sexta-feira, 9 de agosto de 2013

PESQUISA: EXCESSO DE DISCIPLINAS NO ENSINO MÉDIO CONTRIBUI PARA EVASÃO

Pesquisa foi feita entre 2009 e 2010 em escolas públicas mineiras

A evasão no ensino médio se tornou um grande problema em todo o Brasil. Entre as explicações para isto, a partir da opinião dos próprios estudantes, está o excesso de disciplinas na grade curricular. O assunto foi discutido nesta terça, dia 6, no Encontro Internacional de Educação Salamundo 2013, realizado em Curitiba (PR), pelos pesquisadores Tufi Machado e Mariana Calife, da Universidade Federal de Juiz de Fora, de Minas Gerais. Eles apresentaram os resultados de uma pesquisa sobre a evasão nesta etapa do ensino feita entre 2009 e 2010 em escolas públicas mineiras.

Os dois pesquisadores ouviram estudantes do ensino médio sobre os motivos para frequentarem a escola. Entre as principais respostas eles ouviram que os alunos eram forçados pelos pais ou viam os estudos como obrigação. Parte dos entrevistados comentou que não gostava do ensino médio porque acreditava que nem a metade do que estudava serviria para alguma coisa no restante da vida, além da grande quantidade de disciplinas. Para melhorar essa etapa, os estudantes sugeriram mais inovação dentro da sala de aula, conteúdo mais atraente e menos matérias.

"Uma das principais causas para o abandono é a necessidade de trabalhar. O ensino médio se torna penoso demais", afirma Machado, em relação às variáveis familiares que influenciam na decisão do jovem.

Em relação à escola, a falta de qualidade do trabalho dos professores e da própria estrutura também foi apontada pelos estudantes na pesquisa. "O que mais me chamou a atenção foi esta capacidade do aluno de avaliar a qualidade do trabalho dos professores e da escola. Não esperava que isto ocorresse. Eles têm uma visão razoável do que acontece e um razoável senso crítico na posição deles, mas também possuem autocrítica bastante significativa", declarou Machado.

Quanto ao universo do aluno, as dificuldades gerais nas disciplinas influenciam na decisão de deixar a escola. "Os jovens desistem da escola quando sentem que não estão aprendendo. Vislumbrar que o estudo lhes trará melhores oportunidades na vida aumenta as chances de permanência", destaca o pesquisador.

Para Machado, toda a avaliação dos estudantes e o fato de eles apontarem o número de disciplinas como problema indicam a necessidade de se construir outro modelo para o ensino médio. "Precisamos ter alguns modelos diferentes, todos com qualidade, adaptados às necessidades e interesses que o jovem tem", aponta o pesquisador.

Na opinião dele, a mudança de curricular para grandes áreas do conhecimento, como já ocorre na avaliação do Enem, pode ser positiva. "Já é razoavelmente aceito que precisamos diminuir o número de disciplinas. Mas como fazer isto? O ensino público é muito rígido, precisa de certa maleabilidade para atingir estes objetivos. Não é tão trivial", analisa Machado.



Mercadante defende tablets no ensino: 'aluno é digital, nós somos analógicos'
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, salientou nesta terça-feira a necessidade de investimento no professor e defendeu a distribuição de tablets aos profissionais da rede pública. “Precisamos dar acesso a tecnologias novas. O aluno já é digital, nós somos analógicos e o Estado brasileiro é cartorial”, brincou. O ministro apresentou o cenário da educação no Brasil na abertura do Encontro Internacional de Educação Salamundo 2013, evento realizado em Curitiba.

“Temos que melhorar os cursos de licenciatura. Por isso, estamos oferecendo 75 mil bolsas de iniciação à docência. Mas temos que construir um programa de cursos com mais vivência em sala de aula”, explicou, detalhando a realidade e as perspectivas do ensino no País.

Mercadante elegeu o ensino médio como o grande desafio do Ministério da Educação (MEC). Analisando os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Mercadante mostrou que é no ensino médio o pior resultado do Brasil, atingindo apenas a meta do ministério de 3,7 pontos. “Mas parte disso se deve ao grande incremento que tivemos no ensino médio nos últimos 20 anos. Colocamos mais 5 milhões de crianças no ensino médio, o que sobrecarregou as secretarias estaduais de educação, que são responsáveis por 80% dessa demanda.”

Dividindo a palestra entre os cenários e perspectivas no ensino fundamental, médio e superior, o ministro citou as ações da pasta em cada setor. “No fundamental, o 'carro-chefe' é o projeto Mais Educação. Estamos com 49 mil escolas já com jornada de sete horas diárias. Mas, sem diminuir a importância das outras atividades, o foco do Mais Educação tem que ser português, matemática e ciências. Não conseguiremos melhorar o nível de nossos alunos se nas horas a mais de escola oferecermos só esporte, cultura e lazer”, declarou.

Mercadante reafirmou ainda que a educação é a grande responsável pelo salto no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios brasileiros nos últimos 20 anos. “O Brasil saltou de 85% de municípios com IDH muito baixo em 1991 para 74% com o IDH ao menos regular em 2011 e, ao contrário do que muitos dizem - que a educação trava o IDH -, foi a educação que alavancou essa mudança”, disse o ministro.

Ele apresentou dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontando que, enquanto a longevidade teve importância de cerca de 18% para o crescimento do IDH e a renda, 12%, a educação foi responsável por 71% dessa melhora. “Mas isso porque a educação partiu de um patamar muito abaixo dos outros dois quesitos, então ainda estamos longe do ideal”, disse.

"Não há vestibular com a transparência do Enem"
Sobre o ensino superior, o ministro destacou que, de 2000 para 2011, o número de vagas em universidade cresceu 150% e comparou esses dados com a quantidade de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Temos, hoje, 1,5 milhão de vagas por ano, enquanto temos 7,5 milhões de inscritos no Enem. Então temos 6 milhões de brasileiros sem vagas e eu ainda tenho que convencer grupos conservadores elitistas de que é preciso abrir mais vagas.”

Mercadante ainda falou sobre o Enem e defendeu a política de cotas. “Temos o segundo maior exame do mundo e será ainda mais transparente e rigoroso. Aumentamos os critérios de correção, dobramos o número de corretores (serão 8,4 mil). Devolveremos a prova e a redação para fins pedagógicos. Não há vestibular com a transparência que o Enem tem hoje”, disse o ministro, que defendeu a reforma curricular do ensino médio a partir do Enem. “O Enem universal está chegando”, vislumbrou.

Sobre as cotas, o ministro reforçou o discurso de que “a educação serve para reduzir desigualdades” e salientou que as cotas não diminuíram o nível dos estudantes universitários. “A discrepância de notas não passa de 3% em nenhuma escola”, disse Mercadante.

Fonte: Terra

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