terça-feira, 22 de julho de 2014

Carga horária de professor brasileiro em sala de aula supera a de países da OCDE

Estudo global traz levantamentos sobre práticas de trabalho docentes a partir de entrevistas com 106 mil professores e diretores de escola em 34 países

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que os Professores brasileiros dos anos finais do Ensino fundamental gastam 25 horas por semana em sala de aula, lecionando. Essa é uma das principais conclusões do estudo global "Teaching and Learning International Survey" (Talis), que traz levantamentos amostral sobre práticas de trabalho Docentes a partir de entrevistas com 106 mil Professores e diretores de Escola em 34 países - 15,3 mil profissionais no Brasil.

O documento mostra ainda que a carga de trabalho em sala de aula dos Docentes brasileiros é 6 horas superior à jornada laboral média de todos os Professores que responderam à Talis, oriundos de países como Estados Unidos, Chile, Portugal, Inglaterra, Coreia do Sul.

O dado sobre o tempo gasto em sala de aula é uma novidade e indica que, ao menos no segundo ciclo do Ensino fundamental, está sendo cumprida a legislação brasileira, de 2008, que estabelece que os Professores destinem um terço de sua jornada de trabalho ao planejamento e à preparação de aulas.

O problema, explica a pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC) e colaboradora da OCDE, Gabriela Moriconi, mais de 60% dos Professores brasileiros que responderam à pesquisa trabalham em tempo parcial. Ou seja, não têm dedicação exclusiva à docência em uma única Escola.

"No dia a dia, os Professores dos países da OCDE estão 19 horas na sala de aula por semana. É menos que o Brasil, mas eles estão numa única Escola e isso representa a metade do dia de trabalho deles. No resto do tempo eles estão preparando aula, corrigindo lição ou - no caso de experiências que eu presenciei na Inglaterra - assumem outras responsabilidades que ajudam no funcionamento da Escola, como tutoria e gestão Escolar", diz Gabriela

"Não dá para dizer que não tem políticas nesse sentido no Brasil, mas as condições são diferentes, os Professores daqui têm menos tempo pois lidam com condição diferente de trabalho. Dos Professores que responderam estar em tempo integral em uma Escola o tempo em sala de aula sobe para 29 horas, bem acima das exigências da lei do piso para preparação de aulas e outras atividades", completa a pesquisadora.

José Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação, atenta para o fato de que a Talis é uma pesquisa amostral e de percepção dos Professores. "Ela não mede desempenho, mas traz dados sobre uma dimensão nova da percepção do Professor aqui e em outros países. São indicações interessantes para políticas públicas, uma visão internacional que acrescenta, mas não é nada em definitivo", diz Soares.

A Talis aponta também que 94% dos Professores brasileiros têm diploma de Ensino superior contra uma média de 91% do total de respondentes. Apesar do dado positivo, cerca de 25% não fizeram curso de formação de Professores. "Pode ser que tenha outro emprego, que seja advogado ou jornalista e pegue aulas extras para complementar renda", observa Gabriela. No Chile, nove entre dez têm formação relacionada à pedagogia.

A pesquisa também aponta que 71% dos Docentes brasileiros são mulheres, com idade média de 39 anos e 14 anos de experiência no magistério, em média. No Brasil, os Professores têm uma média de 31 Alunos por turma, enquanto a média dos países da Talis é de 24.


Fonte: Valor Econômico (SP)
http://www.todospelaeducacao.org.br

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