quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tirar zero no Ensino Público não reprova

Notas vermelhas e um pedido da própria mãe para que a escola repetisse o filho de ano. Nada disso foi suficiente para que um garoto tivesse que refazer a 7ª série em um colégio da rede municipal de Santos


Cinco notas vermelhas e o pedido da própria mãe para que a escola repetisse o filho de ano. Nada disso foi suficiente para que um garoto de 13 anos tivesse que refazer a sétima série em um colégio da rede municipal de Santos.

Este ano, o adolescente estará na oitava série, mesmo tendo obtido notas vermelhas em disciplinas como Português, Geografia e História. Em Matemática, ele fechou o ano precisando de sete pontos para atingir o que é considerado o mínimo, na avaliação de aprendizagem.
“Eu fui até a escola. Fui lá pedir pelo amor de Deus para que repetissem ele de ano porque ele não tem condições de passar”, diz aflita a mãe do garoto, Veridiana Rodrigues Ramires. “Eu tinha esperança que eles reprovassem meu filho”, lamenta. Ela afirma que o caso do garoto não é isolado e que a prática vem desmotivando pais, alunos e também professores.

E o caso não se limita à rede municipal. De acordo com o professor Sidnei Ribeiro de Moraes (que dá aulas de Física em um colégio estadual), a situação é parecida. “Nós seguimos uma política que obriga o professor a passar o aluno de ano. Arredondamos notas sempre para cima. 4,1 vira 5. Tudo isso é para termos um bom índice de aprovação”, afirma em tom de revolta o docente.

“O aluno pode ter 300 faltas (não por dias letivos, mas por matérias) e ainda assim passa. E o pior é que o regimento das escolas permite estas arbitrariedades. E quando deixam o aluno de dependência, os casos são resolvidos com trabalhos do tipo ctrl+c e ctrl+v”, diz o professor, referindo-se aos comandos do computador que podem copiar e colar trechos de textos e afirmando que parte dos trabalhos é de cópias da internet.

Tudo isso colabora, na opinião dele, para que um número cada vez maior de alunos termine o ensino fundamental sem realmente dominar o conteúdo.

“Também aumenta o número de analfabetos funcionais”, diz. O analfabeto funcional, apesar de saber ler e escrever, não consegue interpretar um texto ou realizar operações matemáticas mais complexas. O analfabetismo funcional é apontado como um dos principais resultados da baixa qualidade do ensino no País.

A solução, para o professor, é rever o sistema de avaliação, abolir o arredondamento para cima das notas e garantir que as dependências e recuperações sirvam, de fato, ao propósito de complementar o aprendizado.

Para a mãe do garoto que passou para a oitava série, a solução escolhida é mudá-lo de colégio.

“Eu vou mudar meu filho, já estou providenciando isso. Ele disse que sabia que iria passar de ano. Isso não está certo. Na minha época era muito mais rigoroso”.

Tatiane Calixto
Fonte: Jornal A Tribuna (SP)

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