quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Matemática: mais razões para chorar do que comemorar


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Foto: Getty Images
Em meio ao caos, uma conquista. O prestigiado Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) passa a compor o grupo da elite em pesquisas de Matemática ao lado dos dez países mais desenvolvidos, que incluem China, Alemanha e Estados Unidos. A produção brasileira nas pesquisas nesta área de concentração aumentou dez vezes nas últimas três décadas. Um recorde nunca antes visto.
MAS SERÁ QUE É TEMPO DE COMEMORAR?
Apesar das pesquisas brasileiras em Matemática representarem 2,5% de toda produção matemática mundial, o questionamento se mostra atual e ele não nos deixa fechar os olhos. Por um lado, o país se destaca em nível mundial pela pesquisa em Matemática; por outro, o Brasil continua amargando ínfimos resultados internacionais na mesma área de conhecimento da Educação Básica. Linhas abissais perversas entre as pontas. Afinal, quando leremos também "Brasil entra para o grupo de referência mundial quanto ao Ensino Básico em Matemática"?
ONDE ESTÁ O ERRO DESTE CÁLCULO GIGANTE ENTRE AS PONTAS? 
Os dados apresentados pelo Pisa, avaliação feita em 70 países, não nos deixam enganar nem tampouco comemorar livremente. O Brasil amarga a 66ª colocação em Matemática – considerada a menor pontuação nas últimas cinco edições do programa. Os resultados são graves porque mostram o congelamento em um ponto inaceitável na reflexão do gráfico. É um fator crítico porque a Matemática é considerada essencial para o exercício da cidadania.
Os testes externos à escola são indicações. Eles não revelam o novo, apenas reforçam o que todos já conhecem. Mas é importante ressaltar que diferentemente de outros testes padronizados, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) considera capacidades fundamentais que os alunos da Educação Básica precisam dominar: formular problemas, construir estratégias, raciocinar e argumentar matematicamente, medir, levantar e/ou refutar informações incoerentes, explorar diferentes linguagens de representações e operações, entre vários outros processos matemáticos. Não dominar estas capacidades é grave e se mostra urgente. Em média, 70% dos estudantes do Brasil estão abaixo do nível 2 em Matemática. Muitas autoridades continuam com os olhos vedados para essa questão. Não seria um prestígio para o país ter o ensino de Matemática em alto nível? Lamentavelmente, olhando para os investimentos financeiros e analisando o processo histórico, a atenção dada a este campo diz que não.
O currículo fragmentado, isolado e dissociado muitas vezes da própria realidade do aluno. Um currículo do século XIX centrado no conteúdo e não em competências. Temos aqui um cenário altamente crítico com resultados que nos levam a pensar sobre o Ensino de Matemática na Educação Básica. Pesquisas recentes mostram que há avanços no Ensino Fundamental. São avanços tímidos, claro. Por outro lado, mesmo sendo o resultado de uma combinação perversa de elementos, contradições e encurtamento de políticas públicas educacionais eficientes e investimentos, é uma demonstração contundente do fracasso do modelo ainda vigente na Educação Básica. O problema se agrava ainda mais pelo encolhimento de verbas destinadas a este setor da educação.
O Ensino de Matemática da Escola Pública (em especial, no Brasil) resiste, apesar da combinação de fatores perversos – que vão desde políticas públicas ineficientes até a formação inicial e continuada adequada para professores que ensinam Matemática. É preciso de investimentos. Educação não é mágica e nem sacerdócio. É formação, espaço de pesquisa e desenvolvimento social, científico e tecnológico. É preciso tomar muito cuidado, claro, quanto a afirmações que culpam o trabalho do professor da Educação Básica, a partir de dados alarmantes divulgados. Não é só dele a responsabilidade. Reduzir esses dados gritantes entre o topo e o chão, entre a glória e a derrota, é um processo que demanda vários atores da sociedade. É preciso se preocupar com a fatia dos investimentos à Educação e garantir que eles cheguem continuamente, até que tenhamos novos resultados do Ensino de Matemática.
Greiton Toledo de Azevedo é professor efetivo do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal Goiano, campus avançado Ipameri. Ele é doutorando em Educação Matemática pela Unesp, mestre em Ciências, Educação e Matemática pela UFG e especialista em Educação Matemática, com ênfase em Matemática Computacional.
Por: Greiton Toledo de Azevedo

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