segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Só 17% terminam o Fundamental com domínio da matemática

Apesar dos avanços em português e no ciclo inicial, um terço dos alunos do 9º ano não sabe sequer o que se esperaria deles na 5ª série do antigo 1º grau

Divulgados há três semanas, os resultados do Ideb, principal indicador da qualidade da Educação no Brasil, preocuparam o MEC principalmente pela estagnação do Ensino médio de 2009 para 2011. Dados obtidos pelo GLOBO junto ao Inep, autarquia do MEC responsável pelas avaliações, revelam, no entanto, que os problemas que resultam no quadro preocupante do antigo 2º Grau começam antes, já ao final do Ensino fundamental, onde o percentual de Alunos com conhecimento considerado adequado é de apenas 17% no caso de matemática e de 27% em língua portuguesa.
Além disso, em matemática, um terço dos estudantes que completa o fundamental registrou nos testes do MEC notas que os colocam abaixo até do que se espera para um Aluno do 5º ano, (4ª série do antigo primário). Os dados constam de um relatório feito pelo Inep com base no desempenho dos Alunos na Prova Brasil, testes de português e matemática aplicados a estudantes da rede pública que fazem parte do cômputo da nota final do Ideb, indicador que reúne essas médias com taxas de aprovação. 
Dito de outra forma, 83% dos jovens avaliados ao final do Ensino fundamental demonstraram saber menos matemática do que deveriam, o que significa que têm dificuldades para resolver problemas envolvendo porcentagens e frações. 
O cenário é menos pior no caso das provas de português e nos anos iniciais do Ensino fundamental. Nessa disciplina, o percentual de estudantes com nível adequado chega a 27% ao final do fundamental (antigo ginásio), sendo que um quinto registrou nível de conhecimento abaixo do que se espera até no 5º ano. 
Se o quadro ao final do Ensino fundamental é preocupante, a boa notícia é que, ao menos nos anos iniciais, a evolução foi significativa. Em dez anos, a proporção de Alunos com aprendizado adequado em matemática mais que dobrou, passando de 15% para 36%. Em português, a variação foi de 24% para 40%, o melhor resultado entre todos os níveis e disciplinas. 
Esse retrato da aprendizagem nas Escolas brasileiras leva em conta parâmetros de qualidade definidos pela organização não governamental Todos Pela Educação, a partir dos resultados da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação básica (Saeb), do MEC. 
Para a diretora executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, o quadro é grave. A meta estabelecida pela ONG para o ano de 2021 é que, até lá, 70% dos Alunos dominem os conteúdos adequados à série. 
- Existem duas dimensões: a velocidade do avanço e o resultado final. No avanço, estamos bem (nas séries iniciais). Temos conseguido avançar num ritmo superior ao de outros países. Mas o resultado final do Brasil é muito ruim. Todas as crianças têm o direito de aprender. Com 40%, a gente está muito atrás, perpetuando a desigualdade socioeconômica. Enquanto não resolvermos a questão da Educação, vamos continuar a ser uma sociedade desigual e injusta - diz Priscila. 
O presidente do Inep, Luiz Claudio Costa, elogia a iniciativa do Todos Pela Educação de estabelecer parâmetros de aprendizagem por série, mas lembra que esse critério não é oficial. Segundo ele, as metas perseguidas pelo governo dizem respeito à melhoria das notas médias na Prova Brasil e no Saeb. O governo trabalha para que o conjunto de estudantes brasileiros tenha desempenho semelhante ao da média de Alunos dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada majoritariamente por nações desenvolvidas. 
- Queremos chegar à média da OCDE. A gente tem expectativa de que, com essa taxa de crescimento, vamos alcançar as metas. E estamos lutando não só para alcançá-las, mas para superá-las - afirma Luiz Claudio.  
Aprendizado piora à medida que alunos avançam
Assim como retratado no Ideb, o que se verifica, analisando a distribuição dos Alunos pelos níveis de aprendizado, é que o avanço nos anos iniciais não se repete nos finais, especialmente em matemática. Uma das maneiras de se verificar isso é comparando os indicadores dos Alunos do 5º ano em 2007 com os dos que estavam, em 2011, no 9º ano, última série do Ensino fundamental. Em tese, fora repetência ou abandono de Escola, a geração que estava no 5º ano em 2007 deveria estar no 9º quatro anos depois.
Em 2007, por exemplo, o percentual de Alunos com aprendizado adequado em matemática era de 24%. Quatro anos depois, apenas 17% dos estudantes ao final do Ensino fundamental apresentaram, também em matemática, aprendizado considerado adequado pela escala do movimento Todos Pela Educação. 
A mesma conta no caso das provas de português revela quadro menos ruim, mas sem avanços. Se 28% dos Alunos do 5º ano tinham aprendizado adequado em português, em 2007, quatro anos depois, a geração que estava no 9º ano registrava proporção de adequados de 27%. 
Para poder fazer esses cálculos e aplicar o conceito de adequação do movimento Todos Pela Educação, é preciso analisar a distribuição dos estudantes pelos diferentes níveis de aprendizado nos testes de português e matemática da Prova Brasil. O Inep, órgão do MEC responsável pelas avaliações, informou que esses dados ainda não estão prontos para o Ensino médio porque, neste nível de Ensino, os testes são aplicados apenas em uma amostra de Alunos.

Fonte: O Globo (RJ)
http://www.todospelaeducacao.org.br

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