sexta-feira, 20 de abril de 2012

Estudantes podem estar trocando ensino regular pelo antigo supletivo, diz Inep

Hipótese é levantada pelo Inep para explicar o fato de os estudantes nos anos iniciais da EJA terem idade maior que os das etapas finais

A EJA (Educação de Jovens e Adultos), o antigo “supletivo”, pode estar recebendo alunos do ensino regular. Essa é uma das hipóteses cogitadas pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) para explicar o fato de os estudantes nos anos iniciais desta modalidade terem idade maior que os das etapas finais.
A conclusão faz parte do Resumo Técnico do Censo Escolar 2011, divulgado pelo órgão. Segundo especialista ouvido pelo UOL Educação, alunos que desistiram da escola há pouco tempo podem estar voltando, mas, dessa vez, para a EJA.
Segundo o estudo, enquanto a idade média nos anos iniciais (o equivalente à primeira etapa do fundamental, do 1º ao 5º ano) da EJA tem subido, de 36 em 2007 para 38 no ano passado, nos anos finais (6º ao 9º ano) houve uma ligeira redução –de 26 anos em 2007 para 25 em 2011. No ensino médio, a idade média se manteve em 28 anos.
Para o Inep, os anos iniciais poderiam não estar “produzindo demanda” para os anos finais e para o ensino médio, o que demonstraria haver “fortes evidências” de que a EJA está recebendo alunos do ensino regular.
Reprovação e abandono
Roberto Catelli, coordenador do programa de educação de jovens e adultos da Ação Educativa, afirma que isso pode ser um reflexo do próprio aumento do número de alunos nos anos iniciais na escola regular. No meio do processo, os estudantes abandonam as aulas ou são reprovados. Eles interrompem os estudos e voltam após alguns anos.
“Há mais gente entrando na escola nos anos iniciais. Você tem um ciclo maior de pessoas que saem e voltam para a escola. E não são pessoas que ficam 20 anos sem estudar, ficam três, quatro, cinco e voltam”, diz.
Segundo ele, isso acaba gerando uma tendência à “juvenilização” da modalidade, dado que muitos que entraram na idade certa no ensino regular vão para o antigo supletivo por causa de reprovações e abandono.
Faltam vagas
Esse movimento nas idades veio acompanhado de uma nova queda no número de matrículas. Entre 2010 e 2011, houve uma redução de 6% (de 4.234.956 para 3.980.203), que, porém, é menor do que a diferença entre 2010 e 2009, quando a diminuição foi de 8,7%.
Além disso, o relatório do Inep indica uma forte discrepância entre a demanda por EJA e o número de matriculados. Segundo o documento, enquanto a população acima dos 18 anos que não frequenta a escola e não tem o fundamental completo bate em 57,7 milhões, a matrícula está em torno de 4 milhões.
Para Catelli, a razão é só uma: o fechamento de turmas. “O que a gente pode olhar é que as [matrículas nas] redes estaduais estão caindo em EJA. Nas municipais, é menor, mas tem rede que caiu 20%. O motivo do fechamento é o que muita gente gostaria de saber”, diz.
Segundo ele, algumas hipóteses podem explicar o fim das salas do antigo supletivo. “Existe um foco de investimento em ensino regular e não na educação de adultos. Há problema de metodologia de ensino, evasão alta, falta de formação de professores especializados, faltam escolas diurnas. Você não tem condições reais e efetivas para que essa pessoa vá à escola. Entre o emprego e a escola, as pessoas vão para o emprego. Entre e a creche a escola, eu fico com meu filho. Não é uma escola em que ele é obrigado a ficar.”
O Censo Escolar da Educação Básica é realizado anualmente pelo Inep. Estabelecimentos públicos e privados de educação básica são obrigados por lei a oferecer as informações.

Fonte: UOL Educação

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