sexta-feira, 20 de julho de 2012

Especialistas: propostas dinâmicas podem ajudar na alfabetização

De acordo com o IBGE, das quase 12 milhões de crianças brasileiras entre seis e oito anos, cerca de 2,5 milhões não são alfabetizadas

Lançado pelo Ministério da Educação (MEC) no início de julho, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa chega como mais uma estratégia para garantir que os alunos das primeiras séries da rede pública sejam alfabetizados até o final do 3º ano do Ensino Fundamental, com idade máxima de oito anos. O programa tem como foco o ensino de português e matemática.
De acordo com o IBGE, das quase 12 milhões de crianças brasileiras entre seis e oito anos, cerca de 2,5 milhões não são alfabetizadas - sendo 450 mil aquelas com oito anos já completos. Entre as principais carências no início da vida escolar, especialistas apontam metodologia e formação dos professores. Para o consultor de projetos educativos Geraldo Peçanha de Almeida, o modelo antigo de educação é um dos responsáveis pelos maus resultados. "Os alunos ainda estão no quadro, giz e livro didático. Existe um atraso em relação a novas tecnologias, e isso tem nos levado a números negativos. Há resistência por parte dos professores e das políticas adotadas, que sempre vai no sentido de formar o professor e levar o livro didático para a sala de aula, quando todo mundo discute como usar outras tecnologias", diz.
Especialista em pedagogia de projetos, Paty Fonte acompanha a afirmação de Almeida. "Os alunos de hoje não aprendem da mesma maneira de seus pais. Eles precisam de propostas mais dinâmicas. Eles têm conhecimento das mídias da TV, internet, trazem muito conhecimento da rua. Se chega na escola e não vê prática, não encontra sentido naquilo que o professor diz. A questão está na maneira como se transmite conhecimento. Não há proposta de trabalho mais dinâmica, que trate dos problemas da comunidade, que leve os pais para a escola. As famílias não são motivadas a participar", pontua.
Resultados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, divulgados na terça-feira, apontaram que 26% da população pode ser considerada plenamente alfabetizada. Os chamados analfabetos funcionais representam 27%, e 47% da população apresenta um nível de alfabetização básico.
Política unificadora
Com ações voltadas para formação continuada dos professores alfabetizadores, materiais didáticos, literatura e tecnologias educacionais; gestão, controle e mobilização social, além de avaliações anuais realizadas com alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, o programa do MEC deve prestar especial apoio aos Estados e municípios cadastrados na iniciativa.
Para Paty, trabalhar em conjunto com os professores é fundamental. "A formação continuada é a única coisa que pode ajudar os professores a trocar experiências, a sanar as dúvidas, a colocar para fora as dificuldades. Mas é preciso cuidar da formação de maneira correta. Ainda temos palestras muito longe da realidade, com foco exagerado na teoria. O professor precisa conseguir colocar a teoria na prática", diz.
A maneira como profissionais de ensino ministram suas aulas também está entre os aspectos destacados pelos especialistas como decisivo na formação escolar. Para Almeida, a unificação da educação tem sido um problema. "A diferença entre região norte e sul é enorme, mas há políticas unificadoras, que trabalham da mesma forma com um índio e com um aluno branco. A metodologia usada na região norte é usada também em São Paulo, para crianças diferentes, com culturas e realidades diferentes. O Brasil tem ido mal no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), e os analistas percebem é que um país desse tamanho não pode ter política unificadora", diz. "Os alunos precisam conhecer a realidade e interpretá-la de acordo com o que conhece. Um aluno de oito anos só entende geografia globalmente. Ele ainda está em processo de formação, compreende aquilo que vê, que é de sua rotina", acrescenta.
Entre as soluções para permitir que todos os alunos sejam alfabetizados sem lacunas, Paty aposta na aplicação de métodos diversos. "Cada criança é única, e cada uma aprende de uma maneira. Umas têm mais facilidade em uma área do que outras. Para atender as diferenças de uma forma mais eficaz, é importante que as propostas sejam variadas, intercalando diversas formas de tratar do conteúdo", diz.

Fonte: Terra
http://www.todospelaeducacao.org.br

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