segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Lição de cidadania

A estudante de 13 anos conseguiu melhorar sua escola depois de criar uma página no facebook denunciando os problemas

Na terça-feira passada, dia 28, a cúpula da Secretaria de Educação de Florianópolis se reuniu para resolver uma crise de imagem sem precedentes. Os problemas de uma das Escolas da prefeitura haviam sido expostos e viraram um dos assuntos mais comentados no país. Após o encontro, a diretora do colégio admitiu publicamente falhas de gestão – algo raro quando se trata de administradores. A secretária de Educação prometeu fazer as mudanças pedidas, depois de elogiar a denunciante. na quartafeira, a Escola já tinha bebedouro e lâmpadas novas, além de um banheiro reformado. na segunda- feira, será decidido o destino do Professor dematemática, alvo de queixas dos Alunos.
A responsável por essa movimentação verdadeiramente espetacular é Isadora Faber, uma estudante de 13 anos que mora com a família no Santinho, bairro ao norte da cidade de Florianópolis. no final das férias de julho, sua irmã lhe falou sobre Martha Payne, uma escocesa de 9 anos que fizera um blog com fotos das refeições servidas em seu colégio, acompanhadas de comentários críticos. A iniciativa de Martha atraiu milhares de fãs, incluindo o chef jamie Oliver. Isadora gostou da ideia e resolveu adaptá-la. já falara dos problemas de sua Escola para alguns Professores, mas nada havia mudado. Então ela criou o Diário de Classe, página no Facebook sobre a Escola Maria tomázia Coelho.Além dos textos, colocava fotos tiradas com o celular. Postava tudo de casa. “Essa é a porta do ‘banheiro feminino’ da nossa Escola que fica no Santinho. nem fechadura tem!!!”, foi seu primeiro post. Depois do banheiro, mostrou o ventilador, a fechadura, o refeitório, a lâmpada e a merenda, que só tinha quantidade para ocupar metade do prato. narrou o dia em que, das cinco aulas, só duas foram dadas pelos Professores titulares. Isadora sabia que logo mais começaria a demagogia das campanhas eleitorais.“Criei esta página porque agora começam os ‘senhores candidatos’ a mostrar coisas que nunca são verdade, Escolas de cenários!”, escreveu. Muita gente não curtiu. Os colegas disseram que não adiantaria nada.
Os Professores reclamaram. Uma delas, de português, mandou um recado na frente de todos os colegas durante uma “aula” sobre política e internet. Segundo Isadora, a Professora disse que ninguém deveria falar mal dos Professores porque eles também tinham muito do que se queixar dos Alunos.Amerendeira também fazia comentários irônicos ao vê-la: “lá vem a fotógrafa...”. A mãe dela, Mel Faber, produtora de vídeo, foi chamada pela diretoria da Escola. “Me pediram para tirar a página do ar. Respondi que não faria isso porque ela estava exercendo sua cidadania”, diz.A diretora afirma que só pediu que ela não pusesse imagens de Alunos, Professores e funcionários. Isadora continuou postando e ganhou apoio de gente que nem conhecia. na quinta-feira passada, o Diário de Classe já tinha sido curtido por mais de 175 mil pessoas de todoomundo.A história virou reportagem até no site do jornal francês Le Monde. Com a repercussão, a Secretaria de Educação foi obrigada a tomar providências. As críticas acabaram,e os colegas passaram a elogiar Isadora.
Para o Educador Mozart Neves Ramos, do Conselho nacional de Educação, iniciativas como a de Isadora são positivas porque mostram que a sociedade já entendeu que tem direito a ter não só acesso à Escola, mas a uma Educação de qualidade. De acordo com ele, a primeira opção dos Alunos deve ser reivindicar as mudanças internamente, para que o diálogo seja permanente e as mudanças aconteçam mais rápido. Esgotada essa tentativa, como foi o caso de Isadora, manifestações públicas são bem-vindas.

Fonte: Revista Época

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