sexta-feira, 19 de julho de 2013

JOGOS E INTERAÇÃO FAZEM TURMA SUPERAR DIFICULDADES COM OS NÚMEROS

Divulgação/Fundação Victor Civita

Educadora do Pará foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10 de 2012

No início do ano letivo de 2012, um grande desafio esperava pela professora Luciane Fernandes na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professor Raimundinho, em Marabá, interior do Estado do Pará: entre os 34 alunos de uma turma de 4.º ano, 30 não dominavam os conhecimentos matemáticos adequados à série.

“Depois de um diagnóstico inicial dos alunos, deparei-me com a triste, mas comum realidade. Muitos tinham grandes dificuldades em matemática. Confesso que fiquei preocupada e sem saber por onde começar”, lembra Luciane. Diante do quadro negativo e quase desanimador, a professora decidiu traçar um plano de ação para trabalhar as dificuldades dos alunos.

Guiada por questões como “O que fazer para que os alunos compreendam melhor o conteúdo?” e “Como fazer a matemática ter sentido e despertar o interesse das crianças por ela?”, a educadora buscou na literatura sobre o assunto soluções e estratégias para tornar as aulas significativas para os estudantes. E encontrou o que procurava nos escritos da psicóloga e especialista em matemática para crianças Constance Kamii. Assim, Luciane planejou uma sequência didática na qual os próprios alunos foram encorajados a pensar e a construir conhecimentos, por meio da organização dos próprios pensamentos, concretizados em registros e relatos. Para isso, ela utilizou jogos didáticos que envolveram todos os alunos da turma.

A ideia de Luciane garantiu a ela o Prêmio Educador Nota 10 do ano passado. Ela e outros dez educadores foram homenageados nessa edição (para saber mais sobre a premiação, clique aqui).

O primeiro passo: a avaliação 
Ao assumir a turma, a primeira atitude de Luciane foi elaborar uma avaliação diagnóstica. Por meio de uma atividade com situações-problema, a professora conseguiu mapear três perfis da turma. Seu objetivo era compreender o desnível de conhecimento apresentado entre os estudantes.

No primeiro nível foram agrupados alunos com grande dificuldade, que não sabiam, por exemplo, identificar números de 1 a 50 e que também não foram capazes de resolver as situações propostas na avaliação. No segundo nível, estavam os estudantes que identificavam números de 1 a 100, mas desconheciam alguns termos matemáticos e, por isso, não conseguiram resolver os problemas. Por fim, no nível três, encontravam-se os estudantes que, apesar de algumas dificuldades, conseguiram resolver os problemas e estavam, portanto, à frente da maioria da classe.

Gincana Matemática
Inspirada pelos livros Jogando com a matemática: números e operações (Ana Ruth Starepravo, Ed. Aymara, 34 reais) e A criança e o número (Constance Kamii, Ed. Papirus, 31 reais), Luciane criou uma sequência didática para vencer as dificuldades dos alunos, baseada no uso de jogos. “A principal meta era criar um espaço para que os alunos tivessem oportunidade de vivenciar situações desafiadoras”, explica ela.

Divididos de acordo com o nível de dificuldade, os alunos participaram de jogos que exigiam cálculos matemáticos. As atividades escolhidas pela professora foram: boliche, dados e argolas. “Ao término de cada jogo, os alunos socializavam suas opiniões e registravam aquilo que haviam achado mais fácil ou mais difícil no jogo, sempre justificando as respostas”, explica Luciane. “Em seguida, os mais extrovertidos expunham para a classe e depois todos colavam seus registros no mural da sala.”

Após esse primeiro contato dos alunos com os cálculos matemáticos, Luciane preparou uma segunda etapa composta por atividades em dupla, durante as quais os alunos tinha de trocar ideias sobre suas estratégias para resolver situações-problema, também envolvendo os jogos. “No início foi difícil fazê-los expressar a forma como pensavam, mas, no decorrer das aulas, foram ficando cada vez mais à vontade.”, conta.

As situações envolviam, por exemplo, hipóteses de resultados incompletos de jogos de dados, sobre os quais a dupla deveria refletir matematicamente e tecer análises.

Por fim, a última etapa da sequência consistiu na elaboração, por parte dos alunos, de problemas envolvendo os jogos aprendidos. Cada aluno criou cinco problemas, que deveriam ser resolvidos pelo colega de dupla.

Resultados e dificuldades
Concluída a sequência didática, a professora identificou que os alunos já não faziam mais os questionamentos primários sobre conceitos matemáticos de outrora, pois haviam absorvido os conteúdos ao longo das atividades.

“Durante as tarefas, foi muito interessante perceber o crescimento dos alunos ao usar termos matemáticos que antes não conheciam e também observar a preocupação deles em saber se o colega tinha informações suficientes para conseguir resolver as situações”, rememora Luciane.

A educadora pondera que os alunos classificados no nível 1 ainda precisam de um acompanhamento mais apurado, mas que, de modo geral, a autonomia no pensamento matemático que a turma ganhou foi visível. “Entendo que a sequência ofereceu a eles segurança. As dúvidas sempre existirão, porém são dúvidas de quem está aprendendo mais a cada dia. A comparação do diagnóstico inicial com o desempenho atual me deixou com sentimento de tarefa cumprida”, afirma Luciane.

Ela observa que, além dos problemas matemáticos de seus alunos, teve que lidar com problemas de ordem estrutural: a maior dificuldade para a realização das atividades foi a falta de espaço na escola. “Os jogos eram sempre realizados dentro da sala de aula, pois não havia outro lugar”, afirma.

Letras e números
Nascida em Eldorado (MS), Luciane se mudou para Marabá aos 8 anos de idade. Embora tenha se formado em Letras, ela preferiu os problemas matemáticos aos exercícios de português. “Escolhi a matemática porque é uma disciplina sobre a qual os alunos têm muita dificuldade”, explica.

Lecionando há mais de 15 anos, a professora conta que, devido à confiança com que transmitiam o conhecimento, docentes do período em que cursou Magistério e faculdade lhe serviram de inspiração para o trabalho de educadora. Para ela, ensinar crianças pequenas é um desafio. “Assim como têm ritmos de aprendizagem diferentes, elas também têm dificuldades diferentes”.

Luciane acredita que um ensino de matemática que proporcione a autonomia do aluno exige um professor que se atualize. “O que falta é o professor reconhecer que precisa estar sempre pesquisando pra que os alunos aprendam e tenham um ensino de qualidade”.

Apesar dos bons resultados obtidos junto à turma do 4º ano do Professor Raimundinho, a educadora acredita que precisa se aprimorar a cada dia. “Quero tornar minhas aulas cada vez mais significativas e, ao final dessa jornada, olhar para trás na certeza de que fiz um bom trabalho”.

Para ver um vídeo sobre o projeto de Luciane, clique aqui.

Pricilla Honorato
http://www.todospelaeducacao.org.br

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