quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

BRASIL AVANÇA EM MATEMÁTICA, MAS SEGUE ENTRE OS PIORES

Pisa aponta que país ocupa ocupa o 58º lugar entre 65 nações

O Brasil foi o país que registrou, entre 65 nações, o maior avanço no desempenho de Alunos de 15 anos em matemática de 2003 a 2012. E isso aconteceu ao mesmo tempo em que mais jovens pobres foram incluídos na Escola, já que as taxas de matrícula nessa faixa etária cresceram de 65% parar 78%. Toda essa melhoria, no entanto, não foi suficiente para tirar o país das últimas colocações do ranking do Pisa, exame elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e que compara o desempenho de Alunos (em Matemática, o país ficou em 58º).

Outro dado preocupante é que, em relação a 2009, a nota de Matemática do Brasil subiu apenas cinco pontos, a avaliação de leitura piorou dois pontos e, na de ciências, permaneceu no patamar idêntico. Isso deixa o país mais distante da meta governamental de alcançar, até 2022, o nível de qualidade médio da OCDE.

Neste ano, o foco do Pisa foi o Ensino de matemática. Entre 2000 e 2013, a média dos Alunos brasileiros nessa disciplina aumentou de 334 para 391 pontos. A média da OCDE é de 494. E a distância para os líderes é ainda maior. Na província de Xangai, na China, o desempenho médio dos Alunos foi de 610 pontos.

A distância em pontos entre Alunos de Xangai e os brasileiros de 15 anos equivale a dizer, pela escala do Pisa, que os brasileiros precisariam de mais cinco anos letivos para alcançar os chineses. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, criticou essas comparações, uma vez que os estudantes submetidos ao exame em Xangai representam só 1,2% da população chinesa.

O ministro também ponderou que, se for considerado o desempenho isolado da rede federal, a média dos Alunos brasileiros no Pisa aumentaria de 391 para 485. Na rede particular brasileira, a média é de 462 e, na estadual, que atende a mais de 80% da população, fica em 380.
- O topo da Escola pública, que são as federais, é igual à França, à Inglaterra e aos EUA - diz Mercadante.

Mais jovens estudando
De acordo com a OCDE, a melhora em matemática no Brasil se deve uma redução na proporção de estudantes de desempenho baixo (níveis 1 e 2 na escala do exame). Isso quer dizer esses Alunos são capazes apenas de extrair informações relevantes de uma única fonte e usar algoritmos, fórmulas, procedimentos e convenções básicas para resolver problemas envolvendo números inteiros. Em 2012, 67% dos Alunos no país estavam nesse nível. Em 2003, eram 75%.

Apenas 1,1% dos brasileiros tem rendimento de alto nível.
De acordo com a diretora-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, por trás deste quadro está o fato de o país ainda estar incluindo jovens em sua rede de Ensino, diferentemente de nações que já superaram este processo. Segundo ela, chegou a hora de o Brasil colocar em prática políticas restruturantes.

- Nos últimos dez anos, houve a entrada de 425 mil jovens de 15 anos no sistema educacional. São pessoas provenientes da parcela da população de menor renda no Brasil e que não tiveram acesso à Educação infantil. Eles tendem a puxar a média para baixo, porque estão engrossando a parcela de pessoas com baixo nível Escolar nessa faixa etária. É como se a gente tivesse jovens na média 500 e colocasse vários com a média 300. Para se ter uma ideia, se não houvesse essa inclusão, o país teria crescido mais 44 pontos nesses dez anos e subiria sete posições no ranking - diz.

Para o economista André Portela, da Fundação Getúlio Vargas, apesar da estagnação, o país melhorou significativamente o desempenho se a base de comparação for a primeira prova, em 2000. Segundo ele, os ganhos de renda da população como um todo a partir de programas sociais como Bolsa Família estão por trás da melhora do desempenho na última década.

Já o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, tem leitura mais pessimista dos resultados. Para ele, os avanços foram poucos e não haveria razão para crer em melhoras no futuro, muito menos na ambição de o Brasil alcançar em 2022 os padrões de qualidade educacional dos países da OCDE de hoje:

- Não temos uma reforma educacional ampla. Não se faz Educação com lei, mas com políticas educacionais.





Gasto por aluno é baixo e ineficiente no brasil 
O Brasil gasta o equivalente a US$ 26.765 por Aluno, entre 6 e 15 anos, menos de um terço das despesas médias da OCDE (US$ 83.382 por estudante). Considerando os 49 países para os quais a OCDE conseguiu cruzar dados de investimento por estudante com o desempenho em matemática, o país tem o 38º maior gasto.

Os resultados do Pisa mostram uma relação positiva entre os recursos investidos por Aluno e desempenho, mas só até um certo ponto. No caso brasileiro, o país ainda está abaixo da linha que a OCDE identifica em que, a partir dali (US$ 50 mil dólares dos 6 aos 15 anos), mais gasto não gera melhor desempenho.

A avaliação mostra também que em todos os níveis de gastos, os países de melhor desempenho tendem a distribuir recursos educativos de forma mais equitativa entre as Escolas que atendem pobres e ricos. Nesse sentido, a recomendação do relatório é de que "o Brasil precisa encontrar formas de apoiar Escolas desfavorecidas socioeconomicamente com maior intensidade, a fim de estabelecer a igualdade de condições para todos os Alunos".

O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, ressalta que, diferentemente dos países ricos, o Brasil ainda está muito abaixo do ponto em que a quantidade de recursos investidos já não teria plena eficácia para melhorar o rendimento educacional.

Segundo ele, o governo federal ainda precisa investir mais em Educação, especialmente por meio de transferências para estados e municípios via Fundeb. Cara justifica que toda essa verba seria necessária para estruturar um plano nacional de valorização do Professor, que contemplaria não só a questão dos salários, mas também da formação e condições de trabalho.

- O Brasil deu um salto para permanecer no mesmo lugar, e isso é preocupante. O gráfico do ponto ótimo de eficiência diz muito sobre a gestão dos recursos, mas o Brasil ainda se encontra muito abaixo desse ponto. Precisamos investir muito mais do que estamos fazendo atualmente. Todos os países ocidentais com bom desempenho no Pisa têm um plano de valorização de Professores bem estruturado. Precisamos de verbas para ter o nosso - diz Cara.

O exemplo mais extremo de eficiência é o Vietnã, que é o 13º em desempenho e o último em gasto. O Pisa aponta outras discrepâncias nos extremos. Luxemburgo é o país que mais gasta, mas é apenas o 25º em desempenho.
Para o pró-reitor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e membro da Academia Brasileira de Educação, Antônio Freitas, o investimento é fundamental para o desempenho do Aluno, mas o mais importante é a gestão:

- Se você tem um monte de Professores que não têm a preparação adequada para praticar um bom Ensino, não adianta colocar mais dinheiro, pois isso não garantirá um resultado superior. O Brasil tem destinado mais de 5% do PIB ao setor, e quer chegar a 10%. Mas o país investe mal. O principal investimento é formar Professores que conheçam em profundidade a disciplina que ensinam e dominem as tecnologias para manter os Alunos envolvidos com o conteúdo.






Países asiáticos se destacam em todas as áreas; finlândia cai 
A queda de alguns países ocidentais, especialmente a Finlândia, e o completo domínio de nações asiáticas foram os principais destaques internacionais do Pisa 2012.

No ranking de Matemática, área que é o foco do Pisa 2012, as sete primeiras colocações são ocupadas por países ou províncias asiáticas. O domínio oriental não se restringiu à matemática. Em Leitura e Ciências, os líderes no ranking também foram asiáticos.

Outra surpresa asiática foi o Vietnã, que participou da pesquisa pela primeira vez e teve notas melhores do que os Estados Unidos nas avaliações de Matemática e Ciências. A maior economia do mundo, aliás, não está entre as 20 primeiras em nenhuma das disciplinas.

O exame 2012 detectou que os estudantes no subcontinente conseguiram extrapolar o conteúdo adquirido em sala e usar esse conhecimento com criatividade em questões cotidianas apresentadas durante a avaliação. Esta habilidade, tradicionalmente, era associada ao Ensino ocidental. A receita para o sucesso dessas economias foi estabelecer patamares altos para as Escolas e dar a elas os meios para atingir essas metas, segundo o diretor de Educação da OCDE, Andreas Schleicher.

- Esses países basicamente conseguiram levar os melhores Professores para as salas de aula mais desafiadoras. Eles mandaram diretores realmente competentes para Escolas mais problemáticas - explicou Schleicher.

Em 2009, esse ranking específico de Matemática também era liderado pelos asiáticos, mas países europeus ainda tinham presença forte. Naquele ano, a Finlândia estava em 6º lugar. Já em 2012, o tradicional modelo bem sucedido de Educação caiu seis colocações e ficou na 12ª posição.

Terceira colocada há três anos em Leitura, a Finlândia caiu para o sexto lugar. Ao mesmo tempo, outras nações ocidentais registraram avanços, caso da Irlanda e da Polônia.

O Pisa 2012 mediu o rendimento de 510 mil estudantes de 15 anos de idade, representando um universo de 28 milhões de Alunos nessa faixa etária. Em 2009, 470 mil Alunos fizeram a prova. Eles foram escolhidos aleatoriamente nos 65 países abrangidos pelo teste e realizam uma prova de duas horas cujo conteúdo não está diretamente ligado ao currículo Escolar.

As questões foram elaboradas de forma a medir o quão equipados os estudantes estão para participar da sociedade atual. Todos os enunciados reproduzem situações reais. Os Alunos e seus diretores Escolares também respondem a um questionário que colhe informações sobre seu sistema de Ensino.





No "país" de alagoas, as piores notas do ranking 
Entre os 65 países analisados por meio do Pisa, já contabilizando as próprias diferenças regionais dentro de cada nação, Alagoas amarga o pior Ensino de Matemática, Ciências e Leitura. Na avaliação de Alunos e Professores, a culpa pelo péssimo resultado recai sobre todo o sistema: faltam profissionais em sala de aula; aqueles que estão em classe reclamam das condições precárias; e o desinteresse é grande entre estudantes e Professores.

No maior complexo de Escolas públicas de Alagoas, o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (Cepa), por exemplo, existe uma grande estrutura pedagógica mal aproveitada.

São 14 Escolas para atender até 40 mil Alunos, com direito a duas piscinas olímpicas, três ginásios poliesportivos, campos de futebol, observatório astronômico, projeto com hortas, quatro laboratórios de matemática, ciências e informática, uma estação de TV, duas estações rádios e um teatro.
Porém, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sinteal), não há sequer 20 mil Alunos matriculados nas unidades, por falta de Professores e desinteresse dos próprios estudantes.

- A gente não tem Professor de Português e Ciências - conta Vanessa Oliveira, de 14 anos, aluna do 8º ano.
- Meu sonho é ser médica, mas não tenho coragem de enfrentar o Enem. Como vou fazer a prova se tenho dificuldade até na tabuada? - diz Joyce Hellen, de 13 anos.

Sem interesse em formação
Com 1.050 Alunos, a Escola Maria José Loureiro é uma das 14 no Cepa. Tem laboratórios de Ciência e Matemática, mas os dois estão fechados. Não há profissionais para operar os espaços.

- Eu dava as aulas, mas tive de suspender porque estou com a coluna doente. A gente produzia até sabão com óleo de cozinha. Os Alunos ficavam fascinados. Mas hoje está tudo empoeirado - lamenta o Professor Emídio Silva, de Ciências.

Os Alunos também reclamam da merenda Escolar: suco "ralo" com biscoito.
- Os banheiros são imundos. E ficamos três meses sem Professor de Matemática - diz Walisson Luis, de 15 anos.

Sem Professores para preencher o quadro, a Maria José Loureiro tem monitores, que não têm vínculo empregatício com o estado nem direitos trabalhistas. Os contratos duram dois anos, no máximo.

- Os monitores sustentam esta Escola. O problema é o conjunto: a falta de disponibilidade dos Aluno em estudar; a falta de pessoal para operar os laboratórios que temos aqui, e todos estão fechados. E a estrutura destes laboratórios é impecável - explica a diretora da Maria José Loureiro, Juliana Amorim.





"Não gostei daquilo que vi", diz secretário de Educação do rio 
O estado Rio de Janeiro apresentou queda nas três notas avaliadas nas duas últimas edições do Pisa. Em 2009, os estudantes fluminenses tiraram 393 pontos em Matemática, 420 em Leitura e 412 em Ciências; contra 389, 408 e 401, em 2012. O secretário estadual de Educação do Rio, Wilson Risolia, disse que os resultados, apesar de ruins, já eram esperados.

- Não gostei daquilo que vi. Mas esse resultado não é novidade. Temos avaliações periódicas na nossa rede com 100% das Escolas. Quando se cruza com as outras avaliações, ratificamos isso. Sou um profundo incentivador desse tipo de avaliação diagnóstica. É um "constrangimento" importante, pois explicita o problema. Há gaps de habilidades e competências que são comuns em qualquer rede, pois acumulam-se desde o Ensino fundamental e ficam mais explícito no Ensino médio - justifica Risolia.

De acordo com o secretário, a queda de desempenho do Rio pode ser explicada, em parte, pela presença de Escolas compartilhadas (durante o dia funcionam para a rede municipal, e à noite, para a estadual). Ele também observa que o número de colégios avaliados no Rio caiu de 35, em 2009, para 29, em 2012, sendo 59% de instituições estaduais.

- É uma mostra muito peque. Vejo que essa flutuação de ranking como algo normal. Em 29 Escolas, há uma agrícola e algumas compartilhadas, o que é um problema. Talvez o resultado fosse um pouco melhor (sem elas), mas não esconderia o problema.

Questionado se a qualidade da Educação não deveria ser a mesma em todas as Escolas da rede, Risolia reconhece o desafio e aponta o Ensino integral como um dos caminhos para melhorar. Outro é a reformulação do Ensino médio. O secretário se espelha em experiências bem sucedidas na China e na Coreia para tentar fazer o Rio evoluir.

- A solução que nós demos é o de Ensino médio de dupla Escola, que não teve nenhuma nessa mostra. As Escolas com horário integral têm um resultado muito melhor do que a de jornadas de 4 horas. É assim que funciona no mundo todo: com foco, com metas e meritocracia, reforço Escolar e planejamento, com muita avaliação periódica e uma gestão de resultados durante o ano inteiro.





Nas três provas, rio alcançou nota abaixo da média nacional 
O estado do Rio de Janeiro teve desempenho abaixo da média nacional nas três provas do Pisa. Na média geral do exame, e foi também o único estado do Sudeste a ficar, de novo, abaixo da média do país. O Rio alcançou o décimo lugar na avaliação de Matemática, com 389 pontos; o décimo também na área de Leitura, com 408 pontos; e 11º na pesquisa sobre os conhecimentos dos Alunos sobre questões de Ciências, com 401 pontos.

Na média geral, o Rio também ficou em 10º, com 399,3 pontos, caindo duas posições em relação a 2009, quando ficou em 8º, 408.

O desempenho dos estudantes brasileiros no Pisa 2012 difere bastante de um estado para outro. Na área de Matemática, o Distrito Federal ficou em primeiro lugar no ranking nacional, com 416 pontos. Nota bem mais alta do que a de Alagoas, pior colocado, onde os estudantes fizeram 342 pontos na mesma prova. Mesmo assim, o rendimento da capital federal não é o bastante para superar, na relação internacional do Pisa, países como o Chile (423 pontos) ou o Cazaquistão (432). A média do Brasil é de 391 pontos.

Alagoas também é o pior estado brasileiro nas outras duas áreas pesquisadas pelo programa promovido pela OCDE. Em Leitura, os estudantes alagoanos de 15 anos fizeram 355 pontos, enquanto, em Ciências, alcançaram apenas 346 pontos. Se comparados com os outros países, os resultados deixariam o estado no Nordeste do Brasil em último lugar nos três rankings.

Na prova de Ciências, o melhor estado brasileiro foi o Espírito Santo, cujos estudantes fizeram 428 pontos, acima da média nacional (405). A nota não seria o suficiente para deixar essa unidade da federação à frente de países como os Emirados Árabes Unidos e a Malásia num ranking internacional.

Mas os capixabas foram também os melhores do país na média geral, calculada a partir da média aritmética das três provas, com 423 pontos. O resultado é melhor do que a nota média nacional (402). O Espírito Santo teve a terceira melhor nota em matemática (414) e a quarta mais alta em Leitura (427).

O Rio Grande do Sul aparece com o melhor resultado na avaliação de Leitura. Os Alunos gaúchos fizeram 433 pontos na prova aplicada em 2012. O resultado, entretanto, está abaixo da média dos 65 países analisados pelo Pisa para essa área de conhecimento (496 pontos). Em segundo lugar nessa avaliação, no Brasil, estão o Distrito Federal e o Mato Grosso do Sul, ambos com 428 pontos, acima da nota do país na disciplina (410).

Fonte: O Globo (RJ)

Nenhum comentário:

Postar um comentário