quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CAI INCLUSÃO DE JOVENS NA EDUCAÇÃO

Entre 2009 e 2012, caiu a proporção de pessoas com 15 a 17 anos que estudam, interrompendo avanço da taxa de escolarização

De um lado, um currículo de Ensino médio inchado e antiquado, que não dialoga com o jovem. De outro, o mercado de trabalho cada vez mais atraente. Essas são as principais causas apontadas por especialistas para que o Brasil tenha estagnado na inclusão de jovens no sistema educacional nos últimos três anos. Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada em setembro pelo IBGE, 84,2% dos jovens com 15 a 17 anos estavam estudando em 2012 – um ponto porcentual a menos do que em 2009.

Cai também frequência entre 18 e 24 anos
A retração no número de jovens no sistema educacional também ocorre entre aqueles com 18 a 24 anos, segundo a PNAD. No país, a proporção de pessoas nessa faixa etária nos bancos de Escolas e faculdades caiu de 30,3%, em 2009, para 29,4% em 2012. No Paraná, também houve regressão, de 30,9% para 29,2%. Na opinião de Evelise Portilho, doutora em Educação e Professora da PUCPR, o problema não é de falta de oferta de oportunidades no nível superior, mas sim de retenção. “O problema é que falta esclarecimento sobre o que o jovem encontrará na profissão escolhida. O Ensino básico está mais preocupado com o desempenho no vestibular do que em preparar o jovem para a vida”, critica.Projetos

Governo investe em programa de bolsas e Educação profissional
Além da reestruturação do cur­rí­cu­lo, o Ministério da Edu­cação tem outros projetos que visam atrair e reter mais jovens nas es­colas. São os programas “En­si­no Mé­dio Inovador”, por meio da am­pliação da carga ho­rá­ria das Escolas de 2,4 mil ho­ras/au­la para 3 mil por ano; e do “Que­ro ser cientista, quero ser pro­fes­sor”, que concederá bol­sas de R$ 150 para estudan­tes que participarem de projetos de iniciação cientifica em Ma­te­mática, Física, Química ou Biologia.

Neste ano, a previsão é de que mais de 8 mil Escolas façam suas adesões ao Ensino médio Ino­vador, sendo 1.455 do Paraná. Se­gundo o MEC, a meta é distribuir 30 mil bolsas com o objeti­vo de diminuir o déficit de profes­sores e aproximar a universidade das Escolas, a partir de fevereiro de 2014.

Ensino técnico
Para quem já saiu do Ensino médio, há um programa de Educação de jovens e adultos que também é profissionalizante, o Proeja. É voltado para pessoas que passaram até décadas longe de uma sala de aula, como Manoel Lucas de Souza, que decidiu voltar aos estudos depois dos 40 anos de idade.

“Quando jovem, estudei apenas até a quarta série. Meu pai não era alfabetizado e acabou não deixando que eu continuasse. Mas estudar sempre foi um sonho. Voltei em 2002 e, agora, entrei no curso de Edificações para me profissionalizar”, conta Souza.

Há mais de 600 Alunos matriculados em 50 turmas formadas neste ano no Proeja. A ação é voltada a pessoas com mais de 18 anos que concluíram o Ensino fundamental, mas que não tiveram a mesma oportunidade com o médio.

Risco de longo prazo
Para Julio Takeshi Suzuki, diretor de pesquisa do Ipardes, a inversão na curva da taxa de Escolarização entre jovens está relacionada ao mercado de trabalho aquecido. Na opinião do especialista, essa evasão representa um risco de longo prazo para o país. “Existe uma estreita relação entre qualidade do trabalho e Escolaridade. Se as pessoas abandonam a Escola para trabalhar porque há mais vagas, deixam de se preparar melhor para o futuro.”

Novo currículo
Para mudar o currículo do Ensino médio, é necessário alterar a Matriz de Referência do Exame Nacional do Ensino médio (Enem) e os conteúdos cobrados nos principais vestibulares do país. Essa é a opinião do Educador Celso Hartmann, diretor-geral do Colégio Positivo. “Sou a favor da proposta do governo federal, mas, se os concursos continuarem cobrando o conteúdo atual, a Escola é obrigada a manter as disciplinas tradicionais.”

De acordo com o IBGE, entre 2007 e 2009, a taxa de Escolarização nessa faixa etária, que engloba principalmente Alunos do Ensino médio, havia saltado quase quatro pontos porcentuais. A inversão na curva, mesmo que tímida, preocupa porque o ideal para o país seria a universalização do Ensino médio, com o incentivo para que mais pessoas façam cursos superiores ou técnicos.

A evasão do sistema Escolar significa que a cada ano milhares de brasileiros vão entrar no mercado de trabalho com baixa qualificação, ou engrossar a geração dos chamados “nem-nem”, jovens que não trabalham nem estudam.
Só em 2012, 1,6 milhão de pessoas entre 15 e 17 anos estavam fora da Escola. De 2009 para cá, apenas nove estados não tiveram queda na taxa de Escolarização dessa faixa etária, entre eles o Paraná, onde passou de 80,5% para 81,4% – bem abaixo do índice nacional e que, em números absolutos, representa mais de 100 mil adolescentes fora das carteiras do Ensino médio no ano passado.

Segundo a doutora em Educação Evelise Portilho, da PUCPR, o mercado de trabalho é apenas uma das causas da evasão Escolar. “Nessa fase, o adolescente pode procurar um emprego e alguns acabam desistindo dos estudos, mas há também aqueles que abandonam por achar a Escola extremamente maçante. O Ensino médio não acompanhou as necessidades desses jovens e precisa de uma reestruturação muito séria”, diz.
É esse conjunto complexo de fatores de desestímulo que precisa ser enfrentado pelo governo federal para universalizar o Ensino básico, que engloba os níveis fundamental e médio. E a diferença entre as duas fases da Educação é gritante: para crianças e adolescentes até 14 anos, a taxa de Escolarização supera 98%.

Na tentativa de aproximar os resultados dessas duas fases do Ensino, o Ministério da Educação (MEC) estuda mudar o currículo do Ensino médio, composto atualmente por 13 disciplinas obrigatórias. A ideia é agrupar as matérias em quatro grandes áreas (ciências humanas, ciências da natureza, linguagens e códigos e matemática).

A pedagoga Elisane Fank, do Colégio Estadual do Paraná, elogia a proposta, mas diz que é preciso cautela com o resultado. “A ideia do MEC é inovadora, mas, ao reagrupar as disciplinas, não pode suprimir áreas importantes do conhecimento.”

“Trabalho atraiu mais do que Escola”
Em um passado recente, quando tinha 15 anos, Juarez Spieler Júnior fez parte do grupo de milhares de jovens que abandonam os bancos Escolares. A história dele não é diferente da maioria: trocou a Escola por uma vaga no mercado de trabalho. O futuro, ele espera que seja diferente.

“Voltei a estudar neste ano porque estava sentindo dificuldades em várias áreas, inclusive em Português. O mercado de trabalho é muito mais difícil para quem não estuda”, conta o jovem de 18 anos.

Segundo Spieler, foi um convite de um parente que deu sua primeira oportunidade no mercado de trabalho e, indiretamente, acabou desestimulando sua presença nas carteiras do 8º ano do Ensino fundamental. Agora, o jovem voltou aos estudos no CEEEJA (Centro Estadual de Educação básica para Jovens e Adultos) Paulo Freire e de lá não pretende sair até 2014. “Vou me formar e depois fazer uma faculdade de Engenharia da Computação. O conselho que dou para quem pretende abandonar é que não faça isso, porque o estudo é importantíssimo”. 


Fonte: Gazeta do Povo (PR)

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