quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Nos extremos do Ideb, as boas e as más lições

Redes que obtiveram grandes saltos de qualidade ou quedas expressivas tentam explicar o que aconteceu

As notas do Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) 2011 no Ensino médio deixaram exposta a crise que o país enfrenta: nove estados pioraram de 2009 a 2011. Mas as notas trouxeram também uma boa surpresa. O Amazonas, pior estado em 2005, deu salto de 1,1 ponto em seis anos: deixou de ser o lanterninha com 2,4 e cravou 3,5 agora. Não foi o único bom exemplo: nos anos iniciais do fundamental, o Ceará foi de 3,2 em 2005 para 4,9. Nos anos finais, Mato Grosso subiu 1,4 ponto.
Diretor de Políticas e Programas Educacionais do Amazonas, Edson Melo, que por mais de sete anos foi gerente do Ensino médio, diz que "a política da continuidade" teve seu papel, mas que o investimento nos profissionais e na gestão Escolar foi fundamental para o salto. 
- Investimos na formação dos Professores, capacitamos os diretores em gestão Escolar, abrimos concurso e trabalhamos para que os Docentes se fixassem numa única Escola e não mais em várias - diz Melo, destacando que o estado diminuiu o número de Professores leigos, aqueles formados, por exemplo, em Economia e que dão aula de Matemática: - E criamos, em 2006, um simulado anual. 
O Amazonas tem pouco mais de 155 mil Alunos no Ensino médio; 50% no turno noturno, considerado por especialistas em Educação um dos entraves do Ensino médio. Ciente dos problemas - menos horas de aula, Alunos cansados, cobrança menor -, Melo diz que o estado busca diminuir esse índice: 
- Temos 560 Escolas, mas atendemos também os Alunos do fundamental, que acabam ocupando os prédios de dia. Para o Ensino médio, são 280 Escolas. Precisamos de mais 20, pelo menos, para reduzir o número de estudantes à noite. 
No Ceará, Izolda Cela, secretária de Educação do estado, cita o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), que garante que crianças aprendam a ler até os 7 anos e que foi criado em Sobral, cidade que se destacou na Educação: 
- Garantida a Alfabetização, lançamos o Paic+5, que foca as cinco séries do fundamental. 
Por todo o país, pequenos municípios tiveram grandes avanços nos anos iniciais. No Paraná, o Ideb de Nova América da Colina saltou de 1,2 em 2005 para 5,5 em 2011. A cidade tem duas Escolas municipais e só a Francisco Escorsin, com 288 Alunos no fundamental I, participou do Ideb. 
- Aqui são só a sala de aula, o Professor e o Aluno. Não temos laboratórios ou mural nas salas porque ocupamos uma Escola estadual. Mas o investimento no estudante começa na Educação infantil. Em 2011, conseguimos fazer com que 100% dos Professores concluíssem o curso de Pedagogia - conta a diretora Ana Rogarti. - Oferecemos reforço, envolvemos os responsáveis e criamos ambiente de leitura. Nosso Ideb subiria mais se não houvesse a limitação do espaço físico. 
Com 18 Escolas municipais, Mucambo, a mais de 300 quilômetros de Fortaleza, pulou de um Ideb de 3,5 em 2005 para 7,5 em 2011, aumento de 114%. O investimento no Professor - o que Mucambo levou da experiência em Sobral, a maior entre as cidades vizinhas - foi o que mais contribuiu, aponta o secretário municipal de Educação, Francisco Carlos Brito de Azevedo. 
- Muitos Professores não tinham como se deslocar para Sobral; decidimos oferecer aulas aqui. Hoje, quase 100% dos 250 Professores da rede têm nível superior - diz o secretário, destacando ainda que o aumento salarial fez parte da política de valorização. - Também apostamos no projeto Alfabetização na Idade Certa e no controle de frequência, com aumento no número de veículos de transporte, criamos avaliações internas. Além disso, mais de 90% das Escolas têm biblioteca. 
Claraval (MG), com o melhor Ideb do país - 8,3 -, apostou na experiência de Professores mais antigos. O pacote incluiu ainda incentivo à participação dos pais, acompanhamento de psicólogos e fonoaudiólogos, investimento em cursos para Professores e reforma das Escolas. 
- Investimos mais que o obrigatório (25%) em Educação: 33,6% do orçamento. E temos transporte Escolar que busca praticamente todos em casa. Ninguém chega cansado - diz Rita de Freitas, secretária municipal de Educação. 
Mas o avanço ainda convive com péssimos resultados: em Alagoas, o Ensino médio da rede estadual teve o pior Ideb (2,6) e piorou em relação a 2009 (2,8). 
O estado enfrenta uma crise na Educação que se arrasta desde 2011, quando se anunciou a reforma emergencial de 163 Escolas. O problema é tão grave que os Alunos da Escola estadual Rosalvo Lobo começam hoje as aulas de 2012, em tendas no pátio de outro colégio. O Ministério Público abriu investigação e flagrou superfaturamento nas obras e outras irregularidades. Nos últimos dez anos, Alagoas teve 11 operações da Polícia Federal: a maioria sobre desvios na Educação. 
- Nos últimos governos não tivemos continuidade de políticas - diz Sandra Regina Paz, conselheira municipal de Educação: - Neste ritmo, é difícil dizer quando Alagoas terá nota azul.  
Cidade que liderou Ideb em 2005 não conseguiu manter bons resultados
Com seus 5,2 mil habitantes e encravada no Vale do Ribeira, a região mais pobre de São Paulo, Barra do Chapéu virou estrela nacional quando apareceu em primeiro lugar no Ideb em 2005. Os bons resultados renderam reportagens que a retrataram como receita de sucesso. Sete anos depois, o município vive um choque de realidade: sua média caiu de 6,8 para 4,8. A notícia chegou como uma bomba e fez chorar professoras com mais de 30 anos de carreira.
Professora de uma das turmas campeãs de 2005 na escola Leonor, e cuja nota chegou a aumentar em 2007 para 6,9, a secretária de Educação da cidade, Vânia Meire Valentim de Lima, se reuniu com as coordenadoras e supervisoras de ensino para localizar os problemas da rede municipal, que hoje atende 671 alunos do primeiro ao quinto ano em sete escolas, a maioria na zona rural.
— Sabíamos que não atingiríamos a meta para o ano, que era de 7,3, mas não esperávamos esse resultado. Vamos fazer o replanejamento — diz Vânia Valentim de Lima, secretária de Educação da cidade e que, em 2005, era professora da escola Leonor Mendes de Barros quando ela atingiu Ideb 6,9.
Na análise das coordenadoras de educação do município, um dos problemas é que, dos 22 professores titulares da rede, cinco estão fora das salas, em cargos de confiança. No ano passado, houve ainda duas baixas temporárias por licença-prêmio e de saúde.
A supervisora pedagógica da cidade, Neuza Sardi Werneque, que já foi secretária de Educação de Barra do Chapéu, se emociona ao falar das notas do Ideb, que havia acabado de receber, na quinta-feira.
— Não sei o que aconteceu. Não faltaram recursos. Os professores hoje são mais bem-formados. Todos têm graduação e muitos, pós-graduação. A escola tem aulas de reforço, laboratório de informática, biblioteca, bonificação para professores — afirmou.
Neuci Gonçalves de Lima, diretora da escola Leonor, também se emociona ao falar sobre a baixa nota do Ideb:
— Fiquei chateada, e muito. A escola não tem evasão, não falta professor. Precisamos sentar e rever cada detalhe.
Mas a secretária Vânia Meire admite:
— Na verdade, este é o resultado justo. Em 2005, de duas classes de 30 alunos, os 15 melhores de cada turma fizeram a prova. No ano passado, não. Foram os 53, sendo que nove alunos tem problemas psicológicos confirmados por laudo — afirmou.
Na análise de Vânia Meire, o fato de só os melhores alunos terem feito a prova em 2005 pode ter causado uma distorção da realidade de Barra do Chapéu e gerado uma expectativa mais alta em relação às metas do MEC.
A nota 4,8 do último Ideb, para a professora Gisele de Brito Ferreira Santos, que trabalha na escola Leonor desde 2003, tem outra resposta: falhas na gestão. Ela e um grupo de professores queixam-se de falta de planejamento e de pouco incentivo à participação dos docentes na gestão escolar.
— Antes a gente se preparava para fazer esses testes. Havia mais diálogo, preparação, o professor era mais valorizado e o aluno era mais avaliado, analisado — disse a professora, que foi avisada sobre o fraco desempenho da escola pela reportagem do jornal:
— Veja só, ninguém fez ainda reunião com os professores para dar essa notícia e nem mesmo divulgar qual foi a nota do Saresp.
A secretaria de Educação negou que tenha deixado de avaliar os alunos, mas admitiu que vai ampliar as avaliações para identificar as principais habilidades e dificuldades individuais.
No entanto, das lições que podem ser tiradas em Barra do Chapéu, talvez a mais importante é que é preciso cautela na análise do resultado de cidades muito pequenas antes de mostrá-las como receitas de sucesso.
—Em cidades muito pequenas, geralmente as redes se resumem a uma ou duas escolas. Uma simples troca de um professor numa turma pode afetar o desempenho final de todo o município, que está mais sujeito a flutuações expressivas— diz Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Inep na gestão em que o Ideb foi criado.

Fonte: O Globo (RJ)

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