sexta-feira, 20 de julho de 2012

Editorial: Por que ler pode ser tão difícil?

"Muitas das crianças da Pré-Escola não estão maduras para a complexidade requerida para a leitura, o que pode afetar a sua autoimagem e interesse pelo aprendizado, tornando o acesso à escola um pesadelo", afirma jornal

Todos nós consideramos a leitura como uma habilidade natural e automática porque a realizamos sem esforço algum. Entretanto para muitas crianças e adultos o ato de ler é um verdadeiro pesadelo e esta é a realidade para 10% a 15% da população. A leitura é a habilidade mais difícil e complexa que o ser humano desenvolveu – e, embora nos sejam dados muitos anos para aprender a falar, concedemos apenas um ano ou pouco mais para que as crianças aprendam a ler. Hoje as crianças na Pré-Escola já são capazes de ver uma letra, associar ao som e reconhecê-las em palavras. No entanto, muitas delas não estão maduras para a complexidade requerida para a leitura, o que pode afetar a sua autoimagem e interesse pelo aprendizado, tornando o acesso à Escola um pesadelo.
Excluindo-se os déficits mentais e a cegueira, as principais causas de dificuldades na leitura são a dislexia de desenvolvimento e a síndrome de Irlen. A dislexia vem sendo discutida e já se tem conhecimento da importância do apoio multidisciplinar. Já o reconhecimento da síndrome de Irlen no Brasil se iniciou pelo trabalho realizado na Fundação Hospital de Olhos, junto às crianças em idade Escolar e voltado para a prevenção e saúde visual.
O que intriga os oftalmologistas é que, embora uma parcela das crianças apresente normalidade em exames detalhados refracionais e de estrabismo, não conseguem aprender a ler! São espertas, inteligentes, participativas, mas não se saem bem na leitura. Há queixas de fotofobia, lacrimejamento e cansaço visual, sonolência, perda da concentração, baixo rendimento Escolar e a sensação de que o texto fica mais claro, que as letras parecem tremer ou se juntar, levando o leitor a se desconcentrar. Curiosamente essas dificuldades também aparecem no computador, ao olhar o quadro-negro, praticando esportes e até quando andam de ônibus ou de carro levando-as a ter enjoos e também quase sempre se queixam de ser desastrados, trombando em cadeiras ou deixando cair objetos.
Esse conjunto de sintomas foi descrito ainda em 1983 pela psicóloga educacional e familiar Helen Irlen e acabou sendo internacionalmente conhecido como síndrome de Irlen. Trata-se de uma alteração visuoperceptual, causada por um desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz, que produz alterações no córtex visual e déficits na leitura, tendo caráter hereditário e manifestando-se sob maior demanda de atenção visual, como leitura de texto ou trabalho no computador. Por isso, o exame oftalmológico deve ir além dos problemas nos olhos e da acuidade visual.
O reconhecimento da síndrome pode ser feito por profissionais da saúde e da Educação capacitados pelo método Irlen, aplicado em mais de 40 países, e o screening, feito após exame oftalmológico, que identifica a gravidade das distorções perceptuais. Por meio de transparências de cores específicas, eliminam-se essas distorções levando de imediato a uma leitura mais fluente e compreensível. As transparências são um “recurso assistivo”, não invasivo, de baixo custo e alta resolutividade, que potencializam o efeito das intervenções multidisciplinares mesmo na própria dislexia, se houver déficits visuais envolvidos.

Fonte: Estado de Minas (MG)

Nenhum comentário:

Postar um comentário