terça-feira, 8 de agosto de 2017

PROFESSOR

Condição social do professor no Brasil

Fala-se muito no Brasil, atualmente, na educação, na escola, na violência escolar e, finalmente no professor. Essa figura lendária que se tornou o professor, cada dia mais necessária ao mundo e a viver em situação social humilhante, degradante, tendo que correr de um lado para o outro e dar, assim, conta da formação de todos os brasileiros, de todas as profissões do mundo.

Dentre as numerosas questões a tratar, a resolver no Brasil, com urgência urgentíssima, tem-se o problema da formação continuada dos professores e até mesmo da formação inicial, além da baixa remuneração. Tudo isso junto compõe um cenário “preocupante”, de acordo com o consultor em educação da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no Brasil, Célio da Cunha.

Ao comentar o estudo “Professores do Brasil: Impasses e Desafios”, lançado pela UNESCO, um educador lembrou que os professores representam o terceiro maior grupo ocupacional do país (8,4%), ficando atrás, apenas, dos escriturários (15,2%) e dos trabalhadores do setor de serviços (14,9%). A profissão supera, inclusive, o setor de construção civil (4%).

Essa condição vergonhosa em ser professor, no Brasil, arrasta-se há séculos. E a imprensa tem chamado a devida atenção para o caos da profissão. Talvez deva ser mais incisiva e cobrar ações enérgicas por parte do Governo. A Revista Veja, já no ano de 2007, mês de março, publicou uma reportagem intitulada “Os quatro mitos da escola brasileira”: São eles: “o professor brasileiro é mal remunerado; a educação só vai melhorar no dia em que os professores receberem salário mais alto; o Brasil investe pouco dinheiro em educação; e a escola particular é excelente”.

O especialista destaca, entretanto, que é preciso “elevar o status” do professor no Brasil. A própria UNESCO, ao concluir o estudo, recomenda a necessidade de “uma verdadeira revolução” nas estruturas institucionais e de formação. Dados da pesquisa indicam que 50% dos alunos que cursam o magistério e que foram entrevistados disseram que não sentem vontade de ser professores. Outro dado “de impacto”, segundo especialistas, trata dos salários pagos à categoria –50% dos docentes recebem menos de R$ 720 por mês. Uma vergonha para um país que deseja ser grande.

Também, o estudo alerta para um grande “descompasso” entre a formação teórica e a prática do ensino. Para estudiosos, a formação do docente precisa estabelecer uma espécie de “aliança” entre o seu conteúdo e um projeto pedagógico, para que o professor tenha condições de entrar em sala de aula e executar, dignamente seu magistério.

Como recomendações a UNESCO defende a real implementação de novo piso salarial – que dê dignidade aos educadores — e a política de formação docente, lançada, recentemente. Somente assim, acredita-se, esses podem ser “pontos de partida” para uma “ampla recuperação” da profissão no Brasil.

Se houver continuidade e fazendo os ajustes necessários que sempre surgem, seguramente, daqui a alguns anos, podemos ter um cenário bem mais promissor do que o atual. Pois sem professores bem formados e sem uma remuneração digna não será possível atingir a qualidade que o Brasil precisa para a educação básica. Isso coloca em risco o futuro do país, por conta da importância que a educação tem em um mundo altamente competitivo e em uma sociedade globalizada.

Nesse cenário, o professor, principalmente aquele profissional da educação básica pública, ainda está longe de alcançar seu merecido reconhecimento social. Os salários, as condições de trabalho e a carreira, os critérios de formação e o acesso na rede pública – muitas vezes sem concurso público – revelam o descaso que muitos gestores insistem em manter na área educacional, embora os discursos dos palanques sejam diametralmente opostos. O país precisa introduzir a educação em seu projeto de desenvolvimento, sem o qual tanto o professor quanto a educação pública continuarão relegados frente a obras públicas, por exemplo, que servem melhor como marketing eleitoral.


Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Presidente da Academia Acreana de Letra; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Pesquisadora do CNPq.

http://agazetadoacre.com

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