educação, foi constatado que apenas 13,3% das pré-escolas tem salas de leitura. É um número muito baixo para uma fase de formação do público leitor.

Acredito que um projeto de teor tão importante, como a lei de universalização das bibliotecas, que está relacionado ao aumento de leitores no país deveria ser um dos focos principais dos Ministérios da Cultura e Educação, e hoje ele parece um pouco esquecido. Por isso, sempre que é possível eu levo esse assunto a mesas de debates, principalmente com o poder público. Temos pouco tempo para fazer valer essa lei tão necessária. Se chegarmos até 2020 diante o cenário atual, o risco é nos alongarmos com esse processo moroso e sem resolução por mais um tempo. Não podemos esperar, os livros continuam sendo criados, enquanto muitos estudantes se formam sem usufruírem de toda riqueza que as estantes de uma biblioteca podem oferecer.


* Luís Antonio Torelli é presidente da Câmara Brasileira do Livro.
http://www.publishnews.com.br/materias/2017/10/11/e-preciso-redefinir-o-sentido-da-palavra-biblioteca

4 coisas ainda desanimadoras da rotina do professor no Brasil - e 3 coisas que estão melhorando

Ninguém questiona a importância da educação e do professor para o avanço do Brasil, mas como fazer para que isso seja efetivado costuma gerar bastante debate - e esforço.

Image captionProfessores se queixam de desvalorização profissional, 
algo que envolve de plano de carreira a uma formação melhor 
(Foto: Pedro Ribas/ANPr)

Aproveitando a comemoração do Dia do Professor, neste domingo, a BBC Brasil perguntou a especialistas e professores quais os principais desafios atuais da profissão - e o que está avançando, mesmo que aos poucos e não uniformemente.

Veja abaixo alguns dos pontos mais citados.
Desafios:
1. Violência em sala de aula

Os socos que um aluno de 15 anos desferiu em uma professora em Indaial (SC), em agosto, abriram um debate nacional sobre a violência no ambiente escolar.

Em São Paulo, 51% dos professores entrevistados por uma pesquisa encomendada pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado) disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência na escola; e 61% dos docentes e 72% dos alunos consideram a escola um ambiente de violência.

Para Maria Izabel Azevedo Noronha, professora e presidente da Apeoesp, a violência é "consequência do abandono da escola pública", citando superlotação de salas de aula e enxugamento de funcionários. Tudo isso, diz, dificulta aos professores conhecer individualmente os problemas de cada aluno.

Também em São Paulo, o governo estadual prometeu dobrar o número de professores-mediadores de conflitos para um total de 6,8 mil - algo que Noronha considera uma "resposta correta, ainda que não seja a salvação".

O problema é complexo porque a escola é um microcosmo que espelha a violência da própria sociedade, explica Inês Kisil Miskalo, gerente-executiva de educação do Instituto Ayrton Senna. E reflete tanto o baixo reconhecimento social do professor quanto a vulnerabilidade dos próprios estudantes.

"Estamos muitas vezes lidando com alunos defasados, desmotivados, de famílias carentes. É algo que precisa ser enxergado não pela via policial, mas do relacionamento - acolhendo os alunos e suas famílias", opina Miskalo.

"Não é algo fácil, mas precisamos romper os ciclos de violência e também dar mais perspectivas de trabalho aos professores, mostrar que seu trabalho não é isolado, é coletivo."

2. Desvalorização da carreira - financeira e socialmente

A baixa valorização e remuneração do professor gera um ciclo vicioso: a carreira não consegue atrair os melhores estudantes, as deficiências de formação se perpetuam e refletem na qualidade do ensino.

Image captionFormação inicial de docentes não articula teoria
com a realidade em sala de aula, dizem especialistas
(Foto: Marcos Santos/USP Imagens)
Essa desvalorização começa, segundo professores e especialistas, na ausência de planos de carreira em grande parte da rede, na defasagem salarial em relação às demais profissões e na formação deficiente.

A cada 100 alunos de pedagogia ou licenciatura, só 51 concluem o curso, o que ilustra algumas das dificuldades de formação de novos professores, afirma Olavo Nogueira, diretor de políticas públicas do movimento Todos Pela Educação. "Não é à toa que já faltam professores em algumas disciplinas."

"Valorização passa por salário, formação continuada e por (solução de) problemas estruturais", afirma Noronha, da Apeoesp. "Há professores de física, química e artes, por exemplo, que chegam a acumular mil alunos em uma única escola. É muita coisa."

E há, também, a desvalorização social. Em 2013, o levantamento Índice Global de Status de Professores, que mede o respeito e o status dos docentes na sociedade, colocou o Brasil no penúltimo lugar entre 21 países avaliados.

"É preciso reconhecimento público para o professor, indo além da remuneração", diz Miskalo, do Ayrton Senna. "Isso envolve jogar luz nos bons professores, bater palma para eles, levá-los para a universidade para que contem (a futuros docentes) os segredos que usam na alfabetização, por exemplo."

3. Formação que não prepara para a aula

"Não é incomum ouvir de professores novos: 'não imaginava que seria tão difícil' ou 'não tenho a menor ideia de como agir em sala de aula'. Isso porque a formação não os prepara para a docência", afirma Olavo Nogueira.

Especialistas são unânimes em dizer que a formação atual dos professores não dialoga com a realidade que encontrarão dentro das escolas, nem com os desafios da educação para o século 21.

"O professor leva um choque de realidade: ele não aprendeu elementos para transformar a teoria em ação dentro da sala de aula", diz Miskalo.

No ensino médio, há uma dificuldade adicional: o deficit de professores formados nas disciplinas em que atuam, como química e física. Segundo o Censo Escolar de 2016, apenas 55% dos professores dessa etapa têm formação superior na área em que lecionam.
Image captionProfessores muitas vezes não estão preparados
para lidar com turmas grandes e alunos defasados em relação a
sua idade (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Essa é, na visão do Ministério da Educação, o maior desafio atual da docência. "São 2,2 milhões de professores e grande parte deles não é formada na área em que atua", diz nota do MEC à BBC Brasil, agregando estar finalizando uma política nacional de formação de professores articulada à nova Base Nacional Curricular, quando esta for homologada.

A formação atual tampouco acompanha as transformações na educação - cada vez mais multidisciplinar, centrada no aluno e incorporando habilidades socioemocionais, como trabalho em equipe e resolução de problemas.

"Bons educadores fazem isso quase instintivamente porque sabem que é importante, mas isso precisa ser explícito e planejado", afirma Miskalo.

O MEC afirma que isso será enfrentado com a nova Base Curricular.

"A base nacional está organizada por competências e norteará os currículos dos sistemas e redes de ensino. (...) No momento em que a Base for homologada, o MEC promoverá ações de formação a todas as redes e sistemas de ensino, para a preparação de currículo e professores. Dessa forma, o aprendizado terá sentido organizado nessas competências e não somente do ponto de vista de uma lista de aprendizados de conteúdos aleatórios", diz o ministério.

4. Defasagem e indisciplina dos alunos

Uma pesquisa realizada em 2015 pela Fundação Lemann perguntou a professores quais problemas requeriam solução mais urgente nas escolas, e dois dos mais citados foram a defasagem de aprendizado dos alunos e a indisciplina em sala de aula.

A cada cem alunos do ensino básico, cerca de 12 estão com um atraso escolar de dois anos ou mais, segundo dados de 2016 compilados pela plataforma QEdu.

"É diferente se preparar para dar aula para uma sala de crianças de dez anos e (ter na mesma sala) crianças de 14 anos, que têm outros interesses e percepções", explica Mônica Gardelli Franco, ex-professora e atual superintendente da organização Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).
Image captionProfessora Marcia Friggi após agressão
em sala de aula; caso abriu debate nacional sobre violência
no ambiente escolar (Foto: Reprodução/Facebook)

Sobre a indisciplina, ela conta que os professores não costumam receber, em sua formação, ferramentas para lidar com a dispersão dos alunos e a falta de foco.

E o tempo gasto com isso consome minutos preciosos de aula, que deixam de ser usados na transmissão de conteúdo.

"Perco cerca de 60% do meu tempo em aula resolvendo conflitos paradidáticos, por exemplo falando de valores (sociais) ou da importância de preservar o bem público", lamenta, em entrevista à BBC Brasil, Jorge Jacoh Ferreira, 35 anos, professor da rede municipal do Rio no subúrbio carente de Santa Cruz.

O Ministério da Educação diz que o tema preocupa. "O MEC vem discutindo propostas e possibilidades acerca da formação de professores para atender a esses desafios", diz o órgão em nota.

Avanços:
1. Tecnologia a serviço da sala de aula

A tecnologia já ajuda gestores e professores a preparar aulas e acompanhar seus resultados.

O Google, por exemplo, disponibiliza ferramentas gratuitas para escolas públicas que permitem criar salas de aula na nuvem, distribuir tarefas, organizar avaliações e medir o desenvolvimento da turma.

Direito de imagemGETTY IMAGESImage caption Indisciplina
e defasagem são algumas das queixas mais comuns de docentes em pesquisa
Softwares de Inteligência Artificial já são parte da rotina de algumas escolas públicas e privadas brasileiras e, à medida que são usados pelos alunos, incorporam informações sobre eles para melhorar processos de aprendizagem.

"É um conjunto de ferramentas estatísticas que cria mais conhecimento quanto mais os alunos (a utilizarem)", disse à BBC Brasil em agosto Leonardo Carvalho, cofundador da empresa Geekie, que fornece o software. "Em uma sala com 50 alunos, o professor não consegue ver (a dúvida exata) de cada um. O programa faz isso de modo escalonado."

Por si só, a tecnologia não necessariamente impacta a educação de modo positivo. O importante, dizem especialistas, é que ela apoie (e não substitua) o docente.

"A tecnologia pode ocupar um espaço (de facilitar tarefas) e deixar o professor mais livre para a construção do pensamento crítico e analítico e das relações em sala de aula", diz Gardelli Franco, do Cenpec.

No Rio, Jorge Jacoh Ferreira diz que seus colegas já usam bancos de dados online para lançar notas, por exemplo. "A dificuldade é a infraestrutura: tem dias que a internet funciona; tem dias que não. Gostaria de usar o Google Earth nas minhas aulas, mas não consigo porque o 4G não funciona."

A infraestrutura é, de fato, um dos principais entraves ao uso da tecnologia. Segundo dados do Censo Educacional 2016 tabulados pelo QEdu, 68% das 183,3 mil escolas básicas do Brasil têm internet. A banda larga está disponível em apenas 56% delas.

2. Mais compartilhamento de boas práticas

Seja via grupos formados em suas próprias redes de ensino, seja por articulação própria nas redes sociais, os professores têm encontrado cada vez mais caminhos para compartilhar boas ideias para ajudar os colegas em sala de aula.

"O professor, quando ganha conectividade, está sempre em busca de novas referências e modelos", diz Gardelli Franco. "Os espaços virtuais favorecem muito isso. Os próprios professores constroem redes dentro de seus grupos, obtendo mais referências (para usar em sala de aula)."
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionEnsino
muitas vezes está desconectado da rotina dos alunos e das demandas do século 21
"Já usei a ideia de um colega de São Gonçalo (RJ) que conheci vias redes sociais e que está dando bons resultados em sala de aula: um jogo de cartas que ajuda em interpretação de texto e pensamento estratégico", conta o professor Jorge Ferreira.

"Mas acho que isso ainda é algo feito totalmente por iniciativa dos próprios professores, que têm brigado muito para se articular por conta própria."

3. Mais possibilidades de formação

Especialistas e professores veem mais opções de cursos de pós-graduação e mestrados, bem como plataformas online gratuitas como Khan Academy e Coursera, que ampliam o leque de possibilidades de formação à distância.

No âmbito do Ministério da Educação há a Universidade Aberta do Brasil, sistema de universidades públicas que dá prioridade a professores na oferta de cursos de nível superior à distância.

Para o professor Jorge Ferreira, porém, é preciso que as redes de ensino valorizem a formação.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionTecnologia
pode ser aliada do professor na gestão escolar e no
acompanhamento do desempenho dos alunos
"Na minha rede, eu ganharia bônus de 7% com mestrado. Vou investir dois anos de estudo por um bônus medíocre?", questiona.

Segundo Olavo Nogueira, do Todos Pela Educação, "vemos que o mais eficiente são os programas de formação continuada, articulados, em que professores consigam observar uns aos outros em atuação. Há muitos cursos que, apesar do investimento alto, trazem pouca melhoria na prática."

Para concluir, Nogueira diz que o professor não vai resolver sozinho os problemas da educação - mas agrega que, sem eles, é bem possível que nenhum problema seja resolvido.

"Não tem atalho. Avançaremos pouco com a mudança da base curricular ou com a reforma do ensino médio, por exemplo, se não lidarmos com as questões (enfrentadas) pelos professores."

Paula Adamo Idoeta - @paulaidoetaDa BBC Brasil em São Paulo

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41520242

Perfil do professor precisa se adaptar aos novos tempos



Mudanças sociais e digitais se refletem em sala e exigem aulas mais dinâmicas e analíticas 

RIO - No mundo dos negócios, quem aponta os rumos do mercado é a clientela. Se a demanda for maior do que a oferta, aumenta-se o preço. Do contrário, promoções. Na carreira dos professores — os homenageados deste domingo — a regra é a mesma. Por mais que o estudante seja um aprendiz, e não um consumidor, é ele quem determina, no fim das contas, os caminhos da aula. E como os alunos mudaram, seus mestres precisam se adaptar. Em um mundo cada vez mais digital e de informações acessíveis, a dinâmica de ensino e outra.
Andrea Ramal, consultora em educação e responsável por projetos de formação para professores, explica que há uma grande tendência mundial chamada “metodologia ativa”, em que o foco deixa de ser o professor centralizador do conhecimento e passa a ser o estudante participante, por meio de discussões e tecnologias. Cabe ao docente a função de ensinar o aluno a refletir e discernir as informações.
— Não adianta gastar o tempo na sala apenas expondo material. A tendência é deixá-lo ver os vídeos na internet antes e aproveitar o tempo para fazer estudos de casos, orientações e tirar dúvidas. Isso exige um bocado do professor, porque é mais fácil levar uma aula pronta — avalia Andrea.
Esta mudança é também destacada por João Carlos Padilha e Silva, diretor acadêmico do Centro Universitário Celso Lisboa, e por Cláudio Tomanini, professor de MBA da FGV. Para eles, não se trata apenas de oferecer avançados recursos tecnológicos (que são relevantes e bem-vindos), mas, também, criar um espaço em que a proposta central não é passar adiante o que sabe, mas sim interagir e ensinar o aluno a questionar, analisar e filtrar a enxurrada de informações recebidas diariamente.
Outro ponto levantado pelos profissionais é que, além de levar o estudante a ser mais analítico, o professor tem o papel de ajudá-lo a desenvolver sua capacidade de ser um cidadão responsável no uso da informação. Isso significa tanto impedir o aumento da disseminação de informações falsas pelas redes sociais, quanto saber digerir o que se recebe.

— Antes, o professor tinha esse papel de deter a informação e ensinar o que tinha. Agora, ele não é o único a deter o conhecimento. Essa nova relação mais dinâmica leva o profissional a buscar aulas menos teóricas e a ampliar os recursos didáticos para haver motivação do aluno — corrobora João Carlos.
Tomanini categoriza em três tipos de perfis de professores os mais comuns na pós-graduação. Um deles é o catedrático, que valoriza a formalidade de 20 anos atrás, em que ele centraliza o poder dentro da classe e o aluno tem que respeitá-lo de forma absoluta.
No outro extremo, diz, está aquele profissional que vê o estudante como cliente e tem medo de não ser querido pelos alunos. Aí, muitas vezes, a aula vira um show.
— E entre eles existe o mais equilibrado, cujo desafio é transformar a aula em algo dinâmico. Esse professor usa ferramentas de vídeo e uma linguagem mais coloquial, fala da atualidade, e não de cases antigos, integra e reconhece as competências individuais — afirma Cláudio Tomanini, que acrescenta:

— O aluno é mais superficial hoje, lê tudo sem se aprofundar. O nosso papel é ajudar a levá-lo a imergir, a ser analítico e crítico.
Segundo o consultor pedagógico da Eleva Educação, Daniel Jacuá, a tecnologia não apenas muda a relação entre professor e aluno dentro de sala como também pode — e deve — ser usada para incrementar a aula. Ele exemplifica com questionários online e em tempo real, vídeos, links, entre outras ferramentas.
— Hoje em dia, é preciso interagir com o alunos por meio da tecnologia, pois esta faz parte da realidade deles. O professor precisa estar atento e inserir na medida do possível. As experiências que estamos tendo dessa inserção tecnológica têm gerado mais impacto do que os métodos tradicionais — afirma Daniel.
OS PLANOS DE CARREIRA
Alunos com mais acesso às informações em um mundo digital crescente transformam a relação entre professor e aluno e o conteúdo apresentando em classe. E as mudanças vão além disso. Segundo os educadores, incluem salários, plano de carreira e condições de trabalho.
— É uma carreira desafiadora porque, dependendo da rede, as condições são difíceis. Não existe um cenário ideal e, muitas vezes, não há incentivo para o crescimento. Por outro lado, a despeito das barreiras, vemos em pesquisas que o que mais motiva é o brilho no dia a dia, o contato com aluno e fazer a diferença na vida de outras pessoas. Houve melhorias na profissão, mas ainda falta muito. É preciso avançar mais em condições de trabalho e plano de carreira — defende Olavo Nogueira, diretor de políticas educacionais da instituição Todos Pela Educação.
Ele levanta uma outra tendência no mercado: as instituições privadas têm se empenhado em planos de carreira para manter os professores em período integral, dando fim às jornadas múltiplas — um contraponto aos concursos.
— É uma tendência tímida, mas há uma percepção em algumas escolas de que esse modelo é benéfico para todos. O professor estreita os vínculos e tem um plano de carreira, enquanto o aluno e escola ganham a dedicação integral deste profissional.
SALÁRIOS MELHORES
Uma questão antiga e sempre presente na carreira do professor é a remuneração. Nem toda escola pública paga mal. E nem toda particular remunera bem os seus mestres. Isso vai depender do estado e do município, ou da empresa privada. Os salários, de maneira geral, estão melhores, ainda que aquém do ideal, segundo os especialistas.
— Nos ensinos fundamental e médio há uma procura maior dos profissionais pelas escolas particulares. Já no superior, os professores visam mais as públicas. Mas isso é bem relativo. Por exemplo, a UERJ está com salários atrasados, mas tem outras universidades que remuneram muito bem, assim como há municípios que pagam bem e oferecem uma projeção boa de carreira — explica a consultora na área de educação Andrea.
Tomanini critica o estigma de que professor ganha mal e defende que, se por um lado o ensino no Brasil não é reconhecido e há um grave problema social e político em torno disso, por outro há caminhos para aumentar a renda.
— A regra do mercado já está preestabelecida e o professor entra na carreira tendo consciência disso. Contudo, dentro da profissão dele, há outros caminhos. Claro que há diferenças sociais, mas o profissional também é responsável por sua transformação. Um exemplo são os professores de cursinho que conseguem explicar coisas complexas de uma forma que o aluno se identifica — argumenta Tomanini. — O que faz um profissional se destacar não é só o esforço, mas também ter uma gestão da própria carreira e ter um olhar de dinâmica diferenciada dentro da carreira, pensando fora da caixa.