sexta-feira, 19 de julho de 2013

PELA WEB, UMA REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO

Sites especializados tentam entender demanda por Educação online no Brasil

Cresce a procura de brasileiros por cursos online gratuitos, feitos por Professores de universidades renomadas de todo o mundo, e que atingem até dezenas de milhares de usuários que se organizam em fóruns para trocar informações e aprender juntos

Foi para aprofundar o conhecimento em legislação e comércio internacional que o estudante de Contabilidade Nicolas Sousa decidiu explorar uma nova forma de aprendizado que tem atraído cada vez mais brasileiros na internet. Sites que reúnem cursos online gratuitos – como o Coursera, Udemy, EdX, Udacity e o brasileiro Veduca – estão expandindo a oferta de cursos de renomadas universidades não apenas do Brasil, mas principalmente dos Estados Unidos e da Europa.

O curso escolhido por Nicolas Sousa (A legislação da União Europeia: Uma Introdução) é dado por um Professor de Direito da Universidade de Leiden, na Holanda. “Trabalho em uma gestora de fundos de investimento e achei interessante aprender mais sobre legislação, comércio e finanças, além de praticar o inglês”, diz Sousa, que estuda na USP.

As aulas são dadas no Coursera, um dos sites pioneiros na área. Segundo o fundador, Andrew Ng, em abril o Brasil era o quarto país em número de usuários (4% do total). “Houve um crescimento de 167% na quantidade de brasileiros nos últimos seis meses”, disse ele ao Link.

A presença do País também é percebida por outros. “Os brasileiros são a terceira maior demografia de cursos online, mostrando um grande apetite por conteúdo educacional”, disse Amin Saberi, cofundador do NovoEd, plataforma que reúne aulas da Universidade Stanford, principal instituição do Vale do Silício.

É para atender a esta demanda por uma Educação de qualidade que surgem também no Brasil sites especializados nos chamados Moocs (sigla em inglês para “cursos online abertos e massivos”).

O Professor e pesquisador João Mattar foi o pioneiro. No ano passado, criou com o Professor Paulo Simões um curso com a proposta de estudar e reconstruir a história da Educação a Distância. A experiência bem-sucedida abriu espaço para uma segunda aula, de Língua Portuguesa. “Fizemos um teste para ver o interesse das pessoas e fomos surpreendidos. Tivemos 5 mil inscrições”, diz.

O site Veduca lançou recentemente dois cursos do tipo (Física Básica e Probabilidade & Estatística) em parceria com Professores da USP. O Veduca foi criado no ano passado pelo engenheiro Carlos Souza e reúne videoaulas de diversas universidades.

Agora o objetivo é lançar pelo menos outras dez disciplinas de Professores brasileiros até o fim do ano, incluindo na área de Humanas. “Colocamos conteúdos mais adequados às necessidades brasileiras, que prepararam profissionais para os setores da economia com falta de qualificação”, diz Souza. Segundo ele, os cursos tiveram 6 mil inscritos, acima da expectativa de 5 mil.

O Professor titular Vanderlei Bagnato, do Instituto de Física da USP de São Carlos (SP), é o responsável pelo curso de Física no Veduca e mostra entusiasmo com o formato. Para ele, profissionais e pesquisadores que dependem de conhecimentos de outras áreas são beneficiados. “Seria extremamente útil que os ciclos básicos das universidades estivessem disponíveis online”, afirma Bagnato, que também é coordenador da Agência USP de Inovação.

Definição

Pelo menos desde 2001 a internet é usada para hospedar aulas online em vídeo, quando o Massachusetts Institute of Technology (MIT) criou um programa para distribuir o material na web. O modelo também foi adotado pela Apple no iTunes U e por outros sites que hospedam videoaulas. A USP também tem um site do tipo, o eAulas.

Mas o formato de cursos para a web é novo e virou oportunidade de negócio para empreendedores da área de tecnologia. Por causa disso, o jornal The New York Times disse que 2012 foi “o ano dos Moocs”.

O que define um Mooc é que o curso, além de gravado em vídeo, está disponível gratuitamente para milhares de usuários. Em alguns casos, há certificados de conclusão.

Por causa da variedade e da facilidade, as pessoas têm visto neles uma forma de estudar áreas diferentes. “Hoje é preciso adquirir novas habilidades o tempo todo para poder resolver problemas. Nesse cenário, os Moocs abrem a possibilidade de você se atualizar”, diz Martha Gabriel, autora do livro Educ@r.

Outro ponto alto é a possibilidade de se relacionar em escala global. “Os Alunos vêm de vários países, têm perfis e profissões diferentes. As comunidades se reúnem em fóruns e redes sociais”, diz a pesquisadora Juliana Marques, que criou o blog Mooc Experience como parte de seu mestrado na Universidade de Amsterdã.

Para Steve Joordens, Professor do curso de Introdução à Psicologia do Coursera, o alto interesse dos Alunos é positivo. Porém, há desafios para que o modelo se firme. “Para aproveitar, você tem de valorizar o aprendizado pelo aprendizado. Mas algumas pessoas não veem um benefício concreto em troca”, diz.

Para Juliana Marques, também é preciso melhorar a forma de Ensino. “Muitos Alunos reclamam que não conseguem acompanhar tudo. E outro problema é que muitos Professores ficam inacessíveis.”

À medida que os Moocs evoluírem, os problemas devem ser amenizados. “Uma vez que os Professores percebam que é possível ensinar pela web, a demanda por Moocs vai aumentar”, diz Saberi, do NovoEd.



Plataforma vai muito além do formato videoaula
É fácil perder-se entre a enorme oferta de videoaulas disponível na internet e, por melhores que sejam os cursos, o desafio inicial é entender a lógica dos sites que os oferecem. Depois de ouvir falar sobre o Coursera, decidi explorá-lo. Feito o cadastro, você vê uma lista de cursos à disposição – na semana passada eram 389. Um me chamou a atenção, sobre história da internet, e fiz a inscrição, gratuita.

A surpresa foi descobrir que no Coursera, assim como em outros sites, as aulas têm duração definida (cinco semanas, dez semanas). E, para garantir o certificado de conclusão, é preciso seguir as atividades dentro dos prazos. A aula que eu escolhi já estava na terceira ou quarta semana. Assisti a dois vídeos até descobrir que não poderia mais receber o certificado, o que foi desanimador. Decidi procurar outra opção, para acompanhar desde o começo.

Cada curso tem uma página própria, com vídeos de duração entre 3 a 20 minutos. Para cada semana há até dez vídeos que, somados aos materiais extras, exigem dedicação constante. Muitos não conseguem acompanhar. Aos poucos, porém, reservei um horário para assistir aos vídeos e peguei o ritmo.

Há também formas de interação entre os Alunos, em fóruns e redes sociais. Para mim, essas atividades pareceram sem graça, mas Alunos mais participativos organizam até encontros para estudar.

A experiência tem sido muito boa. O curso é realmente interessante e tem uma abordagem didática, apesar de um pouco superficial, mas acho que a ideia é que o Aluno procure mais sobre o que lhe interessa. De qualquer forma, as aulas mostraram que é possível aprender dessa maneira, com ou sem certificado, e me incentivaram a buscar outras disciplinas. Já são cinco na lista.



‘Os Moocs ajudam a melhorar o ensino tradicional’
Qual o lado bom e o ruim do Ensino em massa pela internet?
O ponto positivo é que a internet permite compartilhar o conhecimento. Meu primeiro vídeo teve 100 mil visualizações. Antes eu ensinava para classes de no máximo 400 Alunos. Ou seja, demoraria 250 anos para atingir esse número. O ponto negativo é que é muito trabalhoso criar conteúdo.

Qual o interesse dos Professores por esse tipo de Ensino?
A maioria é entusiasta. Os Moocs (Cursos Online Abertos e Massivos) são uma forma de melhorar o Ensino tradicional, porque o Aluno pode assistir à aula online e ir para a classe preparado para discussões mais profundas. Perguntam-me por que alguém investiria para se formar em uma universidade se pode assistir à aula de graça. A resposta é que os Alunos não vão à universidade por causa da aula, mas em razão das discussões e interações.

Qual é o desempenho dos Alunos dos cursos?
É complicado medir. Muitos se inscrevem em uma aula, assistem religiosamente a todos os vídeos, mas não entregam nenhum exercício. Por isso consideramos que ele não completou o curso. Só 7% terminam com sucesso. Mas, se o Aluno faz o primeiro exercício, aumenta em 42% a chance de fazer os demais. O bom é que os Moocs são uma oportunidade para as pessoas experimentarem outras áreas sem risco.

A credibilidade desses cursos é questionada. Como o mercado vê os Moocs nos EUA?
Há dois anos, havia essa preocupação, mas isso mudou porque as melhores universidades do mundo estão oferecendo seus melhores cursos.

Os Moocs substituem o Ensino tradicional?
Pense no seu Professor favorito. Por que gostava dele? Quando penso no meu, a resposta é que ele era generoso respondendo às minhas perguntas. Não acho que ele pode ser substituído pelo computador. O que fazemos é usar a tecnologia para livrar o Professor do trabalho repetitivo para gastar o tempo com outras coisas importantes. Odiaria que Moocs atrapalhassem a relação entre os Alunos e Professores.


Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)
http://www.todospelaeducacao.org.br

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