terça-feira, 16 de abril de 2013

A MATEMÁTICA DA EFICIÊNCIA

Chegada ao nível Médio da primeira turma da Educação Fundamental estendida mostra como adição de um ano no ensino reduziu problemas com alfabetização e multiplicou eficácia de alunos mineiros

Eles ainda não têm plena consciência do significado de estar naquelas salas de aula. Em outras circunstâncias, os mais de 300 mil estudantes do 1º ano do Ensino médio da rede estadual de Minas seriam apenas parte de mais uma turma rumo à reta final de conclusão do ciclo básico. Entretanto, mesmo sem saber, fizeram história, ao protagonizar outro capítulo da Educação brasileira: são os primeiros Alunos a chegar ao Ensino Médio após entrar no nível fundamental aos 6 anos de idade. A melhoria no aprendizado ao longo de nove anos é sentida no dia a dia e na avaliação dos próprios estudantes, embora só possa ser medida em números no fim deste semestre, quando saem os resultados de prova aplicada na semana passada. Mas o Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb), que passou de 4 para 6 na última avaliação do governo federal, deixando Minas como o melhor estado do país, é um dos indícios de que entrar mais cedo na Escola contribui para a qualidade da Educação.

O estado foi o primeiro do país a implantar o Ensino fundamental de nove anos, em 2004, aumentando em um ano o período de conclusão da primeira etapa do ciclo básico. Antes, a criança entrava na antiga 1ª série aos 7 anos. Com a mudança, foi incorporado ao fundamental o Pré-Escolar, que era oferecido somente nas Escolas infantis. Em 2010, a proposta se tornou obrigatória para todo o país. “Em média, os Alunos já estudavam os nove anos, pois ficavam retidos, uma vez que chegavam sem a preparação básica. Como muitos não tinham atendimento da Educação infantil, ficavam atrasados em relação a outros que tiveram a oportunidade de fazer o Pré-Escolar. Optamos, então, por trazer as crianças mais cedo para a Escola e prepará-las para serem alfabetizadas na idade certa, até os 8 anos”, conta a subsecretária de Desenvolvimento da Educação básica da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Raquel Elizabete de Souza Santos.

O início da vida Escolar já ficou perdido na memória desses adolescentes, mas uma coisa é certa: eles se sentem mais maduros e prontos para encarar os desafios do Ensino médio. O estudante Carlos Henrique do Carmo Assunção, de 15 anos, da Escola Estadual Padre João Botelho, no Bairro Novo das Indústrias, no Barreiro, em Belo Horizonte, estudou em Escola infantil antes de começar o fundamental aos 6 anos. Mesmo tendo iniciado antes o processo de Alfabetização, ele não tem dúvidas da importância de ter estudado os nove anos na primeira etapa da Educação básica: “Quanto mais tempo na Escola, melhor é a base”. Carlos garante já estar adaptado ao currículo mais apertado e a disciplinas como sociologia, filosofia, química e física.

Também da Padre João Botelho, Dalva Maria de Lima, de 15, teve a mesma oportunidade de estudar numa escolinha do bairro antes de entrar para o 1º ano do fundamental, mas diz que foi na instituição estadual que aprendeu a ler e a escrever. Ela tem plena consciência da importância do ano agregado a essa etapa do Ensino. “Muitos pais põem os filhos na escolinha para aprender coisas básicas, mas outros não têm condições de pagar, então, a Escola estadual agora cumpre esse papel”, afirma. “Faz muita diferença ficar nove anos na Escola.”

Douglas Simões Flores, também de 15, mas da Escola Estadual Silviano Brandão, na Lagoinha, Nordeste de BH, também entrou aos 6 anos, e ficou surpreso ao saber que faz parte desse contingente de Alunos que marcou uma nova trajetória da Educação. O estudante quer se formar em tecnologia da informação e, se depender do seu gosto por computadores, já pode se considerar na universidade. A mãe, a promotora de vendas Luciana Sueli Simões Flores, de 42, tem em casa outro exemplo da Educação ampliada para nove anos – o filho Antônio, de 8 – e garante: “Meus dois filhos foram alfabetizados na idade certa”. Douglas acredita que o fato de ter se dedicado aos estudos com responsabilidade na etapa anterior o ajudou a encarar, tranquilamente, matérias normalmente temidas pelos estudantes, como química, física e matemática. Nos próximos anos, ele tem apenas um desejo. “Espero sair formado para enfrentar a vida.”

CORREÇÃO
Diretora da Escola Padre João Botelho, Eliane Geralda de Oliveira percebe no dia a dia o impacto da mudança no desempenho dos Alunos: “Eles dispõem de mais tempo para desenvolver habilidades e, por entrar na Escola aos 6 anos, passam a interagir com grupos e a aprender noções de direito e dever”. Para ela, a medida corrigiu uma distorção social, pois muitos pais não tinham condições de pagar uma Escola particular nem a rede municipal tinha como atender a demanda dos menores de 7 anos. “Os índices de qualidade mostram a melhoria dos meninos que entram mais cedo.”

Termômetro do desempenho
As provas aplicadas na semana passada em mais de 2 mil Escolas da rede estadual de Ensino vão mostrar o desempenho da primeira turma do nível fundamental com nove anos e permitir uma comparação com os estudantes do sistema anterior. A expectativa é de que os resultados sejam conhecidos até junho. O diagnóstico, que será feito por região e por Escola, servirá ainda para mostrar as necessidades de aperfeiçoamento, como formação continuada de Professores e habilidades a serem desenvolvidas.

“Segundo os nossos acompanhamentos, os meninos que começaram mais cedo estão melhores em relação àqueles que estiveram na mesma série em anos anteriores. Na série histórica que temos, percebemos que eles conseguiram agregar mais conhecimento, mais atenção e habilidades”, ressalta a subsecretária de Desenvolvimento da Educação básica da Secretaria de Estado de Educação, Raquel Elizabete de Souza Santos.

A reestruturação se refletiu também nas avaliações do governo federal, como o Ideb, ajudando o estado a passar da casa dos 4 para os atuais 6 na escala. Raquel destaca que esses são desafios para evitar repetência e evasão do nível médio. “Se os Alunos chegam defasados, não dão conta de acompanhar e, depois, batem à nossa porta para fazer a Educação de Jovens e Adultos (EJA)”, afirma. ]

IDADE CERTA
A Alfabetização até os 8 anos de idade é parte do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, compromisso formal assumido pelos governos federal, estados e municípios para assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até o fim do 3º ano do Ensino fundamental. O acordo foi firmado por todas as unidades da federação e por 5.393 municípios. Serão atendidos mais de 7 milhões de estudantes de 400 mil turmas das três primeiras séries do Ensino fundamental, em 108 mil Escolas.

Fonte: Estado de Minas (MG)

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