quarta-feira, 17 de maio de 2017

Em qualidade de vida, negros estão 10 anos atrás de brancos

Apesar de avanço maior do grupo, diferença persiste, afirma ONU

Taxa. Morro da Mangueira, no Rio: no estado, índice de qualidade de vida de brancos é 13,4% maior que o de negros - Pablo Jacob / Pablo Jacob/2-8-2016

RIO - Mesmo crescendo em um ritmo maior, o nível da qualidade de vida da população negra no Brasil está uma década atrasado em relação ao dos brancos. É o que mostra o mais recente estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) — órgão da ONU — em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o documento “Desenvolvimento humano para além das médias”, divulgado ontem, entre 2000 e 2010 o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) da população negra cresceu, em média, 2,5% ao ano, acumulando alta de 28% no período, frente ao 1,4% anual dos brancos, ou 15% em dez anos. Mas, apesar do ritmo mais acelerado, só em 2010 o IDHM dos negros alcançou a pontuação (0,679) que já havia sido atingida pelos brancos uma década antes (0,675).

EDUCAÇÃO: MAIOR CONTRIBUIÇÃO

Em 2010, o desenvolvimento humano dos brancos já estava em 0,777. Era 14,42% maior que o dos negros, ainda que essa diferença tenha diminuído em relação a 2000, quando o IDHM dos brancos era 27,1% superior. O indicador varia de zero a um — quanto mais próximo de um, melhor o índice — e mede a qualidade de vida para além da renda, ao levar em conta critérios de saúde e educação.

Todas as três dimensões que compõem o índice avançaram nessa década. No caso da população negra, a maior contribuição para o crescimento do IDHM veio da educação, com uma alta média anual de 4,9%. A educação também foi a dimensão que mais avançou no IDHM da população branca, mas com taxa anual média de crescimento inferior, de 2,7%.

Com relação à renda, o estudo mostra um abismo entre os dois grupos. Em 2010, a renda domiciliar per capita média da população branca era mais que o dobro daquela da população negra: R$ 1.097, ante R$ 508,90.

Quanto à escolaridade da população adulta, 62% dos brancos com mais de 18 anos tinham o fundamental completo, ante 47% dos negros. A diferença na esperança de vida ao nascer entre brancos e negros era de dois anos, ficando, respectivamente, em 75,3 anos e 73,2 anos.
*Quanto mais perto de 1, melhor **Pessoas com mais de 18 anos

A ONU classifica o IDHM numa escala que vai de muito baixo (zero a 0,499) a muito alto (a partir de 0,800). Em 2010, brancos e negros estavam em um mesmo patamar de desenvolvimento humano em apenas seis estados — em Roraima, Mato Grosso, Goiás, Santa Catarina e Espírito Santo era alto e, em Alagoas, baixo para ambos os grupos.

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RJ: ENTRE OS MAIS DESIGUAIS

Em sete estados mais o Distrito Federal, os negros tinham desenvolvimento humano considerado alto. Nas 19 unidades da federação restantes, era médio. Para a população branca, dois estados mais o DF estavam na faixa de muito alto desenvolvimento humano, 23, em alto, e dois, na faixa de médio desenvolvimento humano.

As maiores diferenças percentuais entre o IDHM da população branca e negra, em 2010, foram observadas em Rio Grande do Sul (13,9%), Maranhão (13,9%) e Rio de Janeiro (13,4%).

Já as menores diferenças percentuais estavam no Amapá (8,2%), em Rondônia (8,5%) e em Sergipe (8,6%).

A maior redução na diferença entre o IDHM dos brancos e negros, de 2000 a 2010, foi observada em Santa Catarina (-0,047). Em contrapartida, Roraima apresentou aumento de 0,033 na diferença entre o IDHM dessas duas populações no período.

PORTO ALEGRE: A MAIS DESIGUAL

Também foram analisados indicadores de qualidade de vida por cidade, em 111 municípios brasileiros. A população branca possuía IDHM muito alto em 50 deles, enquanto a negra não havia alcançado esse grau de desempenho em nenhum deles. A desigualdade entre brancos e negros, em relação à qualidade de vida, é maior em Porto Alegre (RS), onde o IDHM da população negra foi 18,2% inferior ao dos brancos.

Em contrapartida, a menor diferença foi observada em Ribeirão das Neves (MG), onde o IDHM dos negros era 3,1% inferior ao índice da população branca.

Assim, o IDHM dos brancos variou entre 0,701 (Ribeirão das Neves-MG) e 0,904 (Vitória-ES), e o da população negra, entre 0,654 (Caruaru-PE) e 0,790 (Vitória-ES).

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Na dimensão esperança de vida ao nascer, os dados variam de 73,1 anos (Maceió) a 79 anos (Uberlândia), para a população branca, ao passo que, para a população negra, foi de 71,8 anos (Marabá) a 77,8 anos (Blumenau).

No quesito educação, oscilou entre 0,614 (Viamão-RS) e 0,890 (Vitória-ES), para a população branca, e entre 0,505 (Pelotas-RS) e 0,745 (Vitória-ES), para a população negra.

Por fim, com relação à renda, o ganho domiciliar per capita médio variou de R$ 469 (Caucaia-CE) a R$ 2.700 (Vitória-ES), para a população branca, e de R$ 345 (Caucaia-CE) a R$ 1.174 (Brasília-DF), para a população negra.

por Daiane Costa 

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