quarta-feira, 15 de maio de 2013

OLIMPÍADA DE MATEMÁTICA INCENTIVA ESCOLAS PÚBLICAS

Estudantes com melhor desempenho ganham medalhas e menções honrosas; os premiados com medalhas (serão 6 mil, em 2013) são convidados a participar de um programa de iniciação científica

Uma Professora e dez Alunos de Escolas públicas de Paulista, pequena cidade do interior da Paraíba, são os convidados da audiência que a Comissão de Educação e Cultura (CE) do Senado promove amanhã. Os senadores querem saber como a cidade, de pouco mais de 13 mil habitantes, conseguiu obter desempenho notável na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).

O coordenador de Tecnologia da Educação do Ministério da Educação (MEC), Mauricio Almeida Prado, também participa da audiência, que começa às 10h na sala 15 da Ala Alexandre Costa.
Em 2012, os paulistenses conquistaram 22 prêmios. Treze deles foram para a Escola Municipal Cândido de Assis Queiroga, para Alunos de Jonilda Alves Ferreira, a Professora convidada para a audiência de amanhã.

A iniciativa de promoção da audiência é dos senadores João Capiberibe (PSB-AP) e Vital do Rêgo (PMDB-PB). Para Capiberibe, os estudantes de Paulista e a Professora “são exemplos para o Brasil”. Vital afirma que o Senado precisa conhecer e divulgar métodos como o de Jonilda:

— Ela soube construir uma teoria com alto padrão de aplicabilidade prática. Queremos que venha à comissão explicar ao país como consegue fazer isso.

Defendendo a tese de que é preciso dinamizar o Ensino da disciplina, a Professora costuma levar turmas à feira livre da cidade para ensinar na prática o cálculo de frações, medições de área ou operações de soma e subtração.

— Eles precisam vivenciar as situações para perceber o quanto a matemática é importante na vida da gente. Quando começam a gostar e se interessar, você pode puxar por eles, e eles respondem — conta Jonilda, que usou a sala de casa para dar aulas de reforço aos Alunos, à noite.

Outra pequena cidade campeã na Obmep foi elogiada em Plenário por Ciro Nogueira (PP-PI), Wellington Dias (PT-PI) e João Vicente Claudino (PTB-PI): a piauiense Cocal dos Alves, de 5 mil habitantes, classificada de “fenômeno educacional” por conquistar quatro medalhas de ouro na edição de 2011.

Paulista e Cocal dos Alves são exemplos da motivação que a Obmep vem levando às Escolas públicas brasileiras. Idealizada pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), a olimpíada é promovida anualmente pelo MEC e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com apoio da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM).

Podem se inscrever Escolas de redes municipais, estaduais ou federais com turmas dos anos finais do Ensino fundamental (6º a 9º ano) e de Ensino médio. A edição deste ano tem 47,1 mil Escolas e 18,7 milhões de Alunos inscritos. Os estudantes com melhor desempenho ganham medalhas e menções honrosas. Os premiados com medalhas (serão 6 mil, em 2013) são convidados a participar de um programa de iniciação científica. Professores (como Jonilda, premiada em 2012), Escolas e secretarias de Educação também são laureados.

A olimpíada Escolar foi criada pelo Impa com objetivo de revelar jovens talentosos e estimular o Ensino da disciplina na rede pública. A primeira edição aconteceu em 2005. Na época, já existia a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), que abrange redes públicas e privadas. Mas os premiados, em geral, eram estudantes de instituições particulares.

— A Obmep surgiu porque entendeu-se que Alunos da rede pública também tinham o direito de ser estimulados a aprofundar seus conhecimentos em matemática, uma área estratégica para o país — conta Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que na época era secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do MCTI e foi responsável, no ministério, pelas duas primeiras edições do projeto.

Com orçamento de R$ 40 milhões (pouco mais de R$ 2 por Aluno), a olimpíada se firma como exemplo de política pública de baixo custo e grandes resultados.

— Estamos conseguindo despertar vocações, revelar talentos e estimular Alunos da rede pública a estudar com o objetivo de ingressar na universidade — afirma Cláudio Landim, diretor-adjunto do Impa e coordenador da Obmep. Além de incentivar estudantes, a olimpíada motiva Professores, gestores Escolares e redes de Ensino, explica Landim. A competição faz colégios e Docentes valorizarem a matemática e muitos passam a desenvolver programas, fora do horário das aulas, para preparar os Alunos.

— Uma medalha ou menção honrosa tem impacto na Escola como um todo, porque reconhece o mérito ao esforço, ao estudo. Isso desperta o desejo de aprender.

Desafio é atrair bons professores
O desempenho dos estudantes da rede pública brasileira é preocupante em matemática. Em exames internacionais como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, promovido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a OCDE), o Brasil ficou na 57ª posição entre 66 países avaliados. Outro levantamento — feito pelo movimento Todos Pela Educação com base nos resultados da Prova Brasil, do MEC — mostrou que apenas 10% dos Alunos chegam ao fim do Ensino médio sabendo o esperado em matemática.

Para o diretor-adjunto do Impa e coordenador-geral da Obmep, Cláudio Landim, o grande desafio para melhorar a aprendizagem da disciplina é promover o reconhecimento do magistério no Brasil.

— O Professor é a peça fundamental do Ensino de matemática. Ou o país encontra formas de valorizar o Professor, ou o problema vai perdurar — afirma.

Na visão de Cristovam Buarque (PDT-DF), as deficiências no Ensino da disciplina são apenas parte de um problema estrutural da Educação básica pública brasileira, em que a Escola não consegue ensinar nem matemática, nem outras disciplinas. Cristovam defende que o caminho é uma reforma ampla no sistema de Ensino, com investimentos que possam garantir um padrão de qualidade para todas as Escolas públicas e sustentar a criação de uma carreira nacional do magistério público, com piso salarial unificado em um valor inicial, sugerido por ele, de R$ 9 mil. Isso, defende o senador, só seria possível com a federalização da Educação básica, em que a União passaria a custear o sistema (atualmente, a manutenção dos Ensinos infantil, fundamental e médio é responsabilidade dos municípios e dos estados).

— As olimpíadas Escolares têm seu mérito, revelam gênios, e descobrir esses talentos é bom. Mas não há um impacto no quadro educacional como um todo. O Brasil precisa é que todos os milhões de meninas e meninos brasileiros saibam matemática e também português, ciências, história, inglês... Precisamos de Educação de qualidade para todos.
Em abril, o MEC ­anunciou que prepara programa visando atrair estudantes do Ensino médio para a carreira de Professor da Educação básica, especialmente em matemática, química, física e biologia. Para isso, planeja criar parcerias com universidades e oferecer bolsas a Alunos de Ensino médio e de licenciaturas.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante (que hoje fala à CE sobre planos do ministério), afirmou recentemente, em audiência na Câmara, que é preciso estimular a vocação de Professor, pois a demanda por licenciaturas — principalmente na área de Exatas — é baixa. Uma das ideias é incorporar ao programa estudantes medalhistas das olimpíadas de matemática.

A preocupação com a necessidade de melhoria do Ensino de matemática, a formação de Professores e o incentivo às olimpíadas também está presente no projeto do Plano Nacional de Educação (PLC 103/2012), que pode ser votado hoje na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (veja página 6). O plano, que define os rumos do setor nos próximos dez anos, tem várias estratégias relacionadas à disciplina.

Participação em provas movimenta colégio da Ceilândia
O Centro de Ensino médio (CEM) 09 da Ceilândia (DF) é uma prova do que afirma Landim. A Escola começou a participar da Obmep em 2007. Ano a ano, os resultados melhoravam, o que despertou na direção, nos Professores e nos Alunos a vontade de ingressar em outras competições. O CEM 09 criou então o Projeto Olimpíadas, direcionado a várias áreas de conhecimento, e o Projeto Matemática Todo Dia, específico para a preparação em Exatas. Nas precárias instalações da Escola, cartazes convidam: “Seja um Aluno olímpico, não perca esta oportunidade. Garanta sua premiação e seu curso de iniciação científica”.

No ano passado, o CEM 09 foi campeão da Obmep no Distrito Federal, 17 Alunos foram ­aprovados na Universidade de Brasília (UnB) e no curso de Medicina da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs) e 18 conseguiram bolsa integral do ProUni por causa do bom desempenho no Enem. Competindo com instituições privadas, a Escola foi a terceira colocada, no Brasil, na Olimpíada Internacional Matemática sem Fronteiras, e seis Alunos viajaram à Índia para participar da Quanta, competição mundial de matemática e ciências. O CEM 09 também obteve medalhas em olimpíadas de astronomia, robótica, física e oceanografia e foi campeão da 4º Jornada de Foguetes. Graças ao desempenho, vários Alunos conseguiram bolsa de pesquisa em programas de iniciação científica. E essas são apenas algumas das conquistas, que renderam ao centro o apelido de “Escola olímpica”.

— A Obmep mudou a cultura da nossa Escola. Hoje, nossos projetos estão transformando vidas. Os Alunos perceberam que o esforço vale a pena, que estudante de Escola pública também pode competir e que, estudando, todos são capazes — resume a Professora Alessandra Lisboa, coordenadora dos projetos olímpicos.

Fonte: Jornal do Senado (DF)

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