quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A CHAVE É AUMENTAR A EFICIÊNCIA

A lentidão na melhoria da infraestrutura e da Educação condena o Brasil ao baixo crescimento, ameaçando os avanços sociais

Desde 2010, o Brasil não sabe o que é crescimento vigoroso. A economia parece presa a uma velocidade não muito superior a 2% ao ano, ritmo insuficiente para consolidar os avanços sociais da última década. Enquanto as commodities exportadas pelo Brasil batiam recordes de valorização, os investimentos externos abundavam, possibilitando o crescimento do emprego e a expansão do crédito.

O país também se aproveitava dos benefícios de reformas feitas anteriormente, como as privatizações, a abertura da economia e as novas legislações que permitiram o aumento dos financiamentos. Mas esses motores perderam intensidade. Chegou a hora de agregar outros motores à economia. O fundamental será incentivar novas reformas e ações que ampliem a produtividade, a única fonte de crescimento real e sustentável a longo prazo.

Um país pode crescer por algum tempo apenas estimulando o crédito e a criação de empregos. Mas o enriquecimento real só será possível se cada um de seus trabalhadores produzir mais valor individualmente, por meio da incorporação de novas técnicas, do aprendizado e dos ganhos de eficiência. Como diz a rotineiramente citada frase do economista americano Paul Krugman, ganhador do Nobel de 2008: “A produtividade não é tudo, mas a longo prazo é quase tudo“. E explica: “A capacidade de um país de ampliar o seu padrão de vida depende quase inteiramente de sua capacidade de aumentar a produção por trabalhador”.

A má notícia é que a produtividade média brasileira permanece praticamente estagnada há duas décadas. Houve avanços em alguns setores, com destaque para a agricultura, mas, no geral, esse indicador pouco tem evoluído. Conforme um estudo do economista turco radicado nos Estados Unidos Dani Rodrik, Professor de Princeton, a produtividade do trabalhador brasileiro cresceu ao ritmo de 1,8% ao ano durante as últimas duas décadas. No mesmo período, o indicador subiu 2,2% no México, 3,7% no Peru, 3,8% no Chile e 4% na Turquia. Na Coreia do Sul, que tinha uma renda média semelhante à brasileira, a produtividade avançou a um ritmo de 5%.

O país conseguiu ingressar no time das nações desenvolvidas, com um PIB per capita que é o dobro do brasileiro. Os números foram apresentados por Rodrik na semana passada durante o EXAME Fórum 2013, cujo tema foi “Como aumentar nossa produtividade". O evento contou com a participação de empresários, economistas e também de lideranças políticas, além do presidente do STF, Joaquim Barbosa, e do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Na avaliação dos empresários, a chave para destravar o nó da produtividade passa necessariamente pelo aprimoramento na infraestrutura e na Educação. O presidente da Bosch, Besaliel Soares Botelho, afirmou que a companhia gasta por ano 6 bilhões de reais com desperdícios no processo produtivo causados por deficiência na qualificação educacional dos funcionários. Cledorvino Belini, presidente da Fiat, lembrou que a Educação afeta diretamente a inovação. “Há sessenta anos, o Brasil e a Coreia do Sul tinham o mesmo nível de Educação, com 35% de Analfabetismo”, disse Belini. "Os coreanos erradicaram o Analfabetismo, e nós continuamos com 13% de Analfabetos.

Eles têm 88% dos jovens na universidade, e nós só temos 18%. Isso nos afeta muito, porque a produtividade avança junto com a inovação.” Para Pedro Passos, um dos fundadores da Natura e presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IeDi), o Brasil também deverá se abrir mais à concorrência internacional: “Somos um país fechado, bastante protegido, que deixou de avançar na agenda do comércio mundial há alguns anos”.

Para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o planejamento do setor público é essencial na busca por mais produtividade: “O presidente tem de construir um projeto antes de chegar ao governo, e não chegar lá e depois planejar o que tem de ser feito”.

Campos defendeu também a meritocracia como essencial para o bom funcionamento da administração pública. Marina Silva destacou a falta de reformas institucionais nos últimos anos: ”O sociólogo não fez a reforma política e o operário não fez a reforma trabalhista”. Aécio Neves, por sua vez, enfatizou a importância da estabilidade das regras para incentivar os investimentos. “É fundamental que tenhamos marcos regulatórios estáveis, que não mudem em função de circunstâncias conjunturais”, afirmou o senador.

Nesta terça-feira, Aécio falará para 800 megainvestidores em um seminário promovido pelo BTG Pactual, em Nova York. Eis um trecho do discurso: “Segundo o World Economic Forum, somos apenas o 56° país mais competitivo do mundo. Nossa posição vem piorando, principalmente em um item: qualidade geral de infraestrutura, no qual já caímos trinta posições desde 2010". 


Fonte: Revista Veja

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