sexta-feira, 19 de julho de 2013

MESTRADOS SEMIPRESENCIAIS BENEFICIAM DOCENTES DA REDE PÚBLICA

Carreiras de letras e matemática são pioneiras no gênero

Os professores da rede pública de ensino contam com dois mestrados profissionalizantes stricto sensu, com aulas no formato semipresencial e abrangência nacional. Os mestrados em letras e matemática são pioneiros no gênero e ambos são gratuitos.

Com dois anos de duração, o Profmat é dirigido aos docentes de matemática, que podem continuar lecionando enquanto cursam o mestrado. As primeiras turmas concluíram o programa em abril/maio, sendo 405 formados que obtiveram a titulação de mestres. Em julho/agosto próximos, serão mais 500.

Além de um acréscimo salarial após ter concluído o Profmat neste ano, a professora Raquel Oliveira Bodart, 38, também encontrou motivação extra para se engajar em novos projetos de matemática.

O Profmat prioriza 80% das vagas para os professores que já lecionam na rede pública e o restante para quem tem uma graduação, explica Marcelo Viana, da SBM (Sociedade Brasileira de Matemática), responsável pelo programa.

Há várias instituições de ensino envolvidas, mas, em geral, as aulas presenciais ocorrem em um dia da semana, que pode ser na sexta, no sábado ou no domingo, dependendo da disponibilidade dos discentes. Durante um mês, também é realizado um intensivo presencial, no período de verão, para que as aulas do mestrado não interfiram na atividade regular do professor.

Os discentes podem ainda pedir auxílio financeiro a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), cuja bolsa de estudo é de R$ 1.500.

"A bolsa permite que os professores abram mão de alguns empregos para dar continuidade ao mestrado", explica Viana, "mas eles não podem se desligar do trabalhão realizado na rede pública".

O professor Júlio Cezar Marinho da Fonseca, 28, calcula que gastava, em média, R$ 450 com cada viagem semanal entre a sua cidade Parintins e a do polo de ensino em Manaus. "A bolsa de estudo, que na época era de R$ 1.350, não dava para todas as passagens, mas se não tivesse o benefício, não conseguiria terminar o mestrado."

As atividades a distância são realizadas pelo sistema Moodle e podem ser acessadas de qualquer lugar, inclusive nos polos presenciais do programa. A medida é necessária para cobrir o déficit em regiões do Brasil onde o acesso à internet é extremamente precário.

Na próxima seleção, em agosto, são estimadas 1.500 vagas em 69 polos de ensino.

Letras
Com duração de dois anos, o Profletras é voltado a professores de língua portuguesa da rede pública e também utiliza o sistema Moodle para atividades a distância.

O programa tem como diferencial estabelecer a área de concentração de estudo dos mestrandos em Linguagens e Letramentos, que cobre duas linhas de pesquisa – uma delas é teoria da Linguagem e Ensino e a outra, Leitura e Produção Textual: diversidade social e práticas docentes.

As provas de admissão para a formação das primeiras turmas estão em andamento, sendo exigido dos candidatos que eles tenham curso superior de licenciatura em letras, habilitação em português, além de ser professor e estar lecionando em escolas públicas, nível fundamental (1º ao 9º anos), de forma permanente.

Há 12.478 professores de português concorrendo a 854 vagas oferecidas em todo o Brasil. Serão 34 instituições de ensino federais e estaduais, totalizando 39 polos no país.

"O curso tem que capitanear os polos de ensino no interior do Brasil para capacitar os professores de língua portuguesa em nível nacional", diz a coordenadora do Profletras, Maria das Graças Soares Rodrigues.

A Capes ainda não anunciou se destinará bolsas de estudo para o Profletras nos mesmos moldes do Profmat. "A promessa é que teremos esse auxílio financeiro para oferecer aos discentes", diz a pró-reitora de pós-graduação da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Edna Maria da Silva, responsável pelo programa.

Mestrado semipresencial ampliou minha área de atuação, diz professora
A professora Raquel Oliveira Bodart, 38, cursava mestrado acadêmico em engenharia elétrica na UFU (Universidade Federal de Uberlândia), em Minas Gerais, quando largou o curso para dar prioridade ao Profmat em 2011. "Era minha área de formação e o mestrado profissionalizante em matemática era tudo que eu desejava fazer", conta.

Trabalhando na rede pública de ensino desde os 18 anos e licenciada em 1996, ela faz parte das primeiras turmas de professores a se formar pelo Profmat, mestrado profissionalizante stricto sensu em matemática com aulas semipresenciais.

O programa, além de ser gratuito, beneficia os professores da rede pública de ensino e tem abrangência nacional.

Durante um ano, Raquel cursou as disciplinas em aulas presenciais no polo de ensino da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) em Uberaba e fez atividades a distância pelo sistema Moodle.

Além de um aumento salarial em torno de 30% após ter concluído o Profmat, Raquel cita como um dos grandes ganhos profissionais a mudança na metodologia de ensino e um forte desejo de fazer algo mais em prol da melhoria do ensino de matemática na educação básica.

"A abordagem da disciplina é diferente. Isso acontece porque agora tenho outra visão do conteúdo e de como ele pode ser passado aos estudantes."

Uma das vantagens do Profmat é permitir ao discente manter as aulas que dão na rede pública enquanto está estudando. Somente no seu último ano é que a professora pediu licença de trabalho no IFTM (Instituto Federal do Triângulo Mineiro), onde dava aulas, para se dedicar à dissertação e à conclusão do mestrado.

Além disso, Raquel foi beneficiada com uma bolsa de estudo da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que inicialmente era de R$ 1.200 e, posteriormente, passou para R$ 1.350 – o valor atual é de R$ 1.500.

A ajuda de custo é oferecida principalmente tendo em vista os professores que moram em regiões distantes dos polos de ensino e têm gastos com o deslocamento. "A minha turma com 15 mestrandos, apenas três eram de Uberaba. Havia um colega que morava a 800 quilômetros de distância."

Além de obter o título de mestre, surgiram outras oportunidades na carreira. Entre as novas atividades que tem conduzido, a professora cita o trabalho que está sendo feito a partir da criação de grupos de alunos que se preparam para a Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática do Ensino Público) no IFTM, campus Uberaba.

Raquel ainda está engajada em uma das iniciativas do projeto Klein, voltada ao ensino de matemática para estudantes que frequentam do 6° ao 9° ano do ensino público.

Ela diz que a iniciativa interessou o MEC (Ministério da Educação) e futuramente será digital, com a participação de outros professores que concluíram ou cursam o Profmat, juntamente com professores de universidades públicas.

"A ideia é que o professor do Profmat seja absorvido por outras atividades que ultrapassem o ensino", conta ela, que também está à frente da organização do primeiro Simpósio Nacional da Formação do Professor de Matemática, que acontece em setembro, em Brasília.

Professor usou barco, lancha e avião para poder concluir mestrado 
Júlio Cezar Marinho da Fonseca, 28, está entre os primeiros professores a concluir o mestrado profissionalizante stricto sensu em matemática com aulas semipresenciais, o Profmat. O programa, além de ser gratuito, prioriza os professores da rede pública de ensino e tem abrangência nacional.

Para se formar, ele teve de atravessar cerca de 420 quilômetros que separam Parintins, município amazonense onde mora, à margem do rio Amazonas, e o polo de ensino da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), em Manaus, onde eram dadas as disciplinas presenciais. "Era uma luta constante assistir às aulas", conta.

"Primeiro comecei indo de barco, o que demorava cerca de 20 horas de viagem. Saía de casa em Parintins na quinta-feira à noite e chegava a Manaus na manhã de sábado para ter aulas o dia inteiro. Para voltar, o problema era maior. Não tinha barco no domingo e nem lancha para Parintins. A minha única opção era voltar de avião, porque na segunda-feira tinha que dar aula", conta.

"Quanto o barco estava lotado, viajava de lancha na sexta-feira, com tempo de viagem menor, que caía para aproximadamente 12 horas, mas a volta continuava sendo de avião. Gastei com alimentação, e só não paguei hotel porque tenho um irmão que mora em Manaus."

O professor calcula que gastava, em média, R$ 450 com cada viagem semanal, custo que poderia aumentar durante a Festa Folclórica de Parintins, com passagens aéreas mais caras no período. "A bolsa de estudo, que na época era de R$ 1.350, não dava para todas as passagens, mas se não tivesse o benefício, não conseguiria terminar o mestrado."

Com dez anos de carreira no ensino e licenciatura obtida em 2007, Júlio Cezar virou professor da rede pública no ano de 2008. Recentemente, foi aprovado em primeiro lugar no concurso da UEA (Universidade do Estado do Amazonas) para se tornar efetivo de matemática.

"Acredito que mina formação profissional teve um acréscimo de qualidade de ensino e de conteúdo em 100%", opina ele sobre o Profmat. "Tive a oportunidade de ver o que o resto do país estuda e estar usando tudo que aprendi no ensino de matemática."

Segundo o professor, se o curso não fosse semipresencial, ele não o teria feito. Hoje, Júlio Cezar está aplicando técnicas de ensino que aprendeu no Profmat em dois projetos de extensão para o ensino de matemática na comunidade. Também está à frente de um curso de aritmética para alunos do 6° ano das escolas periféricas de Parintins.

"Passei a ser referência no ensino desde a conclusão do Profmat, visto que não havia mestres em matemática na minha cidade. Tenho dois de meus ex-alunos fazendo o mesmo curso. Os professores da cidade perceberam que é possível fazer mestrado e mudar a nossa história", afirma.

Fonte: UOL Educação
http://www.todospelaeducacao.org.br

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