sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pesquisador: professores devem trabalhar com diversidade sexual

A discussão sobre a criminalização da homofobia coloca em pauta mais uma vez a Educação sexual

 A discussão sobre a criminalização da homofobia coloca em pauta mais uma vez a educação sexual. A exemplo da indefinição a respeito do kit anti-homofobia, anunciado e posteriormente vetado pelo governo, o Brasil engatinha na área, mas, em outros países, os estudos relacionados a sexualidade e gênero já dão passos largos.
Um dos exemplos que pode ser seguido é o da Universidade de Miami, na qual o programa de Women's and Gender Studies (Estudos de Mulheres e Gêneros) é coordenado pelo professor Steven Butterman, que esteve no Brasil em junho para promover seu livro Invisibilidade Vigilante, uma análise crítica sobre a parada gay de São Paulo. Além de dirigir pesquisas sobre a sexualidade, o canadense, radicado nos Estados Unidos, também está à frente dos estudos sobre a língua portuguesa e o País. "Eu fiquei fascinado pela riqueza de literatura, principalmente pela ambiguidade machadiana", conta Butterman sobre seus primeiros contatos com a cultura brasileira.
Esta dubiedade também o guiou para dentro de uma corrente mais complexa entre as pesquisas sobre gênero e sexualidade. No curso de graduação da universidade americana, foram inseridos os queer studies, ou estudos da teoria queer, que acrescentaram o Q à sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais).
Traduzida, a palavra queer significa "ridículo", "estranho" e, neste caso, se refere à forma pejorativa com que o adjetivo é usado para se referir a homossexuais. De uma forma simplificada, pode-se dizer que os teóricos e ativistas queer são contra a categorização de gêneros, como homossexual, bissexual e heterossexual. Acima de tudo, eles questionam a heteronormatividade, que coloca os heterossexuais como dominantes e os classifica como "normais". "No queer se cultiva a ambiguidade, se nutre dela. No momento em que você define qualquer coisa, acaba não sendo mais queer", explica o professor canadense.
Seja no ensino básico ou superior, os professores devem trabalhar com a ampla diversidade e se preocupar com a não construção de estereótipos. Uma maneira de fazer isso é o policiamento da linguagem usada em sala de aula.
"A gente tem que prestar atenção no processo de linguagem. Para demonstrar maior diversidade, temos que começar trabalhando pela nossa linguagem". Para Butterman, este seria o primeiro e o mais importante passo para uma educação sexual adequada. Todavia, lembra que também existe um paradoxo. Os professores devem evitar o uso de termos para não estimular a categorização, por outro lado, se não os utilizarem, os vocábulos e seus significados podem cair no esquecimento. Na opinião de Butterman, o desaparecimento de palavras, como "gay", "lésbica" e "bissexual", pode influenciar no silêncio e na auto repressão.
Para tratar de um assunto que foge da conceituação, os professores do curso de graduação em LGBTQ da Universidade de Miami recorrem a métodos mais subjetivos para fazer a avaliação de seus alunos. Testes e trabalhos escritos para entregar no final do semestre foram abolidos do currículo.
Através de arte e literatura produzidas por seguidores do queer, o aluno conhece as teorizações dos estudos e deve apresentar, ao final do semestre, a sua própria concepção sobre o assunto, em forma de cartazes e desenhos, por exemplo. "O aluno tem que demonstrar o que ele entendeu com essa noção do queer em movimento, de uma identidade mutável". Não é possível expressar isso com as palavras que a gente usa, porque a nossa linguagem é patriarcal, mesmo os termos lesbianismo e homossexualismo", explica Butterman.
O objetivo é que o estudante forme seus próprios pensamentos para entender outro aspecto da teoria queer: a identidade mutação. Segundo teóricos, as identidades estão sempre em constante construção e desconstrução, por isso não seria possível categorizar o que é normal e o que não é.
Butterman faz outra sugestão de como os estudos de gêneros e queer poderiam ser abordados por professores na educação sexual de crianças e adolescentes. O professor da Universidade de Miami lembra que o Q de queer também pode se referir a questioning, em português "questionar". Este seria o espaço do descobrimento, da busca por entender a identidade mutável: "A categoria de questioning abre uma possibilidade de, em vez de usar o verbo ser, usar o verbo 'tornar-se'. Ele pode ser um espaço muito poderoso para todo mundo, principalmente para a criança e o adolescente começando a entrar na idade de puberdade, para pensar nas questões de sexualidade".
Para Butterman, os professores brasileiros precisam levar em conta a realidade do País: "O Brasil poderia encarar uma outra versão, diferente da ideia de queer, do seu próprio jeito". O pontapé inicial pode estar na criação do primeiro programa de mestrado na área, lançado neste ano pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Com início previsto para março de 2013, o objetivo do curso é formar profissionais da saúde e da educação que deverão abordar temas, como discriminação, violência sexual e homofobia com alunos da educação básica.

Fonte: Terra

Nenhum comentário:

Postar um comentário