segunda-feira, 31 de julho de 2017

Comissão aprova regulamentação da profissão de pedagogo


Morais: O pedagogo tem como principal função melhorar 
a qualidade da educação

A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público aprovou o Projeto de Lei 6847/17, do deputado Goulart (PSD-SP), que regulamenta a profissão de pedagogo.

Pelo texto, a profissão será privativa de portadores de diploma de curso de graduação em Pedagogia, para exercerem a docência, bem como atividades nas quais sejam exigidos conhecimentos pedagógicos.

De acordo com a proposta, são atribuições do pedagogo:
- planejar, implementar e avaliar programas e projetos educativos em diferentes espaços organizacionais; 
- gerir o trabalho pedagógico e a prática educativa em espaços escolares e não escolares; - avaliar e implementar nas instituições de ensino as políticas públicas criadas pelo Poder Executivo; 
- elaborar, planejar, administrar, coordenar, acompanhar, inspecionar, supervisionar e orientar os processos educacionais; 
- ministrar as disciplinas pedagógicas e afins nos cursos de formação de professores; 
- realizar o recrutamento e a seleção nos programas de treinamento em instituições de natureza educacional e não educacional; 
- desenvolver tecnologias educacionais nas diversas áreas do conhecimento.

Critérios
O parecer da relatora, deputada Flávia Morais (PDT-GO), foi favorável à proposta. “Diferentemente de outros projetos de regulamentação profissional, esta proposta não visa a criar uma reserva de mercado para os profissionais”, disse. “O objetivo da proposição é estabelecer critérios para o âmbito de atuação desses profissionais relativamente à sua formação e às suas atribuições”, completou.

Para a parlamentar, justifica-se a regulamentação “porque a atividade exige conhecimentos teóricos e técnicos, é exercida por profissionais de curso reconhecido pelo Ministério da Educação e o mau exercício da profissão pode trazer riscos de dano social no tocante à educação”.

Conselho
O projeto determina que o Poder Executivo deverá criar o Conselho Federal de Pedagogia para fiscalizar a profissão. Esse órgão, bem como os conselhos regionais, será responsável por regular sobre jornada, piso salarial, atribuições, direitos e deveres dos profissionais.

“Sendo aprovado este projeto, o presidente da República deverá enviar ao Congresso Nacional projeto de lei criando os conselhos, como exige a Constituição Federal, na medida em que tais entidades são consideradas autarquias especiais integrantes da administração pública”, destacou Flávia Morais.” Essa providência é fundamental para que o exercício da profissão do pedagogo seja devidamente regulamentado e fiscalizado”, completou.

Tramitação
A proposta será analisada, em caráter conclusivo, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Lúcio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados

ÍNTEGRA DA PROPOSTA:
Reportagem – Lara Haje
Edição - Marcia Becker

FONTE: http://www2.camara.leg.br

O brasileiro e a falta de gosto pela leitura: mito ou verdade?

Pesquisa recente aponta que a maior parte da população brasileira se considera leitora, no entanto, o tabu de que o Brasil não é um País leitor continua firme e forte. Por que isso acontece?

Pensar que existem um milhão de outras atividades mais legais que ler um livro não é algo que acontece com poucas pessoas. Para Tatiana Cersosimo, o grande leque de coisas para fazer nos dias de hoje é o principal competidor na corrida do desinteresse pela leitura . Antigamente, para a estudante de comunicação, não eram tantas as opções para ocupar o tempo e por isso o ato de ler era realizado por mais pessoas, com mais frequência.

Edu Cesar/iG
Literatura no metrô: Mauricio Lima, 32, farmacêutico, lê 'O Cavaleiro dos Sete Reinos', de George R. R. Martin: 'É uma história fantástica, que se passa na época medieval'

No Brasil , não é só Tatiana que pensa assim. Muitas das pessoas dessas terras tropicais reproduzem, reiteram e reafirmam aquela velha história de que o brasileiro não tem gosto pela leitura . Por ser do tipo de coisa que só se fala e não se comprova, é que o iG Gente resolveu olhar com um pouco mais de profundidade para essa questão e refletir: será que o brasileiro não se interessa mesmo por leitura?

De acordo com a 4ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, desenvolvida em março de 2016 pelo Instituto Pró-Livro, leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. Entrando para o grupo que compõe o time dos que estão sempre com um livro ao alcance da mão, Gabriela Colicigno concluiu 73 leituras em 2016 e, agora em 2017 já está na sua 24ª. “Eu sempre gostei de ler. Aprendi a ler com quase 4 anos. Lia muito gibi e quando eu fiz 8 anos ganhei os primeiros livros do Harry Potter”, conta. “Descobri que tinha livros maiores e comecei a comprar tudo que eu achava”, completa.

O mito do brasileiro não leitor

Ainda segundo a 4ª e mais recente edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, de 2016, a estimativa de público leitor no Brasil levantada no ano de 2015 bateu os 104,7 milhões de cidadãos. Em porcentagem, isso representa 56% dos 188 milhões de respondentes da pesquisa, deixando sobrar outros 44% que se autodenominam não leitores. Como costuma-se ouvir por aí, dados não mentem e dessa vez não é diferente.


De acordo com esse levantamento de apenas dois anos atrás, essa história de que o brasileiro não gosta de ler é um mito, já que a principal motivação para leitura registrada pelo estudo foi o gosto pessoal. No entanto, ainda assim existe uma boa parcela da população que não sente o mínimo de entusiasmo quando o assunto é mergulhar nas páginas de um bom (ou ruim, nunca se sabe, né?) conteúdo.


Nesse sentido e em um bate-papo com a professora de língua portuguesa e linguista Roberta Roque Baradel, não foi difícil perceber que quando falamos na recusa às capas duras e páginas acumuladas, as justificativas vão bem além dos limites de mero desinteresse. De acordo com a professora, a afirmação de que o brasileiro não gosta de ler é uma parte que não pode falar pelo todo. “Eu acho que não é completamente verdadeiro. A questão é que ler é um hábito que a gente não cultiva desde cedo”, diz a docente.

Edu Cesar/iG
Literatura no metrô: A professora de inglês Kim Lucas, 42 anos, lê 'Madame Bovary', de Gustave Flaubert: 'Mudei meu estilo de leitura no Brasil'

Segundo Roberta, muitas vezes a indiferença com a leitura pode ser resultado da obrigatoriedade de ler livros específicos numa certa fase da vida escolar. “A escola às vezes pede coisas fora da contexto para ler. Isso é um pouco enfadonho, dá preguiça nos alunos porque é aparentemente chato”, explica. “A escola não ativa isso e, nem sempre, a família também. Além disso, o mercado editorial não é tão atrativo assim”, complementa.

Entrando em acordo com o raciocínio da professora Roberta, Tatiana Cersosimo, que se considera uma pessoa sem muita simpatia com livros , pontuou que a fase escolar teve um peso considerável para que esse afastamento com a prática de leitura acontecesse. “Tive problemas com leitura quando era mais nova na escola. Eu não lia, não gostava e sempre ia mal nas provas por problema de interpretação de perguntas”, conta a estudante.

De acordo com Tatiana, o problema não são os livros em si, e sim a falta de O brasileiro e a falta de gosto pela leitura: mito ou verdade?
Fonte: Gente - iG @ http://gente.ig.com.br/cultura/2017-07-20/mito-brasileiro-leitura.htmlliberdade para poder escolher leituras de interesse pessoal além das que os colégios colocam como obrigatórias. “Eles sempre passam livros pra gente ler, mas acho que eles podiam deixar mais aberta nossa escolha de leitura”, completa.

Evitando perder a oportunidade de tornar o ato de ler algo natural e desmistificado, a professora Roberta contou como é que faz em sala de aula para icentivar a prática para os próprios alunos. “Nas aulas, quando são de literatura, eu fujo da ideia do clássico. Procuro não adotar o livro em si, mas uma versão adaptada pra que o interesse do aluno venha”, conta.

“No primeiro ano do ensino médio a gente tem que trabalhar lusíadas. Eu não vou fazer meu aluno ler o original e todas as páginas e versos. Já aconteceu de pais de alunos que não leem ou que não gostam de ler me dizerem ‘nossa, não sei o que aconteceu com esse livro, professora, no final de semana ele nem quis sair direito e terminou todinho’”, conta a linguista. “Ninguém vai querer ler o clássico de "Iracema" com 15 anos, vivendo uma situação completamente diferente. Por isso eu procuro trabalhar com adaptações que podem interessar o aluno e que permitem que a partir delas possam ser feitos jornais, debates, análises...”, complementa.

Agravantes do desinteresse

Olhando o raciocínio da professora e da estudante como dois limões para fazer uma limonada, a falta de uma visão simpática para a leitura, que deveria ter sido incentivada desde o início da vida intelectual, é o que afasta o brasileiro dos livros , mas não é por aí que os motivos para o desinteresse terminam.

Edu Cesar/iG
Literatura no metrô: O estudante Paulo, 16 anos, lê 'Os Jovens Perguntam - Respostas Práticas': 'Fala do jovem, de quando ele vai evoluindo, crescendo'

De acordo com os brasileiros entrevistados na última edição da pesquisa do Instituto Pró-Livro, existem algumas condições desfavoráveis que não contribuem para a formação do interesse pela prática da leitura. Entre elas, estão a falta de tempo, a carência de bibliotecas em mais lugares do Brasil e um fator crucial: os limites do poder aquisitivo de cada cidadão e cidadã.

“Acho a questão do dinheiro relevante porque às vezes um livro custa muito mais do que você tem naquela semana. O dinheiro é um fator importante porque é uma relação direta”, explica Roberta. “Um exemplo que é bem comum de algo que costuma acontecer muito em escola pública é você adotar um livro e ter que pensar na acessibilidade dele. Se ele for muito caro, alguns alunos podem não ter acesso essa leitura”, diz. “Se as pessoas tem um poder aquisitivo maior, pode ser que elas entendam melhor o poder da leitura e adquiram o hábito de ir sempre à uma livraria escolher um livro pra ler”, conclui a docente.

Para a amante de leitura e youtuber Gabriela Colicigno, o gosto por livros e por expandir ainda mais o horizonte não só de conhecimento, mas também de entretenimento , é também uma questão de influência. “As pessoas influenciam você a ler. Algumas pessoas que não tem a influencia desde crianças têm uma certa trava. Alguma coisa vai agradar”, diz. Em relação a desmistificação da ideia de “chatice” que sempre acompanha a prática de ler na cabeça de muitas pessoas, Gabriela concorda com Tatiana e Roberta no sentido de que isso se resolveria na fase escolar. “Nas escolas, por sermos obrigados a ler livros específicos, ficamos com esse ranço da leitura. Precisamos ler autores importantes, mas isso precisa ser abordado de uma forma diferente. Quando vira uma obrigação, as pessoas pegam birra mesmo”, opina.

Por Bruna Cambraia , iG São Paulo | 20/07/2017 05:00

Turbinando a máquina da aprendizagem

Juntos, tecnologia e professores podem renovar as escolas – mas ela precisa estar a serviço do ensino, e não o contrário

Em 1953, B. F. Skinner foi assistir a uma aula de Matemática na escola da filha. O psicólogo da Universidade de Harvard verificou que os alunos eram obrigados a aprender cada novo tópico da matéria da mesma forma e no mesmo ritmo. Dias depois, inventou sua primeira “máquina de ensinar”, que permitia às crianças lidar com os problemas cada qual em seu ritmo. Em meados da década seguinte, engenhocas semelhantes eram vendidas de porta em porta de uma ponta a outra dos EUA. Dali a alguns anos, porém, o entusiasmo se esvaíra.

Tecnologia pode beneficiar centenas de milhões de crianças Foto: REUTERS/Michael Kooren

Desde então, a tecnologia educacional volta e meia percorre o mesmo ciclo de euforia e desânimo, a despeito de os computadores terem transformado quase todas as outras dimensões da vida. O conservadorismo dos professores e de seus sindicatos é um dos fatores. Mas o fato de a tecnologia educacional ainda não ter comprovado seu potencial supostamente maravilhoso é outro.


Agora, porém, os herdeiros de Skinner estão obrigando os céticos a reavaliar seus conceitos. Com o apoio de bilionários da tecnologia, como Mark Zuckerberg e Bill Gates, escolas do mundo inteiro usam softwares para “personalizar” a aprendizagem. Centenas de milhões de crianças que não conseguem avançar nos estudos podem ser beneficiadas por isso — mas só se os entusiastas da tecnologia educacional resistirem à tentação de resgatar teses equivocadas e perniciosas sobre a maneira como as crianças aprendem. Para ser bem-sucedida, a tecnologia educacional precisa estar a serviço do ensino, e não o contrário.

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Lápis na carteira. O modelo convencional de educação surgiu no século 18, na Prússia. Até o momento, nenhuma alternativa a ele se mostrou capaz de ensinar tantas crianças com tanta eficiência. Salas de aula, classes agrupadas por idade, currículos padronizados e horários fixos ainda são a norma para o contingente de quase 1,5 bilhão de crianças matriculadas na educação básica em todo o mundo.

Muitas delas jamais chegam a desenvolver seu potencial. Em países pobres, apenas 25% dos alunos do ensino médio concluem os estudos com conhecimentos básicos em Matemática, Leitura e Ciência. Mesmo entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em sua maioria desenvolvidos, cerca de 30% dos jovens apresentam dificuldades em pelo menos uma dessas áreas.

Esse índice permaneceu praticamente inalterado nos últimos 15 anos — durante os quais as escolas receberam bilhões em investimento em tecnologia. Em 2012, já havia um computador para cada dois alunos em diversos países ricos. Na Austrália, seu número superava o de alunos. Utilizados de maneira incorreta, eles podem levar à distração. Estudo realizado em Portugal, em 2010, verificou que as escolas onde não havia acesso de banda larga à internet e onde sites como YouTube eram interditados apresentavam melhores resultados do que as que se encontravam na crista da onda da tecnologia.

O que realmente importa é a forma como a tecnologia é utilizada. Educação “sob medida” é uma das coisas em que ela pode auxiliar. Desde que o Rei Felipe II da Macedônia contratou Aristóteles para preparar seu filho Alexandre e ensiná-lo a ser Grande, pais ricos pagam professores particulares para seus filhos. De São Paulo a Estocolmo, os reformadores acreditam que a tecnologia educacional é capaz de pôr a atenção individual ao alcance de todos. Nos EUA, a adoção do modelo é acelerada. Um terço dos alunos do país estão em distritos escolares que assumiram o compromisso de implementar “uma aprendizagem personalizada e digital”. 

De olho no pessoal do fundão. Esse tipo de inovação é bem-vindo. Mas o aproveitamento de todo o potencial da tecnologia da educação depende da compreensão de vários elementos. Em primeiro lugar, a “aprendizagem personalizada” precisa acompanhar as descobertas sobre o modo como as crianças aprendem. Não pode servir como desculpa para a recuperação de ideias pseudocientíficas, como a dos “estilos de aprendizagem”, isto é, a tese de que cada criança tem uma maneira particular de absorver informações. 

Uma falácia de consequências menos graves é a de que, com a tecnologia, as crianças não precisam acumular conhecimentos nem assistir a aulas ministradas por um professor — afinal, o Google está aí para quê? Alguns entusiastas da tecnologia vão ainda mais longe, argumentando que os conhecimentos atrapalham o desenvolvimento de habilidades como criatividade e pensamento crítico. A verdade é o oposto disso. Uma memória abastecida de conhecimentos impulsiona essas habilidades. Na infância, William Shakespeare teve que decorar frases e regras gramaticais latinas, e mesmo assim conseguiu escreveu algumas peças de qualidade bastante razoável.

Em segundo lugar, é fundamental fazer com que a tecnologia educacional contribua para reduzir, e não aumentar, as desigualdades na educação. Nesse ponto, há razões para otimismo. Algumas das primeiras escolas a adotar a tecnologia são instituições particulares do Vale do Silício, mas há inúmeras escolas públicas seguindo o mesmo caminho.

Em terceiro lugar, a tecnologia da educação só realizará seu potencial se contar com a boa vontade dos professores. Eles têm razão em exigir provas de que a tecnologia funciona, mas o ceticismo não deve se tornar aversão despropositada. Nesse ponto, a rede pública do Estado de São Paulo é um exemplo a seguir: seus professores acolheram a contribuição da desenvolvedora de softwares adaptativos Geekie.

Em 1984, Skinner disse que a oposição à tecnologia era uma “vergonha” para a educação. Tendo em vista as promessas que a tecnologia educacional oferece hoje, não há lugar para cabeças tecnologicamente bitoladas em sala de aula.

TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER

FONTE: http://educacao.estadao.com.br

Educação e tecnologia lado a lado

Saber usar as plataformas digitais é o novo caminho para avançar na educação


(ThinkStock/ThinkStock)

O universo digital está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. Enquanto os mais velhos aprendem gradativamente como lidar com as novas tecnologias, as novas nascem navegando nas redes. Diante desse novo cenário, a educação também tem se adaptado para aliar as novidades ao aprendizado.

No dia a dia da sala de aula, professores têm que usar a criatividade e atualizar seus conhecimentos para conquistar a atenção dos nativos digitais, que encontram nas telas a principal fonte para suas curiosidades e entretenimento.

De olho nessa tendência, a empresária Danielle Brants, por exemplo, criou a Guten Educação e Tecnologia, que fornece a escolas uma plataforma digital de leitura e compreensão de textos jornalísticos. Graças ao negócio, ela concorre ao Prêmio CLAUDIA.

Conversamos com a mestre em linguística Leticia Reina, que é também gestora pedagógica da Guten sobre os desafios e evoluções da educação no mundo digital.

DESAFIO

Para os nativos digitais, navegar, buscar, prestar atenção no áudio, no texto escrito, nas imagens (tudo ao mesmo tempo) são movimentos muito naturais. O desafio está na interpretação dos textos, ou seja, em captar a mensagem real do conteúdo e ser capaz de estabelecer relações com outras fontes e com seu próprio conhecimento.

“Dessa forma, os recursos digitais devem ser instrumentos de mediação para se desenvolver as competências leitoras e a criticidade”, diz Leticia Reina. 

TECNOLOGIA COMO CAMINHO

As ferramentas digitais não substituem o professor em sala de aula ou a troca de conhecimentos entre colegas. O papel delas na educação é o de instrumento de mediação entre professor e aluno, entre aluno e texto, entre alunos e colegas.

“Elas devem estar a serviço da construção e transformação do conhecimento”, afirma a pedagoga. Cada recurso deve ser escolhido com um objetivo em sala de aula e não pode ter um fim em si mesmo. Deve ser um caminho para ampliação de repertório, de acordo com os conteúdos previstos no planejamento.

Ela contribui com o professor e com o crescimento do aluno, desde que bem escolhida e bem trabalhada.

ENTENDER É SABER

O educador deve sempre deixar claro para o aluno quais os objetivos de cada leitura. Seja um texto impresso ou em meio digital, o professor deve incentivar a leitura de modo que o estudante compreenda os usos reais e sociais do que foi lido.

Para isso, é preciso promover uma discussão que envolva a razão da escolha do gênero lido, os autores, as esferas sociais de circulação. Sempre conduzindo a uma leitura crítica, estabelecendo relações entre os textos, e entre os conteúdos aprendidos. 

LIMITES

Quanto mais se conversa em casa sobre as preferências da criança ou adolescente, mais se entende o mundo em que esse jovem está inserido, um mundo de múltiplos estímulos, visuais e auditivos, imagéticos e escritos. Tal conhecimento é essencial para saber impor limites.

O jovem pode ficar certo tempo conectado à internet, é claro. Mas isso deve ser limitado e monitorado pelos pais. É preciso ainda garantir momentos para a troca entre os familiares, para se estar ao ar livre, para conversar cara a cara. Afinal, a tecnologia é uma ferramenta e não pode ser a única fonte de informação e troca para as famílias.

DAR O EXEMPLO É ESSENCIAL

Um passeio à bibliotecas e livrarias, uma conversa sobre as histórias lidas, sobre a vida e a obra de autores preferidos podem ser boas opções para incentivar a leitura. O importante é a capacidade de interpretação. Os adultos também devem dar exemplos!

“Não adianta falar que ler um livro é importante ou que ficar o dia inteiro na internet não é legal se os próprios pais passam o dia conectados e não pegam em um livro nem na hora de dormir”, conclui Leticia.

FONTE: http://claudia.abril.com.br

5 filmes da Netflix retratam o valor da Pedagogia

Filmes mostram que, quando comprometida com a formação do sujeito, a Pedagogia tem alto poder de transformação

Imagem do filme O Aluno.

Educar é assumir um compromisso com a formação de um sujeito em sua integralidade, é trabalhar com a dimensão intelectual, mas também com a física, emocional, social e cultural. É considerar o estudante como o centro do processo de aprendizagem e partilhar a construção do conhecimento.

O Carta Educação selecionou cinco filmes disponíveis na Netflix para mostrar que, quando em diálogo com a realidade e comprometida com os estudantes, a Pedagogia tem um alto poder de transformação.

1. Preciosa – Uma história de Esperança (2009)
A jovem Claireece “Preciosa” Jones tem uma vida marcada por abusos. Grávida de seu próprio pai pela segunda vez, humilhada pela mãe, sem saber ler nem escrever, a jovem vê possibilidades de mudança ao ser transferida para uma escola alternativa e conhecer a professora Rain, que a ajuda no resgate de sua identidade e autoestima.

2. Escritores da Liberdade (2007)
Baseado em uma história real, o filme conta a história da novata professora Erin Grunwell, que chega a uma escola marcada por separatismos e preconceitos raciais. Obstinada a mudar a realidade da escola e de seus estudantes, a docente parte das histórias dos jovens para promover transformação.

3. A Voz do Coração (2003)
O professor Clément Mathieu assume a missão de ensinar música a crianças de um pensionato. Contrariando os métodos rígidos utilizados para conter as crianças indisciplinadas, o professor estrutura um coral e modifica as relações existentes.

4. O Sorriso de Monalisa (2003)
A recém-formada Katherine Watson é contratada para lecionar História da Arte na Wellesley College, uma escola só para mulheres. Além de lecionar, a educadora começa a confrontar os valores conservadores da instituição e a mostrar às suas alunas, de famílias tradicionais, que elas poderiam querer mais do que se casar no futuro.

5. O Aluno (2010)
O filme reconta a história de Kimani Maruge Ng’ang’a, um queniano que foi preso e torturado por lutar pela liberdade de seu país. Aos 84 anos, quando soube de um programa governamental de escolas para todos, Maruge se candidata a uma escola primária que atende crianças de seis anos de idade. Sua entrada acontece graças ao apoio de uma das professoras e ele também se torna um grande educador.

ANA LUIZA BASILIO

FONTE: http://www.cartaeducacao.com.br

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Formação Continuada

CEI investe no diálogo entre educadores para implementar formação continuada
 
Garantir a formação continuada de professores, diretores, coordenadores pedagógicos e funcionários de uma escola não é tarefa simples.

Para a Liga Solidária, organização sem fins lucrativos que desenvolve programas socioeducativos e de cidadania, esse encargo é ainda mais desafiante. Multiplica-se por nove — número de Centros de Educação Infantil (CEI) sob sua gestão.
 
A solução encontrada para tocar o processo, no entanto, relaciona-se menos com a lógica matemática e mais com o lado humano.

Das palavras usadas por Patricia Nunes Silva, pedagoga responsável pela formação continuada, “troca” é a que mais sobressai e define seu trabalho. “Não estou sozinha neste processo, tenho todo um suporte por trás. Estou junto com as educadoras e a Neide Cavalcante e a Aline Matas, que administram todos os CEIs. Eu só apoio estas trocas”, diz.

Creches conveniadas

As creches conveniadas prestam contas à Prefeitura de São Paulo sobre seus processos político-pedagógicos, administrativos e financeiros.

Com base em sua experiência como docente, Patricia organiza formações com as equipes de três formas diferentes: levando os educadores para congressos, workshops ou palestras, trazendo especialistas até as unidades para conversar e, por fim, ela própria discute e aplica questões teóricas no cotidiano escolar.

“Sempre tento trazer olhares diferentes para os educadores refletirem e inovarem em suas práticas. Quero que sejam autores, e não reprodutores, para que o processo educativo seja focado e crítico. Do contrário, só estaremos dividindo o espaço com as crianças e [a Educação Infantil] é mais do que isso”, explica.

Para tanto, visita as unidades e observa, a partir de uma perspectiva pedagógica, se o direito de aprender, brincar e interagir das crianças está sendo garantido. “Meu papel é acolher, mas também avaliar e ter rigor, plano formativo, metas e planejamento. Todo mundo vem aqui para dar o seu melhor, mas isso precisa estar de acordo com o contexto”.
Área para brincar e praticar esportes no Educandário Dom Duarte

Crédito: Ingrid Matuoka

Para cada unidade de CEI, Patricia dedica dois encontros mensais de 4 horas, tempo em que observa o que está funcionando, o que precisa melhorar e as necessidades individuais de cada coordenador, professor e aluno. Além disso, mensalmente, as nove coordenadoras se encontram para trocar experiências.

Há ainda a documentação das atividades e processos que são realizados, com a finalidade de manter a continuidade dos trabalhos para a próxima etapa educacional das crianças, evitar a repetição de atividades e permitir a troca entre as unidades. A proposta é que as crianças sejam sempre expostas a novidades que permitam trabalhar novas habilidades e conhecimentos.

“Todos são educadores quando estão em uma escola e precisam saber acolher”, diz a pedagoga Patricia Nunes

A pedagoga também explica que os demais funcionários dos CEIs — como cozinheiras e equipes de limpeza e apoio – passam pela formação. “Todos são educadores quando estão em uma escola e precisam saber acolher e ter sensibilidade”, diz.

A formação continuada em prática

O CEI João de Barro é uma das nove unidades de Educação Infantil da Liga Solidária e uma das seis que ficam no Complexo Educacional Educandário Dom Duarte, localizado no Jardim Esmeralda, na periferia da cidade de São Paulo.

O Educandário une os CEIs e outros programas socioeducativos em uma extensa área verde, repleta de espaços amplos para crianças e adolescentes brincarem e aprenderem. São, no total, 1360 crianças matriculadas.

Thais Rosa é a coordenadora pedagógica do CEI João de Barro desde 2014, onde trabalham 13 professoras, e afirma que a formação continuada é essencial. “A educação que eu tive anos atrás não é mais a mesma de hoje. Preciso entender quem são essas crianças e como elas aprendem agora”, diz.
Parceria: Lígia, Patricia e Thais caminham lado a lado

Crédito: Ingrid Matuoka
É no diálogo entre formadora e coordenadora que descobrem as dificuldades e necessidades, realizam planejamentos e sistematizam práticas. Além disso, discutem o perfil dos professores, das crianças e se o que estão desenvolvendo tem sentido e relação com a família e com a comunidade.

Neste tratamento, prevalece o respeito e a confiança. “Quando me aproximo das professoras, me aproximo também das crianças”, conta Patricia. “E então elas conseguem trazer suas dificuldades. Sentem confiança para continuar desenvolvendo o que sempre fizeram, com a bagagem que já têm”.

Por parte de Thais, essa abordagem faz toda a diferença. “A Patricia não vem aqui para supervisionar, apontar o que está errado e ir embora. Ela traz estratégias de como melhorarmos o nosso trabalho juntas”.

Lígia Mandu da Silva, uma das professoras do CEI João de Barro, conta que Thais participa de todos os planejamentos semanais de atividades das professoras, e que Patricia nunca foi uma figura ameaçadora. Essa proximidade faz com que ela se sinta à vontade para buscá-las quando encontra dificuldades. “Aqui, elas me veem como profissional. Aqui, eu realmente sou professora”, diz.
 
FONTE: http://educacaointegral.org.br

OPINIÃO

Mais escolas?
 

Em uma dinâmica de grupo, um candidato levanta a mão e pergunta: "posso ir ao banheiro?" Pensei: por que alguém tem esse comportamento tanto tempo após a formação no colégio? A metodologia educacional que temos no Brasil (região da Alemanha e Polônia) foi criada na Prússia em 1806.

O Estado assumia a educação para criar soldados e cidadãos obedientes, por isso a escola foi estruturada da maneira como conhecemos. Isso também explica a estrutura hierárquica de comando, a divisão com pessoas da mesma idade e conteúdo definido pelo Estado.

Após dois séculos, tudo evoluiu, mas o sistema de educação, não. Com tanta tecnologia e quantidade de informação, não é estranho que crianças e jovens sejam diagnosticados com TDAH? Eles são estimulados da maneira correta?

Este modelo de educação supervaloriza alguns conhecimentos, não oferta a pluralidade de ideias, instiga a decoreba e a comunicação com emissor e receptor, quando todos somos produtores e interlocutores de informação. Isso resulta em profissionais com deficiências básicas de conhecimento e jovens mais desinteressados nos estudos.

Não são as escolas atuais que vão formar pessoas questionadoras e capazes de fazer boas escolhas. A tecnologia traz possibilidades com salas de aula globais online e variados conteúdos e maneiras de aprendizado, tudo de graça, além de permitir aulas mais atraentes e dinâmicas. Após entender isso, percebi que o sistema é eficiente, se considerar seu objetivo inicial. Deveria ter me espantado com quem contratei: pessoas sem medo de arriscar e cheias de sonhos. Esse é o verdadeiro choque.

Mateus Azevedo
Empresário
 
FONTE: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br

Três projetos inovadores de leitura no Fundamental 1


 
 Caixas de leituras: estratégia eficaz no incentivo à leitura. Foto: Mara Mansani

Em junho, contei a vocês sobre a experiência de estágio diferenciado em minha escola, E.E. Professora Laila Galep Sacker, em Sorocaba/SP. Como já disse, a maioria de nossos estagiários são estudantes de Pedagogia da Universidade de Sorocaba (Uniso). Nessa proposta de estágio, há participação efetiva e comprometimento de todos. Isso proporciona muita aprendizagem em uma parceria onde todos só têm a ganhar: os estagiários, os professores, os alunos e a escola como um todo.

Mas, como já disse no outro post, essa parceria entre Universidade e escola vai muito além do estágio. Os alunos de Pedagogia, orientados pela professora mestre Ana Paula Germanos, transformam a teoria aprendida na academia em práticas educativas, que são vivenciadas em minha escola e em outras da rede pública da cidade, todas do Ensino Fundamental 1.

Eles desenvolvem projetos inovadores nas áreas de Língua Portuguesa, onde o foco é o incentivo à leitura, e em Ciências, onde são explorados temas que fazem parte do conteúdo do 3º ao 5º ano. Dessa forma, esses estagiários vão experimentando, desde já, as diversas possibilidades de aprendizagem que as práticas educativas inovadoras proporcionam. Com certeza, isso impactará positivamente na formação de um profissional mais qualificado.

Nos tópicos a seguir eu explico um pouco os projetos que são feitos pelos estudantes de Pedagogia, e que também podem ser realizados por vocês, queridos professores:

As caixas que contam histórias

Os estagiários, no componente "alfabetização e letramento", criam caixas temáticas, explorando a história de algum livro de literatura infantil. Para isso, constroem cenários (como os que aparecem na primeira foto deste post), personagens e outros elementos que fazem parte da história, utilizando até materiais recicláveis.

Tudo fica dentro da caixa, como um tesouro a ser descoberto durante a leitura. Então, ao ler o livro para as crianças, os estagiários contam com a caixa para dar vida à história, com uma dinâmica que encanta a todos.

Com essa maneira diferenciada de se explorar a leitura, todos têm maior compreensão da história, e vão criando gosto pela leitura. Alguns livros que antes não eram muito valorizados pelas crianças entraram para a lista dos mais lidos em sala de aula depois da dinâmica.

As caixas apresentadas para meus alunos eram lindas, criativas e muito bem exploradas pelos estagiários. Eles têm a clareza da importância da leitura na alfabetização e em todas as outras fases de aprendizagem. Ao final da leitura dos livros, eles permitiram as crianças o manuseio dos componentes e cenários. Meus alunos adoraram! Fiquei pensando: “por que não pensei isso antes”.

Jogos temáticos de Ciências

Neste projeto, os estagiários criam e oferecem aos alunos jogos educativos que exploram temas relacionados ao conteúdo de Ciências, como: os seres vivos, uso consciente dos recursos naturais, entre outros.

Os jogos podem ser de trilhas a serem percorridas, ou de perguntas e respostas, etc. Os alunos formam grupos e participam de um circuito com diversos jogos. Vão aprendendo de forma lúdica e prazerosa, compreendendo e refletindo sobre temas tão importantes de uma forma diferente, todos na quadra esportiva da escola. E como os alunos gostam! Ninguém quer parar de jogar.

Biblioteca dos sonhos

Esse projeto tem como objetivo incentivar a leitura, oferecendo espaços diferenciados e lúdicos para a atividade nas escolas.

Os alunos de Pedagogia, no componente "práticas de alfabetização", realizam verdadeiras transformações dos espaços de leitura em escolas públicas, instituições e ONGs.

Eles fazem visitas para conhecer esses espaços, depois elaboram um plano de trabalho e depois voltam ao ambiente com ideias e materiais como tapetes, almofadas, pinturas na parede, etc, para transformá-lo em um espaço confortável, encantador e principalmente propício a leitura.

Muitas vezes eles criam espaços onde não há livros disponíveis, e também fazem campanhas para arrecadação de livros, gibis e materiais para compor o espaço. A cada inauguração, muita emoção e agradecimento. Projeto lindo e ambicioso! Estagiários engajados na construção de uma educação de qualidade.
 
  
Espaço de leitura transformado por estagiários de pedagogia.
 Foto: Mara Mansani

Esses projetos mostram que o papel da Universidade nos cursos de Pedagogia vai muito além da formação nas salas de aula, e que o saber científico e teórico encontra terreno fértil para exercitar suas práticas nas escolas e na comunidade. A parceria entre escola e Universidade merece ser valorizada.

Espero que tenham gostado das experiências que relatei e que elas possam inspirar a todos vocês! Mas se em sua escola já estão acontecendo práticas como essas, conte-nos aqui nos comentários!

Um grande abraço, um bom recesso, boas férias para quem conseguiu o merecido descanso! Até a próxima segunda-feira!

POR: Mara Mansani

FONTE: https://novaescola.org.br

Nosso problema com a matemática

A segunda prova da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês) começa daqui a pouco no Rio de Janeiro. Embora exija apenas conhecimentos elementares, acessíveis a quem domine o programa do ensino médio, é uma prova dificílima, feita por pouco mais de 600 alunos de cento e poucos países (na foto, a equipe do Brasil). É uma conquista para a matemática brasileira, que recebe o evento pela primeira vez, parte do progresso no país daquela que o alemão Karl Gauss considerava “a rainha das ciências”.

O Brasil também abrigará ano que vem, pela primeira vez no Hemisfério Sul, o Congresso Internacional de Matemática. O brasileiro Artur Ávila ganhou três anos atrás o mais importante prêmio da área, a medalha Fields. O percentual de trabalhos acadêmicos de matemática com autoria brasileira subiu de 0,5% para 2,1% entre 1985 e 2015.

As competições anuais de matemática realizadas no Brasil mobilizam um total estimado em 18 milhões de alunos – as principais são a Olimpíada Brasileira de Matemática e a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Elas têm incentivado o aprendizado e o gosto por uma matéria que muitos ainda insistem em ver como bicho-papão.

Graças a tais iniciativas, conseguimos melhorar nossa participação em competições internacionais como a IMO – ficamos em 15º lugar entre 109 países no ano passado, a melhor posição relativa já atingida. Levar as competições aos alunos de escolas públicas fez florescer talentos que antes jamais germinariam.

Ainda assim, o conhecimento do brasileiro médio em matemática continua sofrível. O analfabetismo em matemática (tema que já analisei em colunas aqui e aqui) é uma chaga que prejudica a qualidade da nossa discussão política, torna o país refém de todo tipo de populismo e nos condena a um modorrento provincianismo intelectual.

Persistem, entre brasileiros, o preconceito e a resistência cultural a um ramo do conhecimento essencial para a sociedade e a economia modernas. Ninguém sai por aí dizendo que “tem horror a frases”. Mas quantos não têm medo de confessar, até com uma ponta de orgulho, que “não têm jeito para números”? Pega até bem…

Não se trata de um problema restrito à população pobre ou à que não teve acesso a ensino de qualidade. O analfabetismo em matemática atinge todas as classes sociais de modo indistinto. Está presente diariamente na imprensa, nas reuniões do escalão mais alto das empresas e nos mais graduados postos de governo. Não impede ninguém de candidatar-se, nem de ser eleito, nem de ter sucesso nas maioria das profissões.

Barbaridades matemáticas, raciocínios falaciosos, comparações despropositadas e atentados à lógica são convidados de honra das páginas dos jornais. Mas, ao contrário do que ocorreu no universo das notícias falsas, ainda não surgiram “agências de checagem” para apontar as falácias e os erros crassos de matemática. Isso nem sequer chega a ser cogitado.

“Fico angustiado com uma sociedade que depende tão completamente de matemática e ciência e, contudo, parece tão indiferente ao analfabetismo matemático ou científico de tantos cidadãos”, escreve o matemático John Allen Paulos no livro Analfabetismo matemático e suas consequências, publicado nos anos 1980 e, infelizmente, ainda atual.

Minha experiência pessoal é semelhante. Debater o assunto nas redações ou nas redes sociais sempre foi fonte de frustração. Persiste a noção absurda de que a matemática nos afasta de algum componente “humano” abstrato, ao conferir um caráter preciso e concreto às discussões. Há ainda interpretações estapafúrdias, que tentam conferir ao tema um caráter ideológico, como se o teorema de Pitágoras pudesse ser de esquerda ou direita.

A meta, evidentemente, não deve ser levar todo brasileiro a resolver os problemas da IMO. Alfabetizá-los em matemática é bem mais simples. Envolve tão-somente noções de ordem de grandeza, proporção e percentuais, probabilidade e estatística, lógica e inferência – além de cálculos triviais. São merecidíssimos os aplausos à minoria de nossos alunos capazes de resolver os problemas difíceis das olimpíadas. Mas nosso problema real continua a ser a vasta maioria, incapaz de entender os mais fáceis.

por Helio Gurovitz
 
FONTE:http://g1.globo.com
 

Étienne Ghys: “Sem matemática não há como desenvolver um país”

O premiado pesquisador francês afirma que o Brasil precisa ter mais engenheiros e profissionais com raciocínio matemático para alcançar o desenvolvimento

“A matemática virou algo elitista, usado 
para separar as pessoas. Deveria ser o oposto” 
(Foto: Época)
O matemático francês Étienne Ghys, de 63 anos, é um caso raro de pesquisador com múltiplos interesses. Ele gosta de mergulhar na matemática pura, um tipo de raciocínio abstrato, que explora conceitos sem ligação com a aplicação prática aparente e de difícil entendimento para os não iniciados. Mas ele gosta também de explorar formas de explicar conceitos matemáticos para os leigos – algo raro entre cientistas como ele. Seu interesse em popularizar conceitos matemáticos é tal que roteirizou e dirigiu duas séries de animação, com nove capítulos cada uma, para explicar a Quarta Dimensão e a Teoria do Caos para crianças. Nas palestras que profere em escolas primárias, explora a relação da matemática com a moda, o futebol e outros temas. Seus esforços para transformar a matemática num assunto pop lhe rendeu um prêmio do Instituto Clay, dos Estados Unidos. Étienne Ghys é apaixonado pelo Brasil. Em 30 anos, morou seis vezes no país, por pequenos períodos, sempre trabalhando em projetos pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. Hoje, ele dirige a unidade de matemática pura e aplicada da Escola Normal Superior de Lyon, na França. Acontece, até o dia 23, domingo, a Olimpíada Internacional de Matemática. É a primeira vez que o país sedia a edição global do evento. Para o matemático, eventos como esse são essenciais para a divulgação do tema entre os estudantes da educação básica.

ÉPOCA – Uma pesquisa mostrou que áreas ligadas à matemática respondem por 16% do PIB e por 10% das vagas de emprego no Reino Unido. O que a propagação da matemática pode fazer por um país como o Brasil?
Étienne Ghys – Esse tipo de levantamento faz um retrato muito parcial porque elege os tipos de atividade que parecem obviamente ligados à matemática – e ainda assim tenho minhas dúvidas sobre quanto são confiáveis. O aprendizado da matemática consiste no desenvolvimento do pensamento matemático, não se trata de aprender a fazer contas. Um país que investe no bom ensino de matemática terá o impacto dessa ação em diversas áreas de atividade: nas artes, na literatura, no governo. Sem matemática não há como desenvolver um país. O melhor exemplo, para mim, de um país com efeito difuso da matemática é o meu país depois da Revolução Francesa.

ÉPOCA – O senhor pode explicar?
Ghys – Napoleão Bonaparte entendeu que a reorganização da sociedade, depois da revolução, deveria se dar a partir da matemática. Antes da revolução, matemáticos eram pessoas isoladas que faziam matemática pelo prazer, demonstrando teoremas pouco úteis. Depois da revolução, a matemática virou útil e passou a ser valorizada e incentivada para além do conhecimento abstrato. A matemática foi usada para formar engenheiros, professores universitários e o próprio sistema pedagógico francês. Nessa época, foram criadas escolas famosas como a Politécnica e a Escola Normal de Educação Superior com o objetivo de trazer para Paris os melhores alunos da França para estudar com os melhores professores. Esses alunos voltavam, então, para o lugar deles para disseminar o que tinham estudado. Essa ideia foi uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento da ciência na França. Por isso, a matemática francesa do século XIX é muito melhor que a matemática inglesa e italiana. A forma de exercer o poder político na França foi toda baseada na matemática.

ÉPOCA – Quais são os exemplos disso?
Ghys – Napoleão Bonaparte gostava muito de matemática. Existe até um teorema de Napoleão. Alguns historiadores suspeitam que ele tenha roubado esse teorema num dos saques que fez na Itália, durante a guerra. É uma polêmica divertida. Mas o fato é que Napoleão tinha a matemática em alta conta. Entre seus amigos estavam os maiores matemáticos da história, como Pierre-Simon Laplace, Gaspard Monge e Joseph-Louis Lagrange. Esses grandes matemáticos influenciaram diretamente a forma de organizar a nascente república francesa. Numa assembleia nacional, quantos deputados são necessários, como chegar ao número que dará representatividade justa às diferentes regiões do país? Essa definição pode variar de dez pessoas a 10 mil. Foram testados diversos modelos, com inúmeras variantes, para chegar ao formato que melhor atenderia aos interesses da maioria. A matemática foi tão importante para a organização política francesa que o filósofo e matemático marquês de Condorcet escreveu muitos livros sobre como tomar decisões políticas. Seus trabalhos discutem profundamente sistemas de votação baseados em proporcionalidade ou maioria. Esses livros foram fundamentais na democracia – não só a francesa. Até aqui no Brasil eles são usados.

ÉPOCA – Com base nessa experiência, o senhor acha que um bom governo é um governo matemático?
Ghys – O filósofo Platão fez essa afirmação. Em seu livro A cidade ideal, o rei é um matemático. Quando se governa com o olhar matemático, há menos chances de cometer injustiças. É claro que, se o governante não se importa com isso, tanto faz. Mas, de outra forma, a concepção matemática pode ajudar a fazer mais para um maior número de pessoas. Tome como exemplo o aplicativo de trânsito Waze. Ele é um sistema matemático dinâmico usado para ajudar o indivíduo a achar qual é o melhor caminho. Ele não tenta resolver o problema de verdade. O problema de verdade é como ter um trânsito melhor para todos. O programa poderia ajudar nessa resposta se calculasse a redistribuição global do trânsito. Nesse modelo, talvez para você o caminho ficasse cinco minutos mais longo, mas, em contrapartida, essa mudança significaria uma hora a menos de trânsito para muito mais gente. Ele seria um sistema melhor para a comunidade – e isso beneficiaria o indivíduo muito mais do que ocorre com o modelo atual.

ÉPOCA – A matemática brasileira tem as piores notas do mundo. O último levantamento global mostra que as crianças de 15 anos de hoje sabem menos matemática do que sabiam as de 2007. Como mudar esse quadro?
Ghys – Esse é um assunto muito sério porque o Brasil precisa muito da matemática. O país precisa de mais engenheiros e precisa se beneficiar do raciocínio matemático para seu desenvolvimento econômico. Para isso ocorrer, é preciso mexer com os professores. Eles fazem a diferença para o bem e para o mal. É preciso fazer duas coisas essenciais: em primeiro lugar, melhorar o salário dos professores. Eles têm de ganhar para ter uma vida digna, em que possam se dedicar com o mínimo de tranquilidade ao que fazem. Outro ponto importante é melhorar a formação dos professores. Para isso é importante criar uma conexão entre os pesquisadores e os professores da educação básica. No Impa, isso já começou. Mas não é fácil. Há muita gente contra isso. A academia em geral não gosta de trabalhar com a sala de aula básica.

ÉPOCA – Por que há essa resistência por parte da academia? Há preconceito contra a educação básica?
Ghys – Não digo que seja preconceito. Acho que é um problema relacionado a uma tradição muito antiga e arraigada. Quando eu era um jovem matemático na França, minha promoção só dependia da qualidade de minha pesquisa, dos artigos publicados, dos livros publicados. Qualquer trabalho que eu produzisse em escolas, com alunos, com didática, não contava. Não havia valorização fora da área da pesquisa. As coisas estão mudando. Eu tenho dois alunos de doutorado em Lyon que trabalham em suas teses com a eficácia da divulgação da matemática. Há 20 anos, seria impossível a academia aceitar a divulgação como um objeto de pesquisa de doutorado. Então, essa área começa a ser valorizada, mas ainda há resistência.

ÉPOCA – De onde vem a má fama da matemática entre os estudantes?
Ghys – O problema é que a matemática do ensino básico se desconectou da vida real. Esse é um problema da maioria das culturas. Os professores colocam os meninos para fazer contas e raciocínios abstratos que não têm nada a ver com a vida deles. É uma pena porque a matemática está em todo lugar e os professores deveriam ensinar mostrando isso. Isso é culpa minha, é culpa de Napoleão, é culpa dos matemáticos do Impa, é uma culpa coletiva. Infelizmente, a matemática se desconectou do resto do mundo, por causa do elitismo. Ela virou um teste de inteligência, usado para separar as pessoas.

ÉPOCA – Por que há tão poucas mulheres matemáticas?
Ghys – Olha, esse é um problema enorme! Já vi estudos sociológicos e de psicologia que sugerem que culturalmente pregamos na cabeça de meninos e meninas que matemática é uma área masculina. Parece que os professores, sem saber, estigmatizam desde muito cedo a garotada. Pela experiência que tenho de sala de aula, essa explicação faz sentido para mim. Na França, houve um teste nas escolas primárias com geometria. Os meninos tiveram desempenho melhor do que as meninas. O mesmo teste foi dado em outras escolas, mas desta vez os professores deram nome de teste de desenho. Então, as meninas se saíram melhor. Na França, já houve campanhas para atrair meninas para a matemática. Não deu certo. Sinceramente, não sei como solucionar essa questão. Um possível começo é todos olharmos para esse problema. Precisamos de mais mulheres na matemática. 
 
FLÁVIA YURI OSHIMA  
 
FONTE: http://epoca.globo.com

Sete competências para as escolas e faculdades se adaptarem ao novo mercado profissional

O mercado profissional vem mudando e a reforma trabalhista aprovada em 12 de julho, em muitos aspectos, só registra o que já estava acontecendo, de modo informal. Questões ideológicas à parte (sem dúvida existem, mas não é objetivo deste artigo discuti-las), é fato que há novas competências que escolas, famílias e universidades deveriam desenvolver nos estudantes, com vistas a um bom desempenho no mundo do trabalho dos próximos anos.

Veja abaixo sete competências que estão se tornando cada vez mais essenciais aos atuais e futuros profissionais:

Habilidade de negociação. Os acordos entre prestadores de serviços e contratantes poderão se sobrepor à própria legislação trabalhista. Isso vai requerer habilidade para chegar a consensos por meio do diálogo, traquejo no relacionamento interpessoal e prática para resolver conflitos, buscando soluções em que as duas partes se sintam confortáveis. Isso envolve também aspectos como senso de oportunidade, persuasão e ética.

Foco em resultados. Entregar o que lhe é confiado no prazo e com qualidade, com o menor gasto de recursos e a maior produtividade. Isso implica, entre outros aspectos, manter a concentração e não perder tempo com atividades que o distanciam de suas principais metas.

Autonomia, autodisciplina e processos de trabalho. O home office ou teletrabalho, regulamentado pela reforma trabalhista, é uma tendência apreciada tanto pelas empresas como pelos seus colaboradores, por aliar economia de recursos com qualidade de vida no trabalho. Para funcionar bem, requer organização, capacidade de gestão do tempo, planejamento do trabalho a partir de processos e bastante autocontrole.

Capacidade comercial e de marketing pessoal. Profissionais que prestam serviços têm passado a trabalhar por projetos e até mesmo para mais de uma empresa. Irão sobressair aqueles que souberem divulgar bem os seus talentos e montar uma carteira de clientes fiéis.

Flexibilidade e resiliência. O mercado de trabalho se tornou volátil e é comum que, ao longo do tempo, o profissional acabe assumindo novas atribuições, diferentes daquelas para as quais foi inicialmente contratado. Estar aberto a essa possibilidade, assim como administrar as próprias emoções ao lidar com situações adversas e com mudanças, são fortes diferenciais.

Disposição para trabalhar em grupo e respeitar diferenças. As empresas costumam montar equipes multidisciplinares e estas podem variar de acordo com cada projeto. Isso requer capacidade de ouvir os diversos pontos de vista e de exercer diferentes posições nos grupos – ora podemos ser o líder, ora coadjuvantes ou colaboradores. Conviver bem com as diferenças de cultura, raça, crença, posição política é essencial. Ter uma atitude inclusiva é ainda melhor.

Capacidade de aprender continuamente e se reinventar. Num mundo marcado por inovações tecnológicas e pela rapidez das mudanças, os conhecimentos se tornam obsoletos ou insuficientes em pouco tempo. Algumas profissões deixaram de existir e outras se tornaram completamente diferentes nos últimos anos. Mesmo sem um professor do lado ou sem frequentar cursos formais, os profissionais deverão ter habilidade para aprender o tempo todo, mantendo-se atualizados por meio de processos de educação continuada.

por Andrea Ramal

FONTE: http://g1.globo.com

Programa Nacional do Livro Didático terá ciclo de quatro anos


A partir de 2019, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) terá ciclos de quatro anos, e não mais de três, como é atualmente. A mudança está em um decreto presidencial publicado hoje (19), que traz as novas regras para o programa.

Anteriormente, o governo havia proposto aumentar o ciclo para seis anos. Segundo o Ministério da Educação (MEC), a mudança para um ciclo ainda maior está sendo estudada junto ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para o MEC, a escala da compra por um período maior possibilita uma economia na aquisição dos livros didáticos.

O primeiro edital com as novas regras será publicado nos próximos dias, para a compra e distribuição, em 2019, de material voltado para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental.

Livros consumíveis

Outra mudança é que, a partir de 2019, os livros dos anos iniciais passarão a ser consumíveis, ou seja, todos os livros de 1º ao 5º anos passarão a ser do aluno, não precisando ser devolvidos ao final do ano letivo. Segundo o MEC, a mudança traz autonomia para o aluno diante do livro, já que ele poderá usar o material da melhor maneira, rabiscando e fazendo anotações.

Os professores da educação infantil e de educação física passarão a compor o PNLD, recebendo livros pela primeira vez. O novo PNLD também disponibilizará softwares (programas de computador) e jogos educacionais e outros materiais de apoio à prática pedagógica.

Avaliação

Segundo o decreto publicado hoje, a avaliação das obras inscritas no PNLD será feita por equipes compostas por especialistas das diferentes áreas do conhecimento, professores da educação básica e do ensino superior de instituições públicas e privadas, coordenadas pelo Ministério da Educação. Atualmente, a avaliação é feita pelas universidades públicas.

Já a comissão técnica, que é o corpo de especialistas pedagógicos do MEC que acompanha todo o processo, passa a ser escolhida a partir de indicações de entidades como os conselhos nacionais de Educação (CNE) e de Secretários de Educação (Consed), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes) e do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), entre outras.
 
Edição: Nádia Franco
Sabrina Craide – Repórter da Agência Brasil 
FONTE: http://agenciabrasil.ebc.com.br