terça-feira, 22 de julho de 2014

Inglês na escola não passa do verbo to be

Estudantes que têm interesse em aprender efetivamente a língua precisam, em geral, procurar cursos especializados

"Se eu considerasse somente o que aprendi na Escola pública, meu inglês seria muito básico. Hoje eu sei mais pelo meu interesse, por experiências de vida, lendo e vendo filmes em inglês" Gabriela Oliveira, de 16 anos, estudante do Centro de Ensino médio Taguatinga Norte

A Copa do Mundo levou setores como hotelaria, comércio e segurança a investir em aulas de inglês para os funcionários e trouxe a constatação de que a língua estrangeira é um problema para a maior parte da população brasileira. Na rede pública, o Ensino do idioma enfrenta várias dificuldades. O verbo to be é repetido ano após ano durante a etapa fundamental. Na última série do Ensino médio, Escolas de algumas regiões preferem focar na leitura. Ainda assim, os estudantes que têm interesse em aprender efetivamente a língua precisam, em geral, procurar cursos especializados.

Professores e Alunos são categóricos em afirmar que não é possível aprender, no Ensino regular, as quatro habilidades da língua — ouvir, falar, ler e escrever. “Se eu considerasse somente o que aprendi na Escola pública, meu inglês seria muito básico. Hoje eu sei mais pelo meu interesse, por experiências de vida, lendo e vendo filmes em inglês. No Ensino fundamental, era um revezamento entre presente simples e passado simples, sempre no to be”, conta Gabriela Oliveira, 16 anos, estudante do Centro de Ensino médio Taguatinga Norte.

Gabriela pretende fazer ciências contábeis. “Quero seguir a carreira de auditora. Sei que terei de lidar com documentos em outras línguas”, avalia. Mas não só por motivos profissionais a jovem considera importante ter conhecimentos em inglês. “Mesmo que a pessoa não goste, se viajar e não souber a língua local, com o inglês pode se virar”, diz. Lucas Magno Viana, 17 anos, estudante do 3º ano do Ensino médio no Centro Educacional 1, do Riacho Fundo 2, tem a mesma posição. “Meu conhecimento em inglês é básico mesmo, porque as aulas são muito básicas. Não dá para aprender muita coisa”, diz. Para ele, seria necessário mais tempo para um aprendizado melhor.

“É muita repetição. E aí o Professor cobra o que a gente não sabe, porque ele imagina que no Ensino fundamental a gente teve acesso àquele conteúdo”, completa Lucas. Ele também cursa espanhol, mas no Centro InterEscolar de Línguas de Brasília (CIL). A Escola oferece cursos de línguas estrangeiras modernas no modelo dos cursos especializados e pertence à Secretaria de Educação do Distrito Federal. Lucas não tem o que reclamar do Ensino no CIL. “Lá o Professor fala em espanhol comigo. Na Escola, eles ensinam inglês falando em português”, compara. No DF, nem todas as regionais de Ensino têm um centro desses. Portanto, os estudantes da rede pública da capital se dividem entre os modelos da Escola regular e o curso especializado.

Núbia Batista de Souza é Professora de inglês, mas desde janeiro assumiu um cargo de direção. Para ela, as dificuldades no exercício da docência da língua começam cedo. “A relação de livros que a gente tem para escolher já complica porque são todos para quem já tem um conhecimento prévio, o que não acontece entre os Alunos”, diz. O primeiro contato com a língua na rede pública é no 6° do Ensino fundamental. “O ideal seria depois da Alfabetização em português”, aponta. Da forma como é feito, ela admite: “As crianças não vão aprender a falar inglês. No máximo o instrumental.”

Programa nacional
O cenário descrito pela Professora no DF se repete pelo país, como analisa o Professor do Departamento de Letras e Línguas Estrangeiras da Universidade de Brasília (UnB) Gilberto Antunes Shavet. “Praticamente não há mudanças em outras regiões. Considerando a carga horária disponível, o número de Alunos em sala, o nível diferente entre eles, fica um Ensino capenga”, avalia.

De acordo com ele, nessas circunstâncias, o mais comum é que os Professores optem por focar na compreensão da leitura. “Mudar é complicado. Uma das melhores experiências é mesmo a do CIL. Houve um tempo em que tínhamos um programa nacional, mas isso também não é bom nesse caso porque algumas regiões não conseguem se adequar”, recorda. Gilberto Shavet acaba por sugerir que os estudantes interessados busquem materiais didáticos por conta própria ou, para os que têm condições, cursos particulares para melhorarem a desenvoltura no inglês.


Fonte: Correio Braziliense (DF)
http://www.todospelaeducacao.org.br

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